quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Alta cotação de felicidades em Euros!

Adeus ano velho...

Mais um texto de fim de ano. Nele, eu devo dizer que meus sentimentos estão ambíguos, que há muito de bom a agradecer e muita coisa com a qual eu ainda estou lidando e resolvendo e tudo mais.

Faz um tempo que não tenho aquelas resoluções para começar um ano e terminar na maior decepção de não ter concluído a lista (ou parte dela). A gente vai aprendendo pela vida, vivendo. Essa coisa de promessa é como dieta na segunda-feira. E, até hoje, todas as dietas que eu comecei desse jeito deram errado.

Nessa mesma época no ano passado, procurei um terapeuta para tratar traumas que se misturavam no campo profissional e no pessoal. Uma oportunidade tornou-se um pesadelo e uma das grandes decepções da minha vida. Coisa ainda não resolvida, por mais que eu insista que sim.

Saí de uma depressão super difícil que durou pouco mais de um ano e durante a qual eu não conseguia me relacionar com quase ninguém. Não, não é com você. Quando seu amigo tiver com depressão, não pense que é frescura ou qualquer coisa assim. Ou ainda que é algo relacionado a você. E se você achar isso, pergunte. Estamos todos sujeitos a cair no poço. Às vezes ele é mais profundo e para sair é preciso de uma mão, uma luz, um apoio.

Mas existe uma fase pós-depressão durante a qual você mistura a necessidade e força de sair e reencontrar seus amigos e a necessidade de se manter distante. Talvez por medo (dos outros e de si), talvez por insegurança e, acho que meu caso tende mais a esse lado, por desconforto.

Com mais sucesso esse ano, pós-período traumático, eu saí mais vezes e me mantive aberta para algumas oportunidades de conhecer gente. Por outro lado, minha vida profissional oscilava muito entre a certeza de me saber competente e a luta pelo respeito no ambiente de trabalho. Além disso, minha felicidade nunca esteve atrelada ao meu trabalho, por mais que me deixasse muito satisfeita sempre me saber muito boa no que eu fazia (e faço, hoje esporadicamente, como freela).

Minha paixão sempre foi a educação, as línguas, a sala de aula. É o lugar onde eu consigo ser feliz por trocar, criar novos conhecimentos, compartilhar, acompanhar o desenvolvimento das pessoas, apelar para seus sonhos e ajudá-las a chegar lá de maneira mais certeira. Assim, no meio do ano, uma conversa com minha mana Ana me fez ver que eu precisava voltar aos estudos e fazer aquilo que me fazia sorrir.

Iniciei a licenciatura e estou com um projeto de mestrado do qual me orgulho muito. Depois de um desligamento nada amigável, retornei às aulas de línguas e tive uma resposta positiva muito rapidamente - aulas em uma escola em que adorei trabalhar e a espera de outras duas confirmações, além dos 4 alunos particulares e todo o plano de vida começando a caminhar com o objetivo cada vez mais claro e próximo.

Durante a depressão, não conseguia ver que magoava aqueles que me amavam e, principalmente, meu namorado que nunca se afastou de mim e esteve sempre me apoiando, compreendendo e me dando a mão, ouvidos, ombros, risadas e coração.

Hoje, algumas dores ainda não se dissiparam por completo e a sensação de desconforto me acompanha em muitos momentos. As aulas, minha casa e meu namorado são os momentos que essa sensação me deixa e eu sei exatamente quem sou. Por quê? Talvez porque eu tenho certeza do que quero fazer, mesmo que ainda não tenha a segurança financeira alcançada, e meus pais e namorado estiveram comigo mesmo com todos esses problemas. Eles me conhecem e me reconhecem debaixo dessa carcaça de segurança que criei para sair por aí.

Assim, há uma trava para ultrapassar esse barreira que eu criei e eu não consigo saber por onde começar. Eu sei que estou no momento pós-depressão, mas que já dura tempo demais. Eu sei o que eu preciso fazer mas é difícil. Ainda mais sem um puto no bolso. Ainda mais com todas as pendências que me forçaram a arcar agora. Há muitos momentos em que eu sou o que sempre fui, em que eu dou a minha risada, faço a blasé e encaro qualquer coisa. Mas há momentos, e não ter dinheiro complica um monte, em que eu não consigo sair da toca. Que eu marco coisas e não tenho vontade (seria mais força) para ir. E eu sei que quando vou sou bem feliz!

Talvez seja essa a minha única resolução de ano novo. Curar esse buraco no peito. Podia usar um pouco dos quilos que me dei de presente esses anos para tapar esse rombo. Mataria dois numa só.

Esse texto acabou completamente diferente do que estava planejado na minha cabeça. Parece que escrever me dá esperança e que os espaços entre um texto e outro devessem ser menores. Isso poderia ajudar. Mas não vai virar resolução de ano novo, porque, para quem não tinha nenhuma, eu tenho duas das complicadas para lidar no ano do fim do mundo.

FELIZ 2012!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Amizade para sempre


Acho que tínhamos 9 anos quando nos conhecemos. Eu tinha uma caixa de lápis de cor daquelas completinhas e morria de medo que ela ficasse velha, com cores faltando, sem ponta. Preocupação besta. E ela me pediu emprestada bem essa caixinha que eu tinha todo cuidado do mundo para não ser usada. E foi assim que a gente se conheceu. Numa tarde no jardim dos girassóis da escola, lá estava eu sozinha querendo desaparecer do mundo, enquanto ela espalhava uma verdade dolorida para os amiguinhos da sala. Eu era egoísta e fresca.

