Sentada no escuro em sua cama, os olhos gritavam verdes brilhantes como de uma coruja. Sentia seu corpo pesar nos lençóis brancos - cor que chorava fria na penumbra de uma madrugada infinita. O abajur solitário e esquecido há horas, pedia a luz que faltava no sono da mulher cansada.
Esticava o corpo para acalmar a canseira que não era correspondida pelos comandos de sua mente. Intensamente jogava imagens, desejos e sonhos na tela acordada de neurônios dispersos e sinapses eternas.
Criava uma infinidade de histórias e produzia milhares de cenários e personagens. Novelas inteiras, contos apertados nos segundos de respiração. Poemas ritmados na escassez de palavras longas e curtas idéias.
Diálogos, conversas com a mente acordada do outro lado do rio. Declarações. Músicas. Desenhava a letra de todas aquareladas na parede que refletia a luz da rua lá de fora.
Repetia o passado no presente acordado. Imaginava o futuro na falta de luz daqueles minutos intermináveis de uma noite de segunda-feira.
Preguiça. O livro deitava-se a seu lado na cama. Mais alguns outros eram empilhados embaixo do abajur que insistia no pedido de claridade no quarto quente de verão. A porta encostada prendia a luz da sala entre seus dentes de madeira e chacoalhava com o sopro que vinha da janela.
A cortina levantava-se por segundos e voltava ao seu lugar com a falta de ar das estrelas.
Algumas linhas preenchidas, algumas linhas lidas. Parágrafos esquecidos entre o suspirar e o apagar das vozes que a seguiam ao longo da vigília. Dormia.
3 comentários:
Adoro as coisas que vc escreve porque me identifico muito! Parece que vc descreveu minhas noites...a unica coisa que não bate é "dormia"..não, não durmo.
Parece cada vez mais madura em sua prosa poética. Parabéns
Epidemia mesmo! E está se alastrando. É só eu deitar que os pensamentos começam a pular feito pipoca... nem a boa e velha tática de contar carneirinhos resolve mais. O cérebro simplesmente não quer ir dormir, ao contrário do corpo. E vc descreveu de forma perfeita!
Beijomeliga!
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