quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Amizade para sempre


Acho que tínhamos 9 anos quando nos conhecemos. Eu tinha uma caixa de lápis de cor daquelas completinhas e morria de medo que ela ficasse velha, com cores faltando, sem ponta. Preocupação besta. E ela me pediu emprestada bem essa caixinha que eu tinha todo cuidado do mundo para não ser usada. E foi assim que a gente se conheceu. Numa tarde no jardim dos girassóis da escola, lá estava eu sozinha querendo desaparecer do mundo, enquanto ela espalhava uma verdade dolorida para os amiguinhos da sala. Eu era egoísta e fresca.

Não sei bem como o rumo da nossa história mudou, mas pouco tempo depois já nos trancávamos nos nossos quartos para estudar e fazer os trabalhos de escola mais mirabolantes que eu me lembro de ter feito. A gente também jogava handball e era a maior diversão. Éramos boas no esporte também. Ganhamos todos os jogos contra uma tal Nossa Senhora do Morumbi. A Zélia Duncan era nossa trilha sonora com a sua Catedral, gritada sempre na escola ou numa casinha de sapê.

Um dia, tive que ir embora e me despedir foi talvez a coisa mais difícil que eu já fiz na vida. Nem fazer novos amigos foi tão difícil quanto deixar para trás aqueles com quem eu descobri muito sobre mim mesma, sobre compartilhar, dividir. Fiquei um ano longe, mas havia ligações para São Paulo para contar todas as maravilhas e barbaridades conhecidas num Estado distante.

Quando voltei, quebrada e sem a possibilidade de dividir mais os anos de escola com todas essas pessoas incríveis, foi ela quem foi a mais incrível e amiga de todas. Foi ela que não me esqueceu, não me deixou só e me convidava para tardes na piscina, festinhas no salão do prédio e aventuras de elevador.

A gente seguiu rumos diferentes, mas sempre buscamos uma maneira de nos encontrarmos. Desde os 9 anos, mesmo que fiquemos um tempo sem nos ver, uma hora a gente lembra do que uma significa para a outra e saímos a nos procurar. E encontramos do outro lado o mesmo amor, carinho e atenção que estava quando éramos crianças ainda.

Hoje é aniversário dela e nós vamos brindar a esses 17 anos de amizade. Thá, felicidades, amor, saúde e que a gente continue a se encontrar sempre. Obrigada por essa história especial e pelo tanto que eu sinto saudade.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Literatura e história, algumas das minhas paixões

Escolhi as letras para formar minha visão crítica do mundo, meu conhecimento sociológico e minha tentativa de apreender o mundo pela literatura. As letras surgiram para mim como uma forma de ler para aprender a escrever. Era isso o que eu queria quando comecei a estudar os grandes.

A necessidade de desenvolver artigos, ensaios e análises, fez nascer uma vontade de pensar pela minha cabeça e assim montei meu blog, o meio moderno mais rápido de testar e experimentar as formas e ferramentas que vão sendo acumuladas não só na academia, mas pelas ruas adentro. Com ele, descobri habilidade em forma e experimentei o sentimento de não só preencher páginas em branco, mas o de encarar o leitor como um crítico.

Leitor crítico, aliás, foi a denominação mais caçada durantes os anos de faculdade, herança da tradição marxista que o instituto segue. E já que citei Marx, gostaria de apresentar a matriz dialética do conceito de história, o que ela tem que me encanta e como a arte faz com que essa realidade seja aplicada de maneira completa, tridimensional, sublime.

O centro do pensamento de Marx se concentra na contradição, a seus olhos, inerente à sociedade moderna a que dá o nome de capitalismo. A obra de Marx demonstra essa contradição como sendo inseparável da estrutura fundamental do regime capitalista e do movimento histórico. A luta de classes é o ponto de partida para a elaboração de sua interpretação histórica, já que a partir do presente encontra diferentes sociedades históricas com equivalentes.

A história para Marx apresenta as ideias se realizando e perdendo sua arbitrariedade. Apoiam-se na economia, na prática, nos sistemas e nas relações de produção. A história é atividade prática. Assim, a consciência em Marx é reflexo da realidade. Os homens reais, atuantes, condicionados a forças produtivas e a relações que lhes correspondam são os produtores de suas ideias.