Não sei bem como o rumo da nossa história mudou, mas pouco tempo depois já nos trancávamos nos nossos quartos para estudar e fazer os trabalhos de escola mais mirabolantes que eu me lembro de ter feito. A gente também jogava handball e era a maior diversão. Éramos boas no esporte também. Ganhamos todos os jogos contra uma tal Nossa Senhora do Morumbi. A Zélia Duncan era nossa trilha sonora com a sua Catedral, gritada sempre na escola ou numa casinha de sapê.

Um dia, tive que ir embora e me despedir foi talvez a coisa mais difícil que eu já fiz na vida. Nem fazer novos amigos foi tão difícil quanto deixar para trás aqueles com quem eu descobri muito sobre mim mesma, sobre compartilhar, dividir. Fiquei um ano longe, mas havia ligações para São Paulo para contar todas as maravilhas e barbaridades conhecidas num Estado distante.

Quando voltei, quebrada e sem a possibilidade de dividir mais os anos de escola com todas essas pessoas incríveis, foi ela quem foi a mais incrível e amiga de todas. Foi ela que não me esqueceu, não me deixou só e me convidava para tardes na piscina, festinhas no salão do prédio e aventuras de elevador.

A gente seguiu rumos diferentes, mas sempre buscamos uma maneira de nos encontrarmos. Desde os 9 anos, mesmo que fiquemos um tempo sem nos ver, uma hora a gente lembra do que uma significa para a outra e saímos a nos procurar. E encontramos do outro lado o mesmo amor, carinho e atenção que estava quando éramos crianças ainda.

Hoje é aniversário dela e nós vamos brindar a esses 17 anos de amizade. Thá, felicidades, amor, saúde e que a gente continue a se encontrar sempre. Obrigada por essa história especial e pelo tanto que eu sinto saudade.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Literatura e história, algumas das minhas paixões

Escolhi as letras para formar minha visão crítica do mundo, meu conhecimento sociológico e minha tentativa de apreender o mundo pela literatura. As letras surgiram para mim como uma forma de ler para aprender a escrever. Era isso o que eu queria quando comecei a estudar os grandes.

A necessidade de desenvolver artigos, ensaios e análises, fez nascer uma vontade de pensar pela minha cabeça e assim montei meu blog, o meio moderno mais rápido de testar e experimentar as formas e ferramentas que vão sendo acumuladas não só na academia, mas pelas ruas adentro. Com ele, descobri habilidade em forma e experimentei o sentimento de não só preencher páginas em branco, mas o de encarar o leitor como um crítico.

Leitor crítico, aliás, foi a denominação mais caçada durantes os anos de faculdade, herança da tradição marxista que o instituto segue. E já que citei Marx, gostaria de apresentar a matriz dialética do conceito de história, o que ela tem que me encanta e como a arte faz com que essa realidade seja aplicada de maneira completa, tridimensional, sublime.

O centro do pensamento de Marx se concentra na contradição, a seus olhos, inerente à sociedade moderna a que dá o nome de capitalismo. A obra de Marx demonstra essa contradição como sendo inseparável da estrutura fundamental do regime capitalista e do movimento histórico. A luta de classes é o ponto de partida para a elaboração de sua interpretação histórica, já que a partir do presente encontra diferentes sociedades históricas com equivalentes.

A história para Marx apresenta as ideias se realizando e perdendo sua arbitrariedade. Apoiam-se na economia, na prática, nos sistemas e nas relações de produção. A história é atividade prática. Assim, a consciência em Marx é reflexo da realidade. Os homens reais, atuantes, condicionados a forças produtivas e a relações que lhes correspondam são os produtores de suas ideias.

A literatura é um discurso - produto do contexto no qual é realizado e 'produtor' de ideologias, significados e identidades. A arte, a literatura, portanto, é a transposição do real para um mundo ilusório por meio da estilização formal da linguagem. Nela se combinam vinculação à realidade natural ou social e manipulação técnica. A literatura nasce, assim, da relação que as palavras estabelecem com o contexto. A linguagem literária ocorre quando seu uso instaura um universo, um espaço de interação de subjetividade, escapando do previsível e do estereótipo das situações e usos da linguagem que configuram a vida cotidiana.

Assim, a literatura é uma forma de estudar não apenas um recorte histórico-social, mas o discurso do momento do recorte e da situação da enunciação dentro do texto. Sua beleza vem do fato de conseguir reunir em personagens e localizações a luta, a contradição, o movimento das ideias se realizando e perdendo sua arbitrariedade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Afér (SIC SIC SIC!!!!)

Imagine engravidar desse cara? Entrei em pânico! Se ele não consegue formar uma frase completa, é certo não ter parte para doar em QI se essa tragédia acontecer. Meu deus, o que eu ia fazer? Eu tirava! De repente aparece uma coragem inexistente. Chá de canela, check. Pulos para trás, check. Álcool, melhor se fosse puro.

Ele me deu seu jornalzinho de poesia (!!) e eu não tinha coragem de abrir e ler. Não naquela situação. Não com aquele medo. Não com a possibilidade de olhar para minha barriga e falar 'olha, filho, o papai escreve ESSA PORCARIA!'. Mas burra mesmo fui eu. Como eu deixei minha preocupação em ser ortograficamente correta por uns beijinhos em todas as dimensões? Eu não consigo nem lembrar se foi bom. Duvida? Não me lembro de nada. Muito menos das bobagens soltas sem s's, comendo vírgulas e o meu bom senso.

