quinta-feira, 26 de junho de 2008

Álvaro de Campos

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como o quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!

- novo companheiro, nova paixão. Monopolizou noites e noites da minha vida esta semana. Mas ganhou um espaço eterno em meu coração. Ele é meu e eu sou dele. Álvaro, meu querido, amo-te!

Textos de Quinta

Contardo diz o que você pensa e não consegue organizar em palavras. Nesse caso, é pró-silêncio, same as me.
Obrigada por me entender, ConCa - Homem Redundância!

Amores silenciosos

--------------------------------------------------------------------------------
A gente se declara apaixonado porque está apaixonado ou pelo prazer de se apaixonar?
--------------------------------------------------------------------------------



FAZER E RECEBER declarações de amor é quase sempre prazeroso. O mesmo vale, aliás, para todos os sentimentos: mesmo quando dizemos a alguém, olho no olho, "Eu te odeio", o medo da brutalidade de nossas palavras não exclui uma forma selvagem de prazer.

De fato, há um prazer na própria intensidade dos sentimentos; por isso, desconfio um pouco das palavras com as quais os manifestamos. Tomando o exemplo do amor, nunca sei se a gente se declara apaixonado porque, de fato, ama ou, então, diz que está apaixonado pelo prazer de se apaixonar.

Simplificando, há duas grandes categorias de expressões: constatativas e performativas.

Se digo "Está chovendo", a frase pode ser verdadeira se estamos num dia de chuva ou falsa se faz sol; de qualquer forma, mentindo ou não, é uma frase que descreve, constata um fato que não depende dela.

Se digo "Eu declaro a guerra", minha declaração será legítima se eu for imperador ou será um capricho da imaginação se eu for simples cidadão; de qualquer forma, capricho ou não, é uma frase que não constata, mas produz (ou quer produzir) um fato. Se eu tiver a autoridade necessária, a guerra estará declarada porque eu disse que declarei a guerra. Minha "performance" discursiva é o próprio acontecimento do qual se trata (a declaração de guerra).

Pois bem, nunca sei se as declarações de amor são constatativas ("Digo que amo porque constato que amo") ou performativas ("Aca- bo amando à força de dizer que amo"). E isso se aplica à maioria dos sentimentos.

Recentemente, uma jovem, por quem tenho estima e carinho, confiava-me sua dor pela separação que ela estava vivendo. Ao escutá-la, eu pensava que expressar seus sentimentos devia ser, para ela, um alívio, mas que, de uma certa forma, seria melhor se ela não falasse. Por quê?

Justamente, era como se a falta do namorado (de quem ela tinha se separado por várias e boas razões), a sensação de perda etc. fossem intensificadas por suas palavras, e talvez mais que intensificadas: produzidas.

É uma experiência comum: externamos nossos sentimentos para vivê-los mais intensamente -para encontrar as lágrimas que, sem isso, não jorrariam ou a alegria que talvez, sem isso, fosse menor. Nada contra: sou a favor da intensidade das experiências, mesmo das dolorosas. Mas há dois problemas.

O primeiro é que o entusiasmo com o qual expressamos nossos sentimentos pode simplificá-los. Ao declarar meu amor, por exemplo, esqueço conflitos e nuances. No entusiasmo do "te amo", deixo de lado complementos incômodos ("Te amo, assim como amo outras e outros" ou "Te amo, aqui, agora, só sob este céu") e adversativas que atrapalhariam a declaração com o peso do passado ou a urgência de sonhos nos quais o amor que declaro não se enquadra.

O segundo problema é que nossa verborragia amorosa atropela o outro. A complexidade de seus sentimentos se perde na simplificação dos nossos, e sua resposta ("Também te amo"), de repente, não vale mais nada ("Eu disse primeiro").

Por isso, no fundo, meu ideal de relação amorosa é silencioso, contido, pudico.
Para contrabalançar os romances e filmes em que o amor triunfa ao ser dito e redito, como um performativo que inventa e força o sentimento, sugiro dois extraordinários romances breves, de Alessandro Baricco, o escritor italiano que estará na Festa Literária Internacional de Parati, na próxima semana: "Seda" e "Sem Sangue" (ambos Companhia das Letras).

Nos dois, a intensidade do amor se impõe com uma extrema economia de palavras ("Sem Sangue") ou sem palavra nenhuma ("Seda"). Nos dois, o silêncio permite que o amor vingue -apesar de ele não poder ser dito ou talvez por isso mesmo.
No caso de "Seda": te amo em silêncio porque te encontro ao limite extremo de uma viagem ao fim do mundo, indissociavelmente ligada a um outro, e nem sei falar tua língua.