A literatura é um discurso - produto do contexto no qual é realizado e 'produtor' de ideologias, significados e identidades. A arte, a literatura, portanto, é a transposição do real para um mundo ilusório por meio da estilização formal da linguagem. Nela se combinam vinculação à realidade natural ou social e manipulação técnica. A literatura nasce, assim, da relação que as palavras estabelecem com o contexto. A linguagem literária ocorre quando seu uso instaura um universo, um espaço de interação de subjetividade, escapando do previsível e do estereótipo das situações e usos da linguagem que configuram a vida cotidiana.

Assim, a literatura é uma forma de estudar não apenas um recorte histórico-social, mas o discurso do momento do recorte e da situação da enunciação dentro do texto. Sua beleza vem do fato de conseguir reunir em personagens e localizações a luta, a contradição, o movimento das ideias se realizando e perdendo sua arbitrariedade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Afér (SIC SIC SIC!!!!)

Imagine engravidar desse cara? Entrei em pânico! Se ele não consegue formar uma frase completa, é certo não ter parte para doar em QI se essa tragédia acontecer. Meu deus, o que eu ia fazer? Eu tirava! De repente aparece uma coragem inexistente. Chá de canela, check. Pulos para trás, check. Álcool, melhor se fosse puro.

Ele me deu seu jornalzinho de poesia (!!) e eu não tinha coragem de abrir e ler. Não naquela situação. Não com aquele medo. Não com a possibilidade de olhar para minha barriga e falar 'olha, filho, o papai escreve ESSA PORCARIA!'. Mas burra mesmo fui eu. Como eu deixei minha preocupação em ser ortograficamente correta por uns beijinhos em todas as dimensões? Eu não consigo nem lembrar se foi bom. Duvida? Não me lembro de nada. Muito menos das bobagens soltas sem s's, comendo vírgulas e o meu bom senso.

Com todos os sinais na minha cara! Os sinais e nenhuma objeção. Se eu tivesse ouvido atentamente o 'Vamos SI falar' e o monte de SEJE's cuspidos na minha cara, ah! eu não passaria dias com esse jornalzinho na mão e com o pavor arrepiando o meu corpo todo. Com tanta tatuagem pelo corpo, devia ter o dicionário no lugar de tanto desenho!

As forças superiores sabem o que fazem e me sinto aliviada quando me lembro desse episódio. Rasguei o tal jornalzinho e botei fogo. Fiz com muito gosto depois de ler ‘perca de tempo’ em alguma poesia (???). PerDa de tempo é ser tão linguisticamente abusada e se lambuzar com a merda toda.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ele varre as ruas todas as manhãs


Joaquim tem uma barraca de doces na Faria Lima, quase esquina com a enlouquecedora Rebouças. Vende salgadinhos, bolachas, balas, chicletes e é sempre possível encontrar uma latinha de refrigerante ou uma garrafa de água suando pelo contato inusitado de sua superfície quase congelada com o ar quente desse verão que está sempre a chegar, até quando chega.

Todos os dias, por volta das 9 horas da manhã, ele monta seu carrinho que fica guardado no estacionamento de um prédio comercial. Todos os dias ele chega sorrindo, fala bom dia para quem estiver perto ou por quem cruzar seu caminho. Todo dia dezenas de pessoas o cumprimentam com um 'Seu Joaquim', mesmo ele não aparentando mais do que 30 anos.

Joaquim veio há 13 anos de Lauro de Freitas, famosa por ser a cidade natal de personalidades como o Popó e o Jimmy Cliff brasileiro. Não fugiu de nada. Ele veio porque queria trabalhar numa padaria de São Paulo. Trabalhou em três, mas não acertou a massa do pão francês e não tinha afinidade com outras nacionalidades para se aventurar em novas receitas.

Largou a escola para ajudar na construção da casa de seu irmão mais velho em Capão Redondo, onde mora. Sua namorada, Rosa, ajuda Joaquim a desmontar o carrinho, por volta das 19h, e vai com ele para o supletivo, curso que começaram juntos esse ano, assim como a organização do casamento que será na cidade dela, Camaçari, em 2013. Joaquim é apaixonado por Rosa. E ela se faz de difícil. Mas apesar de durona, Rosa quer uma vida com ele, inteirinha e cheia de baldeações.

Meu ônibus chegou e eu me despeço de Joaquim. Sento na janela e aceno para a história que criei. Ver um homem todo cheio de animação para vender suas balas e chicletes no meio do caos da Faria Lima em obras, a varrer, todos os dias, as adversidades e sujeiras da vida numa cidade como São Paulo. E lá vou eu tentar varrer as minhas num bairro longínquo, sem doces porque estou (eternamente) de dieta.