Com todos os sinais na minha cara! Os sinais e nenhuma objeção. Se eu tivesse ouvido atentamente o 'Vamos SI falar' e o monte de SEJE's cuspidos na minha cara, ah! eu não passaria dias com esse jornalzinho na mão e com o pavor arrepiando o meu corpo todo. Com tanta tatuagem pelo corpo, devia ter o dicionário no lugar de tanto desenho!

As forças superiores sabem o que fazem e me sinto aliviada quando me lembro desse episódio. Rasguei o tal jornalzinho e botei fogo. Fiz com muito gosto depois de ler ‘perca de tempo’ em alguma poesia (???). PerDa de tempo é ser tão linguisticamente abusada e se lambuzar com a merda toda.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ele varre as ruas todas as manhãs


Joaquim tem uma barraca de doces na Faria Lima, quase esquina com a enlouquecedora Rebouças. Vende salgadinhos, bolachas, balas, chicletes e é sempre possível encontrar uma latinha de refrigerante ou uma garrafa de água suando pelo contato inusitado de sua superfície quase congelada com o ar quente desse verão que está sempre a chegar, até quando chega.

Todos os dias, por volta das 9 horas da manhã, ele monta seu carrinho que fica guardado no estacionamento de um prédio comercial. Todos os dias ele chega sorrindo, fala bom dia para quem estiver perto ou por quem cruzar seu caminho. Todo dia dezenas de pessoas o cumprimentam com um 'Seu Joaquim', mesmo ele não aparentando mais do que 30 anos.

Joaquim veio há 13 anos de Lauro de Freitas, famosa por ser a cidade natal de personalidades como o Popó e o Jimmy Cliff brasileiro. Não fugiu de nada. Ele veio porque queria trabalhar numa padaria de São Paulo. Trabalhou em três, mas não acertou a massa do pão francês e não tinha afinidade com outras nacionalidades para se aventurar em novas receitas.

Largou a escola para ajudar na construção da casa de seu irmão mais velho em Capão Redondo, onde mora. Sua namorada, Rosa, ajuda Joaquim a desmontar o carrinho, por volta das 19h, e vai com ele para o supletivo, curso que começaram juntos esse ano, assim como a organização do casamento que será na cidade dela, Camaçari, em 2013. Joaquim é apaixonado por Rosa. E ela se faz de difícil. Mas apesar de durona, Rosa quer uma vida com ele, inteirinha e cheia de baldeações.

Meu ônibus chegou e eu me despeço de Joaquim. Sento na janela e aceno para a história que criei. Ver um homem todo cheio de animação para vender suas balas e chicletes no meio do caos da Faria Lima em obras, a varrer, todos os dias, as adversidades e sujeiras da vida numa cidade como São Paulo. E lá vou eu tentar varrer as minhas num bairro longínquo, sem doces porque estou (eternamente) de dieta.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Saudade, intensidade e eu

Talvez seja o momento da minha vida, não me pergunte o porquê, mas tudo tem me dado saudade. Inclusive coisas e pessoas com as quais convivo. Mas parece que estou suspensa numa outra realidade que não aquela de que sinto saudade. Parece uma coisa meio romântica essa de achar sempre o que já foi maravilhoso em detrimento daquilo que se vive hoje, mas talvez sem esse detrimento. Eu não acho minha vida menos legal do que esta outra que vive a me visitar em lembranças. Talvez seja um movimento normal de quem vai ficando mais velho. Talvez seja natural sentir saudade de algo ou alguém que nos fez feliz.

O que me intriga é: eu não consigo me lembrar da melancolia que me acompanhava nesses dias saudosos. Mas eu sei muito bem que existia isso e mais um pouco de amargura, em certo sentido. Existia também uma sensação constante de solidão, por mais gente que houvesse around. Havia uma vontade enorme de amar, coisa que eu fazia e me apaixonava a cada dia, semana, mês. Mantinha uma outra paixão mais séria embaixo de todo esse suposto desprendimento. E brincava de ser uma ameba, coisa que estava sempre bem distante de ser. Porque apesar do superficial bem-estar e do comportamento sempre meio blasé, eu chorava debaixo do meu edredon antes de dormir.

E assim, de lembrança em lembrança, eu vou constatando que até aqui eu fiz tudo certinho. As cagadas também. Porque quando eu caguei, meu bem, também foi muito bem cagado. E por mais que ainda sai fazendo muita besteira, abraço as experiências e as vivo plenamente. Sorrindo ou chorando.

E mais uma vez, o texto do Contardo de hoje fala exatamente sobre isso, sobre essa a possibilidade rica de viver intensamente tanto a felicidade quanto a tristeza (e no caso do texto, o luto, a falta). E só para concluir, insiro somente uma frase do texto, que você pode ler aqui: 'Meu ideal não é a felicidade, mas a variedade e a intensidade das experiências, sejam alegres ou penosas'.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

It's gotta be loud!



Dar aulas te faz conhecer muita coisa e ensina muito pela quantidade de pesquisa, não só linguística, que se faz para preencher aulas de conversação, leitura e escrita. Pelo menos para mim, que me recuso a dar aqueles textos bestas sobre profissões, tipos de árvore e quetais para gente com mais de 15 anos.

Na aula de ontem, conversation+reading+writing, usei uma matéria da última Newsweek sobre o fotógrafo Daniel Berehulak, que registrou no Paquistão imagens da devastação no ano passado causada pelos dilúvios de monções. Achei que esse era um bom gancho para procurar outras informações sobre o país que fugissem do sempre extremismo religioso, política conturbada, terrorismo, ataques e bombas.

