Seus cabelos jogavam-se numa poça do banheiro com paredes avermelhadas. A pia ficava longe de seus olhos. Embaçado. Molhado. Ardendo. Suas pernas enroscavam-se no vaso e penduravam-se no cesto de lixo. Imundo.
Suas mãos secavam seu rosto banhado de suor. Não sentia dores, não sentia nada, mas angústia. Uma dor de dentro para fora. A dor que a levara a enfiar a seringa no braço esquerdo, empurrar o êmbolo e jogar nas suas veias aquela loucura líquida.
Os olhos seguiam as sombras que dançavam pelo vão da porta, trancada. Forçava o corpo a se equilibrar sobre as duas pernas anestesiadas. Seu rosto no espelho era outro. Seus olhos vidrados e fundos tentavam reconhecer o rosto que se contorcia em espasmos.
Jogou a colher, a seringa, seu elástico gasto e vencido e o resto do que a salvaria mais tarde numa sacola de plástico e girou a chave na fechadura da porta.
Um copo de vodka com gelo e limão. Os gomos explodiam entre os dentes apertados pela língua no céu da boca. As luzes explodiam em todos os rostos que olhavam o dela, espantado, olhos quase pulando a face em busca de todas as imagens que dançavam cinzentas no canto de seus olhos.
Abriu os olhos em um sofá qualquer que não reconhecia. Estava com o vestido na cintura e sua bolsa, aberta, no chão. Enfiou a mão no crochê maltratado e não encontrou a seringa e o papel. Correu até o banheiro e um homem jogado nos azulejos azuis tinha a seringa presa no braço esquerdo. Os olhos dele a procuravam e os dela choravam.
ps. Para mais com a mesma temática - dê uma olhada no Cru - crublog.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário