Beto sempre foi um garoto franzino. Magro, pequeno, com olhos e cabelos escuros, feito jabuticaba. Ao completar 8 anos, ouviu de seus pais que mudaria para um bairro do outro lado da cidade.
Para Beto foi uma tragédia. Deixar a escola, os amigos da rua, as brincadeiras pela vizinhança, para ir morar em um condomínio num lugar de nome engraçado. Barra funda, pai. Isso lá é nome de lugar para se viver? Disse o garoto.
Seus apelos foram em vão. Seu Maurício, pai de Beto, havia conseguido um novo emprego na Zona Oeste, com o novo salário poderia dar mais conforto para a família e também para si mesmo, diminuindo o trajeto percorrido até o trabalho.
O que parecia um grande drama para Beto, em pouco tempo tornou-se uma alegria. Os novos amigos, tanto do prédio, quanto da escola, viam no garoto uma espécie exemplo.
Por ter morado em casa, e desde pequeno se acostumado a brincar na rua, Beto era o único garoto do condomínio com autorização da mãe para ir sozinho até a padaria, o mercadinho e outros lugares das redondezas.
Trazia dadinho, pirulitos, balas e chicletes e revendia aos amigos, obviamente com um pouco de lucro. Simpático e solícito, o menino também conquistou a confiança das mães dos outros garotos.
Com o tempo virou uma espécie de líder mirim. Era ele que decidia as pendengas entre os colegas, encerrava as discussões e dava o eu veredicto sobre o vencedor das brigas.
Foi Beto também que trouxe para o condomínio a notícia que ouviu na padaria do seu Manoel. Na vizinhança morava uma bruxa, afirmou o garoto uma platéia de 15 colegas perplexos e de os olhos arregalados.
Mora na casa 21, continuou Beto, as pessoas da padaria a chamam de Bruxa dos gatos, pois existem muitos gatos em sua casa, alguns deles PRETOS, disse pausadamente.
E foi Beto que começou a revolução, afinal, como líder, decretou que uma bruxa na sua rua era inadmissível. Imagine que poderes ela poderia ter, pobres cachorrinhos de rua, deveriam virar sopa, imaginou.
Os garotos escreveram diversas cartas com palavrões, todos os que sabiam, e Beto colocou por baixo do portão da casa 21. Depois, com o máximo de força que conseguiam, jogavam bexigas com água das janelas de seus apartamentos para acertar o quintal da casa da Bruxa.
Em sua ação mais ousada, Beto saiu do condomínio com um giz de cera para escrever bruxa na calçada da casa 21. Quando terminou a letra B, olhou para o portão e viu uma simpática senhora, com um cheiro esquisito e um gato no colo.
Em choque, Beto não teve reação. Cada segundo parecia uma eternidade, eles se entreolhavam. A idosa quebrou o gelo e disse. Aqui no meu quintal caem muitos pipas, nunca ninguém vem buscar. Se você quiser, pode passar toda segunda que eu entrego eles para você.
Gaguejando o garoto agradeceu e disse que na próxima segunda voltaria. E voltou. Muitas outras vezes também. Ganhou pipas, doces e uma estranha amiga.
No prédio ninguém nunca mais incomodou a simpática senhora. Beto, agora alçado ao cargo de divindade, ou garoto amigo da bruxa, proibiu os colegas de falarem mal da senhora do 21.
Ótima ideia pai, dizia Beto, eu adoro a Barra Funda.
6 comentários:
Mother is watching him!
He is my son, of course.
Eu adorei o conto!! =)
Olá!!!
Gostei do que escreveu, principalmente pela leveza e a maneira enxuta como você formulou o conto. Bom de ler, rico em imagens...parabéns!!! Abraços!!!
Olá Mari!!
Estou passando nos blogs dos amigos para divulgar os trbalhos de meus alunos. Oportunidade boa para alimentar bons desejos...Não deixe de comentar o trabalho que mais te agradar assim você incentiva um jovem!!! os sites;
http://savianarte.blogspot.com
http://salgadarte.blogspot.com
abraços e obrigado!!
Meninos da Barra Funda... Quantas historias não escutamos, heim?
Kiss, dearest.
Mana! Adorei todos os textos da série "Contos de São Paulo" (que eu mesma estou intitulando assim...rs)
=)
Estão de parabéns!!
Beijos!
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