Não se acha muita coisa diferente, ainda mais quando você procura um dia antes (I'm not proud). Mas encontrei um poeta muçulmano americano que deixou todo mundo na aula de boca aberta e arrepiado. Trabalhar com esse tipo de informação, com cultura, com essa descoberta é emocionante, lindo, engrandecedor. Isso me faz ter esperança. A educação me faz ter esperança.

Veja por você mesmo:

How to Write a Political Poem
By Taylor Mali
www.taylormali.com

However it begins, it's gotta be loud
and then it's gotta get a little bit louder.
Because this is how you write a political poem
and how you deliver it with power.

Mix current events with platitudes of empowerment.
Wrap up in rhyme or rhyme it up in rap until it sounds true.

Glare until it sinks in.

Because somewhere in Florida, votes are still being counted.
I said somewhere in Florida, votes are still being counted!

See, that's the Hook, and you gotta' have a Hook.
More than the look, it's the hook that is the most important part.
The hook has to hit and the hook's gotta fit.
Hook's gotta hit hard in the heart.

Because somewhere in Florida, votes are still being counted.

And Dick Cheney is peeing all over himself in spasmodic delight.
Make fun of politicians, it's easy, especially with Republicans
like Rudy Giuliani, Colin Powell, and . . . Al Gore.
Create fatuous juxtapositions of personalities and political philosophies
as if communism were the opposite of democracy,
as if we needed Darth Vader, not Ralph Nader.

Peep this: When I say "Call,"
you all say, "Response."

Call! Response! Call! Response! Call!

Amazing Grace, how sweet the—

Stop in the middle of a song that everyone knows and loves.
This will give your poem a sense of urgency.
Because there is always a sense of urgency in a political poem.
There is no time to waste!
Corruption doesn't have a curfew,
greed doesn't care what color you are
and the New York City Police Department
is filled with people who wear guns on their hips
and carry metal badges pinned over their hearts.
Injustice isn't injustice it's just in us as we are just in ice.
That's the only alienation of this alien nation
in which you either fight for freedom
or else you are free and dumb!

And even as I say this somewhere in Florida, votes are still being counted.

And it makes me wanna beat box!

Because I have seen the disintegration of gentrification
and can speak with great articulation
about cosmic constellations, and atomic radiation.
I've seen D. W. Griffith's Birth of a Nation
but preferred 101 Dalmations.
Like a cross examination, I will give you the explanation
of why SlamNation is the ultimate manifestation
of poetic masturbation and egotistical ejaculation.

And maybe they are still counting votes somewhere in Florida,
but by the time you get to the end of the poem it won't matter anymore.

Because all you have to do is close your eyes,
lower your voice, and end by saying:

the same line three times,
the same line three times,
the same line three times.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bowie cantando alto (e sem parar) para mim

Will you stay in our Lovers' Story
If you stay you won't be sorry
'Cause we believe in you
Soon you'll grow so take a chance
With a couple of Kooks
Hung up on romancing



Música do álbum Hunky Dory, de 1971, que tem também a maravilhosa Life on Mars? e Changes.

A letra tão bonita, mas com interpretações contraditórias. Mande a sua! - esse call to action é vício corporativo! haha

Enjoy essa belezura!

O triunfo da cooperação sobre o autointeresse

Quando o mundo te traz mais do que você estava procurando.

Texto do Ricardo Abramovay sobre o livro "The Penguin and the Leviathan - How Cooperation Triumphs Over Self-Interest" de Yochai Benkler. Segue aqui

* Texto indicado pelo querido Paulo Nogueira.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Antipolítica, a educação e a similaridades Brasil-Itália

Como é costume, toda quinta-feira eu me embaraço toda de amor pelo Contardo, pelas suas palavras e por como algo que estava presente de alguma forma na minha vida é descrita, destrinchada, analisada e comentada por ele. Como toda quinta-feira, a da semana passada não podia ser diferente.

Iniciei a licenciatura este semestre, já que descobri, ou melhor, assumi meu desejo de professorar. Nesta primeira disciplina que estou cursando, chamada Introdução aos Estudos da Educação, Enfoque Filosófico – estamos estudando alguns teóricos economistas para que entremos na discussão de como a educação, cultura e ciência se tornaram mercadorias, ou até se será o mercado um sistema de controle automático eficiente o bastante para que seja sensato delegarmos a ele o controle da alocação social de recursos, e a determinação dos rumos do desenvolvimento da educação, a ciência, a tecnologia e a cultura.

O texto do Contardo discursava sobre o movimento antipolítico que enxerga tanto no país em que reside – Brasil – como no de sua origem – Itália. Nas palavras dele: ‘A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção - com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.’ E, mais para frente: ‘A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é?’

Esse contraste sempre presente no movimento antipolítico de que somos o contrário dos políticos corruptos, ou seja, honestos, sempre me leva a pensar na compra de cartas de motorista, em primeiro lugar, e depois a todo o tipo de vantagem que as pessoas sempre estão pensando em tirar do Estado, visto como imoral, antiético.

Além disso, e agora conectando ao Adam Smith e sua mão invisível. Sua teoria diz respeito aos vícios privados que levariam a benefícios públicos. Assim, havendo ética, o bem público não se dá, e não há avanços, crescimento e blábláblá. Coisa que inclui também a corrupção.

Daí que eu acho isso uma grande bobagem, mas chega-se ao ponto do texto de ConCa. O que a corrupção, se é que traz, oferece de bom ao bem público? E aqui ele fala um pouco sobre o sentido de comunidade com união e reconciliação como esse bem público.