Você me ama em silêncio porque sou outro: uma aparição efêmera, uma ave migrante.
No caso de "Sem Sangue": te amo, e não há como falar disso porque te dei e te tirei a vida. E você me ama pelas mesmas razões pelas quais poderia e deveria querer me matar (os leitores entenderão).

Nos dois romances, a ausência da fala amorosa acaba sendo um presente que os amantes se fazem reciprocamente, uma forma extrema (e freqüentemente perdida) de respeito pela complexidade de nossos sentimentos e dos sentimentos do outro que amamos.

Texto retirado da Folha de São Paulo - Ilustrada, 26/06/2008 - fazendo nossas quintas felizes, satisfeitas e relevantes.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Semi-

acorda, bem-humorada, feliz, comprometida, trabalhando, estudando, vivendo. Semi, à beira, quase, no caminho, no processo, indo, entre.

Um quase cheio de dúvidas de uma lado e de outro. Quase cheio de coisinhas e estranhezas e maluquices. Quase tudo. Quase nada. Um pouco disso, nada disso. Tentando aquilo, indo com aquilo, à beira daquilo.

O caminho eterno de dois lados sem escolha. O caminho do meio por falta de opção, de oportunidade. Por falta de coragem, por falta de desejo, por falta de sentido.

A busca pelo que não está nem desse e nem daquele lado. O eterno olhar para os cantos, olhar pelos cantos, chegar de canto, sair no canto.

Cantei e nada significou uma extremidade profunda de sentimento. Cantei e como se tivesse evitado, calmaria de ilusões e até de decepções...

Reticências para a semi-vivência de quem, pacientemente, escuta, pergunta, tenta.

Now I would do most anything
To get you back by my side
But I just
Keep on laughing
Hiding the tears in my eyes

terça-feira, 17 de junho de 2008

Expandindo Horizontes

Leitores/Amigos,
você que atende ao meu pedido insano e constante 'leia lá e comeeeeenta?'...fique feliz e atenda novamente.

Há quase um mês, enviei uma das minhas bobagens para o site da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo - leialivro.com.br - para análise e possível publicação. E não é que hoje, procurando um livro que eu não sabia o autor, nem o nome e muito menos do q realmente se tratava, em meio a tanta procura eu acabei achando a mim mesma pregada numa outra janela desse mundo virtual.

LeiaLivro aceitou meu pedido de publicação e agora você, caro amigo fiel, terá outro lugar para comentar uma história já antiguinha pelas páginas do Clube.

Visite o site e deixe seu oi para a Secretaria e seu apoio a mim.

Beijos!!!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Portishead

1 - meu deus essa letra!
2 - meu deus essa voz!
3 - meu deus essa apresentação foda!

e como diria Gabi, vou escutar essa música até ela se transformar no meu silêncio. valendo!


I'm so tired of playing,
Playing with this bow and arrow,
Gonna give my heart away,
Leave it to the other girls to play,
For I've been a temptress too long.

Hmm just,
Give me a reason to love you,
Give me a reason to be,
A woman,
I just wanna be a woman.

From this time, unchained,
We’re all looking at a different picture,
Through this new frame of mind,
A thousand flowers could bloom,
Move over, and give us some room.

Yeah,
Give me a reason to love you,
Give me a reason to be
A woman,
I just want to be a woman.

So don't you stop being a man,
Just take a little look from our side when you can,
Sow a little tenderness,
No matter if you cry.

Give me a reason to love you,
Give me a reason to be,
A woman,
It's all I wanna be is all woman.

For this is the beginning of forever and ever,
It's time to move over ,
So I want to be.

I'm so tired of playing,
Playing with this bow and arrow,
Gonna give my heart away,
Leave it to the other girls to play.
For I've been a temptress too long.

Hmm just,
Give me a reason to love you

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sentia raiva. Não era de ninguém, era de si mesma. Raiva de ignorar os sentidos, raiva de criar um sentido. Raiva. O estômago doía mas era a forte contração no peito que empurrava as lágrimas que escorriam decididas pelo seu rosto.

Sentia medo. Medo dos olhos que não secavam, dos olhos que ansiava, dos outros olhos e de todos os olhos. Medo do que pulsava nas suas mãos que agarravam a caneta.

Sentia angústia. Latejava uma preocupação permanente em sua cabeça. Uma preocupação intensa por si, de si, consigo. Um egoísmo explícito e implícito nos seus pensamentos. E ainda sentia aquele esvaziamento no estômago. Aquele ar que ventava nas paredes úmidas de seu corpo.

Sentia 'um acréscimo de estima por si mesma', uma pena, uma arrogância tremenda. Sua pretensão de ser tão maior e tão mediocremente pequena.

Era uma exagerada, melancólica, uma menina que se achava mulher e uma mulher cada vez mais menina.

