Sentava-se na calçada para ver o mundo passar e, imediatamente, sentia saudade de seu quarto, sua cama, a musiquinha de fundo, seus livros, suas fotos. Não era um despedida para sempre. Só tinha resolvido ler o jornal na calçada, em frente ao seu prédio. Logo voltaria ao conforto do lar, ao colo da mãe com o bolo de banana sempre pronto. Mas essa súbita despedida, por mais curta que fosse, causava tensão, endurecia seu pescoço, arrepiava sua nuca, tremia suas pernas. Desligar-se do seu pequeno mundo e ver o quanto era pequena num outro mundo tão grande doía.
Abria o jornal e tentava ler palavra por palavra, mas quando menos percebia estava a pular linhas, parágrafos inteiros. Não estava lendo, estava correndo para que o caderno acabasse logo e ela pudesse se recolher na cama, encostar a cabeça e olhar pelo buraco da janela.
Dentro do quarto, sua tensão era outra. Esperava que alguém a resgatasse de tão pequenino mundo. Que o telefone tocasse, que alguém a achasse online, que seu e-mail trouxesse uma resposta.
Que respostas esperava? De quem esperava resgate? Por que sua vida vivia na tensão entre o pequeno e o grande universo e ela não achava conforto em nenhum dos ambientes?
Enfiava-se em páginas de livros, detestava ter parado de fumar, ter engordado, não conseguir emagrecer comendo como um coelho, procurava nas telas do computador uma janela que mostrasse que ela estava errada e que valia a pena continuar tentando encontrar um cantinho que fosse no mundo.
Uma hora dormia, cansada. Acordava com o som estridente do celular e uma voz doce 'já disse que te amo hoje?' e seu lugar parecia confortável. A voz que a fazia acreditar que a escrotice é exceção e que vale tão a pena abrir mão do azedume e sorrir. E Poliana, às vezes, é boa inspiração para quem vive a bufar.
2 comentários:
se for bufar, bufe alto como um búfalo! se for dormir, durma que é pra sonhar! se ler o jornal, escolha a matéria que lhe interessa! agora, se for pra ser poliana, mesmo que por 1 minuto, nem me avisa! gosto do seu azedume, da sua ansiedade pela vida, do seu é ou não é.
eu já tô quase fazendo igual o homer simpson e mandando alguém buscar meu machado do suicídio nesta linda segunda-feira. mas um polianismo cá e lá acontecem (e são necessários) vezenquando. acordar de amor assim há de ser bem-vindo. (:
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