Veja:
'Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos. '
Discutido esses textos com o Paulo, tomei conhecimento do liberal Stuart Mill, que tem a visão de "egoísmo bem entendido" como algo bom para a sociedade. Assim, as ações de cada um buscando seus próprios interesses levarão no final a um "bem comum". Isso porque a interdependência não vai permitir que o egoísmo de cada um se sobreponha, agindo para que os interesses se acomodem e convirjam para algo bom pra toda sociedade.

Ao lado dele, o Weber faz a distinção entre "ética da responsabilidade" versus "ética da convicção". Os políticos profissionais teriam que se mover pela "ética da responsabilidade", já que, para ele, fazer política é acomodar interesses, negociar, etc. A convicção não permite acomodações e compromissos . O Weber tem o pensamento bem mais próximo ao que eu acredito como 'verdade', se esta for a palavra certa para dizer sobre a reflexão para uma mudança que acredita e credita ao homem como indivíduo e como grupo essa responsabilidade.

Há também a fábula das abelhas, de Bernard de Mandeville. Ele influenciou essa teoria do Adam Smith, além de ter impactado muitos outros teóricos, inclusive o Karlão e o Engels. Segundo soube, ele não foi muito bem recebido, obviamente, já que dizia que não é possível progresso e ética andando de mãos dadas. E como ele defendia o mundo das benécies da riqueza, achava louvável deixar a ética de lado para alcançá-las.

A fábula conta a história de uma colmeia em que havia muita corrupção, jogos de interesses e tudo o que estamos acostumados a apontar como falha no sistema que não nos incluímos ;-\ . Originalmente, a colmeia era formada por dois grupos: os canalhas assumidos e os canalhas dissimulados. Atuavam a lei, a justiça e a participação divina, transformando o vício individual em benefício coletivo. Quando, por fim, Júpiter resolve acabar com os vícios, a colmeia entra em um período de decadência.

O que relaciona o egoísmo e o utilitarismo, então, para que estes pensadores tomassem os dois como consequência um do outro? A maior similaridade entre as duas teorias é que ambas trabalham a relação de prazer e dor. A diferença é o interesse de quem está em jogo em cada uma delas. O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir os seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. Isso, enquanto que o egoísta acredita que somente seus interesses contam. Para ler mais sobre o assunto, acesse http://www.utilitarian.org/faq.html#egoism

Aí vem a pergunta : É sensato confiar a este sistema a regulação das produções culturais, da reflexão sobre a educação, a formação do cidadão? É sensato dizer que um sistema onde essa luta entre interesses ocorre deve governar a educação e a formação do cidadão, quando o único vencedor nessas estruturas sociais deve ser o bem comum? Um sistema egoísta que regule a formação do cidadão trará essa contradição obscurecida e não oferecerá a possibilidade de se perceber que seus ‘jeitinhos’ para conseguir alguma coisa, o egoísmo implícito nessa atitude, é igual àquela que enoja e cria o movimento que diz não à classe política, esta que usa o sistema para benefício próprio. Assim como o Contardo e com as teorias lidas na aula, talvez a antipolítica seja o sinal de uma nova forma de domínio, que está a nos induzir a aceitar nosso "sistema" e pedir apenas gestões mais honestas. Para o ConCa, ela pode ser também, e ao contrário, ‘uma revolta contra a política tradicional, capaz, a longo prazo, de redefinir nossa visão do que é política’. Essa última que eu não consigo ver, mesmo sendo a primeira cara exposta dessas reivindicações.

Para ler o texto do ConCa:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2508201125.htm

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Empacotei e encadernei o meu passado

Para ler ouvindo Roxy Music

O tempo passa muito rápido. E não to apelando para clichês porque eu não tenho mais o que escrever, mas porque eu senti isso ontem ao arrumar minha vida acadêmica todinha em pastas. Eu tinha um baú cheio de tudo o que fui juntando ao longo desses anos de USP, saídas, visitas, aulas, amigos, cadernos e amores.

Resolvi abrir o baú e revirar o passado, sem metáforas. Pegar folha por folha, texto por texto. Escolher o que iria ficar, quem iria embora e separar todos para que eles sejam organizados de forma que eu possa saber o que eu tenho e onde está. Mas daí que eu fui pegando cada um desses textos e viajei para o tempo próximo de quando os li, de quando adquiri cada um deles, sentindo o cheiro daqueles momentos, uma melancolia se instalando, uma saudade de tanto e a percepção de que eu envelheci.

Não é envelheci de ‘estou velha’, mas de amadurecimento, de passar por diversas fases e de ir completando cada uma delas. Fiquei com vontade de ligar para todas as pessoas que estiveram lá comigo, mas algumas (várias) eu nem tenho contato, não sei onde encontrar. Outras já foram para mais longe e o único meio de contato é visual, virtual.

Aqueles vários que continuam aqui são, como eu também sou, outra pessoa, diferente daquelas que foram, que fomos. Somos outros daqueles que se deslumbravam com festas no gramado, com aulas incríveis, com gente linda, com a vida. O que somos hoje? Quem somos? Onde estamos?

Uma vontade de me instalar naquele tempo, levar comigo o meu amor, todos esses textos e voltar a tomar cerveja baratinha nas festas mais divertidas que eu já fui. Com muita lama, um som incompreensível, salsichas sem pão e a noite, sempre a me receber, a me ensinar, a me encantar.