Uma grande pena...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Flu Cala 'o' Boca

Ontem à noite aconteceu, no afamado estádio do Maracanã, a semifinal da Libertadores da América entre Fluminense e Boca Juniors. Só quem já entrou num estádio pode saber o que é sentar na arquibancada e ver, em meio a tantos gritos e bandeiras e alegrias e desesperos, a emoção que o futebol pode proporcionar.

Tá, eu nunca sentei numa arquibancada lotada, num jogo importante, com o entusiasmo de uma grande decisão. O único jogo que eu fui foi no Palestra com seus 10 mil torcedores palmeirenses e alguns poucos e perdidos torcedores do Inter de POA. Mesmo assim, ainda afirmo que só quem sentiu, nem que um pouquinho, essa emoção, pode ter uma breve idéia do que poderia ser estar entre aquela mancha verde, vermelha e branca da arquibancada carioca gritando 'argentino filho da puta'. hehe

Quando eu achei q a menina fluminense tinha mesmo que chorar e olhar para os céus e rezar, saiu um gol...e depois outro, e outro. E o Boca com seu mísero golzinho de algum daqueles cabeludos que eu nunca vou lembrar o nome e acho desnecessário consultar o Lance para inserir uma informação desse tipo... Palermo (heheh) nos 12min do segundo tempo. Washington reagiu e secou as lágrimas de aflição da garota carioca. Conca fez mais um e Dodo fez bom uso dos 4 minutos de prorrogação dados pelo juiz - marcou o último nos 47 do segundo tempo.

Eu assiti o jogo num boteco e, Walter, o garçom baiano mais simpático da Vila Madalena, trocava de canal de vez em quando para conferir um outro jogo importante da noite de ontem. E o Corinthians ganhou do Sport. Mas acho q desse jogo não tenho nada a dizer. Nem vi.

Mas é realmente um esporte apaixonante. E você realmente fica feliz, principalmente ganhando de time argentino. (a não ser que fosse algo do tipo - São Paulo ou Flamengo...aí, com certeza, eu ia torcer pelo Boca ou qq outro ...fácil). Insira a piada sobre argentinos de sua preferência aqui.

É isso aí. Eu tô aprendendo...e vou escrevendo. Ainda tá meio vazio de comentários técnicos (não tem nenhum) mas isso já é pedir demais para alguém que não manja nada, começou a assitir há 3 meses e ainda viu o jogo só 'de canto'.

ps.para rir sobre futebol, recomendo a coluna do Paulo Bonfá no Lance, às segundas-feiras, se não me engano. :D

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Trabalhar


O dia começa na página do Uol, as notícias do dia, do final de semana (o caso de hoje, uma segunda-feira cheia de coisinhas), alguns contos, posts de blogs sempre visitados, meu e-mail e aí o mundo corporativo vai, aos poucos para não assustar, começando junto com a semana...tudo meio acinzentado, meio cansado, meio preguiçoso, até acelerar e parar para o almoço.

Eu gosto da hora do almoço. Além de ser a hora do banho de Sol, é uma hora para não pensar em absolutamente nada enquanto escolhe-se qual vai ser a verdura de hoje, se arroz branco, integral ou risotto. Não sei se como carne vermelha, frango ou se viro vegetariana.

Eu gosto de tomar água de coco durante, fumar um cigarro depois e voltar para frente do computador com uma caneca de café recém-passado. Eu encho a garrafinha de água e, de novo, o mundo corporativo vai tomando conta dos olhos e dedos apressados de uma tarde que às vezes rasteja, às vezes corre e às vezes nunca vence.

A música é essencial para ajudar a concentrar e distrair do tanto q no fundo não é nada. Baixei dois cd's do Suede (q na verdade são um só divididos em 2 - Singles Part I e Part II) e não parei de escutar o dia todinho. Beautiful Ones, So Young e Love the way you love são absolutamente maravilhosas. Enquanto baixava esses escutava uma coletânea do Coltrane e matava a saudade de Tindersticks.

Os meninos da minha baia falam de futebol e vão inserindo outros esportes à minha cultura ESPN. Já manjo bem a tabela do Campeonato brasileiro e sei em q jogo o time x tá no campeonato da NBA. Hoje aprendi quem foi Roberto Gomes Pedrosa (e se vc não sabe é uma vergonha. Ele dá nome à Praça em frente ao estádio do Morumbi e foi título de um torneio de futebol na década de 60).

Tem uma campanha mostruosa no meu nome e já passada da data de entrega. Eu tenho q entregar. Já pedi desculpas, expliquei e fui super compreendida, mas me dá um desespero para entregar...aí fico assim, meio me desculpando por enrolar nas notícias da manhã, escutar música e me perder nos serviços de mensagem instântanea.

Na verdade, nada disso faz diferença. Tudo ajuda a sua maneira. A música, o futebol, o café, o cigarro, as notícias e os 'bom-dias' virtuais.