segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Toma lá procêis

Dois homens laçavam um banquinho de bar no meio da rua, no meio da cidade.

Saída estratégica de uma festa de família para comprar cigarros e um encontro inusitado nas ruas interioranas.

- O segredo é manter o braço esticado, - sugeria Juscelino.
- Falta os chifre. Não é para laçar o boi inteiro, só os chifre. Pega lá uns dois prego para nóis colocar no banco e poder praticar. Só os chifre. Pega lá, Cardoso. E mais uma.
- Me ensina a laçar?

Em poucos minutos, ele fora levado para o meio da rua, laço em mãos e vontade de conhecer gente e encantamento brilhando pelos seus olhos atentos.

Os poucos homens que não se embrenhavam na aventura de ensinar o menino a quem chamavam Barba a arte do mundo boiadeiro ciceroneavam a moça que observava com sorrisos por todo o corpo.

- Cavalo acaba com casamento. - Ela sorria em meio a tantas histórias. - Aquela moça de blusa vermelha expulsou o marido de casa. Caminhoneiro, ia com a gente para os rodeios e competições. Tinha um cavalo também. Vendeu tudo para não perder a mulher.

- Minha mulher tem alergia a cavalo. Dá para acreditar?
- Mundo irônico, né, João?
- Quê? É maldade mesmo com a gente. Eu chego em casa agora, assim, tiro toda a roupa na lavanderia...a gente tem uma casona bonita...e subo só de cueca. Vai que eu mato ela, né? - e gargalhava enquanto enchia mais os copos de cerveja.

Enquanto se aliviava no banheiro de todo o calor que consumia todo o esforço que despendeu para arrumar o cabelo de manhã, eles aprontavam uma surpresa lá fora. Na calçada, dois pedaços de pele de carneiro. Como se fossem as visitas mais importantes ou esperadas dos últimos tempos, além das promessas de jantares na pequena garagem que abrigava o bar, ofereciam o presente que os faria perceber que dar atenção às pessoas parece coisa de outro mundo.

Abraços que talvez poucos dos próximos amigos têm a oferecer, os estranhos novos companheiros agradavam e cuidavam do casal que passou e parou para ver quem eles eram. Coisa comum. Coisa natural. Ou nem tanto assim. Ver o outro é se reconhecer, dar chance de se conhecer. E perdemos centenas de oportunidades como essa todos os dias.

Medo ou falta de curiosidade?

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