O tempo realmente passa depressa. E quando você percebe, está chorando em cima de uma pilha de papéis que dizem tudo menos sobre o que você está sentindo – saudade.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Trabalho Final Comunicação Escrita 4

Produção de um conto em grupo.
Autores:
Carla Cole
Leandro Villarino
Marina Pavelosk Migliacci
Thalita Serra de Castro


KIND OF BLUE

‘A whisky, please.’
‘Yes, Sir. No ice, right?’
‘Exactly.’
Chet Baker on the background. Inevitably, this is how most people have been addressing to me in the past few years; no thank-you's and no good-night's. Being a barman is far from bringing the excitement of old times. Remaining unknown is my strategy to uncover the human soul. You can learn much more about people by observing than by talking to them.
The singer, for example. Every night she presents the same husky voice, the same gestures, high heels and silk stockings, all black, suiting her chocolate skin. Every night she evokes the same atmosphere of enchantment, though. Men are driven to her by some mysterious bittersweet behavior and tonight was only different because, among the usual observers, a new figure entered the bar – curiosity was arising from his expression. Tall man, with deep blue eyes, he seemed to be one of those with whom she could get trouble.
‘Dry Martini, please. And… Good night! How interesting place.’
Yeah, trouble. This one is hunting something in here. I can smell it far from me, like the loneliness in those desolated eyes in the left corner, back in the bar. Dry Martini, asked by a man. That was interesting, my fellow. Someone completely out of the box completely isolated. But weren’t all?
He introduced himself as a single and clever young man. Jay was his name and by this aggressive disposition and physical posture, one could assume that he was very confident. Straightly plumb, he never looked down but to despise whoever he was not concretely interested.
In the dressing room, she would fit a daffodil – her favorite –, offered by one last admirer, in her hair and examine her face in the mirror. Eyes full of memories from the long night before, awake, uncomfortable, unreadable. ‘L’enfer, c’est les autres’ – these words echoing inside her as a mantra. She would drink a glass of Gin to prepare her voice. Almost ready to face the audience out here; almost ready to fill empty hearts with the whole cliché image needed to do the job. Night after night performing this ritual, she would strangely feel herself smaller, as if another person was inside her, a person without her past, without her pride, without her problems – an interesting person! And when she woke up in the improvised room at the bar, still stunned by the hangover, she would probably feel that the headache and the pain that tied down her body to the bed didn’t belong to her, but to that “another person”, who she had once incorporated for the stage and even more became part of her life. Morning after morning, what she considered to be herself seemed farther and farther in the past – a reminiscence of another life, a life outside the bar.
Now, you should be judging me a vain, mean old man. How do I know all that? Who in the hell am I to judge this young girl? What kind of sick observer am I to reduce the complexity of a life to my stereotype of sadness and pain? I understand your question. You’re too young to understand human nature… You are too young to have experienced the things I did, and probably will never do, you in your comfortable life of professor! I’m a guy who dragged my thin body around the States and most of Europe longing to see what was going on out of this city. Worked as a bartender attending in English, French, German and trying to understand Italian. I’ve met the one who I believe to be the great love of my life somewhere around a British city in the Sussex valleys, or what was knew sometime in the past as Sussex. During my road life I’ve learnt to look in the eyes and got answers without pronounced words.
I do not guess her pain and her sadness: I identify myself to it. For three years, I’ve been analyzing her behaviour. She shook the whole city with her wonderful voice years ago – until the day of departure, she spent several months singing in a bar that was not as empty of drunks as it was of audience. For three years, I saw her glory and suffering, and for three years I saw her melancholical expression in each daylight morning.
But not that night, when the weird Jay was in the bar. After hours out during the evening, she came in with unordinary good humor:
‘Today I’ll fascinate them again, my darling’, she told me, with smoke coming out of her lips.
This idea made her repeat the ritual of preparation at such great pains that night. She entered the stage at midnight punctually and sang her own composition, “Don’t blame the moonlight”, which was supposed to be played only in special occasions:

You could stay, but you will go
You may have reasons, don’t let me know
‘Cause I feel bad, but don’t care why:
Don’t blame the moonlight

When the trumpeter finished, a sole clap of hands was heard: Jay praised her enthusiasm. A group of men continued chatting indifferently. In a dark corner of the hall, the lonely guy signaled me with his finger, without ever taking his eyes off the singer, and, despite the distance, I read in his lips:
‘A whisky, please.’
No ice, no ice…
When she closed the show with Billie Holiday’s “Somebody’s on my mind”, the group of men was already annoyed by Jay’s exhibitionist admiration, and looked at him angrily. Jay was certainly a stranger there. The guy in the dark, still quiet, had drunk two more whiskies. Just a few minutes after she disappeared to the dressing room, which was nothing but an exclusive bathroom for her, Jay suddenly approximated and put a ten dollars note into my pocket:
‘I will meet her.’
I said I would do whatever I could, as it was the best tip I’d received since the singer’s popularity started to fall. But I knew Jay was not exactly her type of person: ‘What does that stupid snob think I am? A whore he can call whenever he wants? I’m not a whore, I’m a singer, an artist!’, she claimed. The easy mood that the evening out had given her disappeared completely. She had no audience, and didn’t want either. I judged it impossible to convince her and returned to the bar, nodding my head negatively to Jay. When he was coming towards my direction, the singer crossed the space between us to the bottom of the hall and sat at the dark table of the lonely man. Impetuous, as always.
‘It is not the first time I see you around here, Sir.’
‘Hmm, hmm…’, he nodded his head condescendingly.
‘Why do you come here for?’, she asked, obviously waiting to hear compliments as a response.
‘Because there is nowhere else to go without being disturbed.’
‘Well, I’m sorry if I’m disturbing to you, Sir.’
‘You’re not.’
‘You’re asking me to stay?’
‘I didn’t say so.’
A long silence interrupted only by the sound of the ice inside her glass of Gin took place instead of the uncomfortable words. The singer was searching for his eyes to find in them strength to maintain the stream of that conversation. Or what was trying to be a conversation. After resisting for few seconds, the man could not continue pretending she wasn’t there: he could be shy but, after all, he was a male.
‘What do you want?’, he asked harshly after finally staring at her.
She put the palms of her hands on the table, like a support to lift the weight of her incoherent body. She had never been so disesteemed since she started to sing at that bar. She was a star, a shooting star, that was true, but the most important person around there and he was daring to ignore her brightness.
That man realized immediately how impolite he had been. He was definitely a misanthrope, someone not used to the meanders of social life. He held her wrist with his cold hands before she could complete her movement. After a glance of supplication, he looked downwards slowly:
‘I didn’t mean it…’
She still desired incredibly to run away from that rude person. On the other hand… Well, we all know how attracted we feel for those who reject us. The singer had just found. That is why instead of the expected reaction she could have, she simply asked him:
‘Have you never noticed that I always look at you during the last songs?’
‘Yes, I have.’
‘I was waiting for you to ask me for a drink or so…’
‘I’m sorry, I don’t really think that I’m good company.’
‘Why do you say that?’
‘I’m not used to it.’
‘I’m sorry, what?’
‘I’m not used to be around people. My work requires isolation.’
They kept on talking and ordering more drinks. He told her that he was an astronomer – and was now touching his moustache compulsively, glancing at her with the black misleading eyes of a lynx. She was visibly nervous too: her voice was lower and her tremulous hands were playing with the yellow flower that was in her hair.
Despite being in the bar, I could overhear the whole conversation. Jay was beside me, also staring at them. He seemed not only disturbed, but humiliated. ‘Why does she want to talk to him?’, he asked me. Such an arrogant person he was, so sure of himself… The truth is that while Jay resembled those who worshiped her in the good old days, the misanthrope intrigued her. She told me already that she had never seen someone so quiet and so sad. Their difference relayed on the surface, though. The singer herself was also truly melancholic, despite acting as an outgoing person. She could find darkness even surrounded by enchanted listeners.
‘An astronomer, you said?’
‘Yes.’
‘Is it nice? Do they pay well?’
‘Not so much… Nowadays, people thing they already know everything about stars.’
‘Nobody knows everything about a star’, she said, expecting and answer.
‘What really matters nowadays is studying the atom. Quantum physics!…’
‘And why don’t you do that?’
‘Well, I like stars.’
Silence again, but not like before. She was smiling now:
‘What is it about stars that puzzle you?’
‘The fact that they are so bright, despite being dead.’
She looked down and thought about the last sentence for a minute or two. We all had the impression that he was saying something about her that has never been said before. The singer leaned back on the sofa very serious. Somehow her face acquired the same expression of the astronomer when he entered the bar. I had never seen her so introspective.
‘Dead star, right? Hmm… But still bright.’
‘Yes, exactly.’
‘I’m no longer bright. My career is dead and my brilliancy is gone.’
Opaque...that was the disturbing lack of gloss in her eyes. The entire shinning image that had just performed at the stage was now melting away. Her hands were sweating and moving in her lap in ecstasy. She was looking downwards as if she was incapable to face the astronomer.
He was shocked. In any other situation, he would stand up and go away, disdaining all that whipping he had tried to avoid for his whole life. However, there was something different that night: he was really sorry for having made such an unhappy – though involuntary – comparison. But he was not exactly the kind of person someone should expect comforting words from:
‘Come on, I was just talking about my work. It has nothing to do with you…’
‘Of course not!’ she said, leaving the table.
His face showed a mixture of impatience and pity. Suddenly, he stood up and came after her. It was the first real movement he made that night, besides asking more whiskies:
‘Don’t leave, please… I didn’t mean that.’
‘You never mean anything, yeah…?’
‘I’m sorry. You’re wrong. I mean: you’re beautiful and bright, you were wonderful today on stage…’
Though these words came from his mouth, they seemed to have no consistency. He looked as he didn’t believe in what was said. More than that: he looked as if he was talking in the name of someone else – someone who had not the courage to lie.
‘Seriously, it was great, as always!’
‘Great for whom? Who cares about your opinion?’
The question really irritated that misanthrope. Her face completely changed and he started to say, in a loud voice:
‘Who cares about my opinion? Nobody cares about my opinion. You certainly don’t, my students either! My university withdrew me from all research, my science is an old-fashioned science, the closest I get from a relationship is by asking a barman that doesn’t know me at all to keep on bringing more whiskies. Why? Because everything I say is a catastrophe, every word I say is to let people down! This is what I do best, this is the only thing I can do, and that is what I’ve just done to such a wonderful girl: contaminating her with my hopelessness… Every time I entered this bar to see her, I admired her spontaneity and her naivety. I thought I could learn something from it, be someone better. The only thing I did is to destruct the best thing she had, which were her dreams…’
Deep silence.
‘Yes’, she mumbled, ‘it would have been easier not having any hope, just like you.’
I never realized if this was serious or ironic. She entered her dressing room with her hands covering her face. Jay followed her. I always prevent clients from getting in there, but his blind admiration was exactly what she needed at that time: good and old flattery; fake, but convincing. She was certainly not prepared for a slice of bare, real life.
The few clients who were still at the bar started to leave, disgusted by that sad, pitiful show of self-depreciation. Jay came out of the dressing room and asked for more drinks, leaning on the bar with a triumphant expression. While preparing the drinks, I could see the singer through her image on a mirror to which she looked.
‘Who are you?’, her lips seemed to say.
When Jay came back to the dressing room, I searched the hall for leftover clients. In a dark corner, there it was the lonely guy, who signed me with his finger:
‘A whisky, please.’
No ice, I knew.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Boxe na Antiguidade


"Cingidos, chegaram-se os adversários ao centro da arena e, erguendo à frente um do outro as sólidas mãos, ambos, ao mesmo tempo, se atracaram, e misturaram as mãos pesadas. Terrível era o estalar das mandíbulas, e o suor escorria-lhes de todos os membros. Atirou-se o divino Epeu e atingiu Euríalo no rosto, embora este o estivesse espreitando; e não se manteve em pé por mais tempo, pois seus membros brilhantes desfaleceram."
Disputa entre Epeu e Euríalo nos jogos fúnebres em honra de Pátroclo. Ilíada, canto XXIII. Difel, 1961.

terça-feira, 29 de março de 2011

José Alencar

José Alencar foi vice-presidente do Brasil ao longo dos últimos 8 anos. Assumiu o posto em diversos momentos durante as constantes viagens de nosso RP supremo, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Mas nada disso realmente importa. José Alencar é um homem que merece uma homenagem maior do que somente pela obrigatoriedade em se falar de uma pessoa pública, um representante da história política do país. Este nosso José merece ser mais lembrado por não ter se deixado transformar em um homem-zumbi.

Explico.

Ao me preparar para entrevistar um cliente hoje, achei adequado levar uma base menos comercial e mais filosófica do negócio e escolhi o Foucault (na verdade um texto sobre um conceito foucaultiano, de Peter Pál Pelbart) por conta da proposta oferecida por meio dos produtos da empresa. O texto discorre sobre biopolítica - espaços nos quais se desenvolvem relações, lutas e produções de poder - e biopoder - aquele que investe suas tecnologias de controle sobre as redes de produção, afim de gestioná-las, absorvê-las e neutralizá-las.

Segundo o texto, 'Os mecanismos diversos pelos quais se exercem esses poderes são anônimos, esparramados, flexíveis. O próprio poder se tornou pósmoderno.' E mais para frente, 'o poder já não se exerce desde fora, desde cima, mas sim como que por dentro, ele pilota nossa vitalidade social de cabo a rabo. Já não estamos às voltas com um poder transcendente, ou mesmo com um poder apenas repressivo, trata-se de um poder imanente, trata-se de um poder produtivo.'

O poder sobre a vida, o biopoder, passa a não mais decidir barrar a vida, mas intensificá-la, otimizá-la. O poder se confunde com o corpo, com o que conhecemos de nós mesmo. O corpo dita as ordens que nos encarregamos de administrar. Nosso desejo já está capturado. Assim, há um esforço desmedido por prolongar o máximo que se pode a vida e acaba-se não a vivendo, não saboreamos, aproveitamos o que ela tem de melhor a nos oferecer. Tomamos café sem cafeína, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, tudo em favor da preservação do corpo. E nos preservamos como uma potência de vida não realizada.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial, nos campos de concentração os homens já à beira da morte, aqueles que já não tinham forças, que se arrastavam, que tinham desistido de viver eram chamados de muçulmanos sendo todos judeus, visto que esses demostram um desapego em relação à vida. Mas, se pensarmos, diz o autor do texto com minha concordância, os muçulmanos, no sentido de viver extremamente a vida (ou intensamente) a ponto de não temerem o fim dela são mais vivos do que nós, que prolongamos ao máximo a vida, mas já estamos todos mortos na verdade, por esvaziarmos seu sentido. E como diz Agamben, citado neste mesmo texto, o biopoder contemporâneo reduz a vida à sobrevida, esta biológica, produz sobreviventes.

Ao pensar em nosso José, encontramos não essa necessidade de sobrevivência, esse esvaziamento, mas o encontro de uma vida, como chamaria Deleuze, no sentido que libera uma centelha de vida, é uma suspensão, a potência encontrada nos casos extremos de início ou ao cabo dela. A vida que põe em xeque todas as 'divisões legadas pela tradição’.

José Alencar liberou uma centelha de vida ao longo de todo esse percurso doloroso para o espetáculo criado por sua doença, e nos afastamos para assistir e preservar nosso prolongamento em contraste com o fim que desejamos o mais distante possível de nós.

Esse texto me fez pensar muito nessa coisa de estarmos a morrer por não concretizarmos a potencialidade de viver. Ao prolongarmos a vida, no sentido que nos recusamos a viver para não nos machucarmos, recusamos a experiência da vida. Uma delas é a morte. A última delas. Thimothy Leary fez da sua um grande espetáculo. Ao descobrir que estava doente, no lugar de lamentar, ele deu uma festa por enfim poder viver a maior de todas as viagens. No caso do José, sua postura em relaçao à possibilidade da morte foi de agradecimento, de ter feito o que se propôs (a ele mesmo) e de tranquilidade, por mais doloroso que a morte possa vir a ser para quem a vive e para quem assiste de perto. Para mim, o comportamento diante dela, de seu fim, garante uma análise mais humana do que toda uma vida em microscópio, quando é nesse momento que nos sentimos finitos, impotentes, do nosso tamanho, e temos a chance de escolher sermos felizes ou tristes, não importa muito, com o que fizemos, mas sem o apego que causa pena e desconforto não só nos próximos e distantes, mas a si mesmo, mais do que qualquer coisa. O conforto de se despedir, a segurança desse let it be é, para mim, motivo de admiração.

A um homem que não temeu viver o momento da completudo de sua existência, um salve, a nós, que estamos a morrer lentamente todos os dias em escolhas mais benéficas para nosso corpo, um poema de Manuel Bandeira.

A Morte Absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.