quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Hannah Arendt e os acontecimentos em Little Rock


             Os acontecimentos em Little Rock causaram impacto na recém-chegada e refugiada nos EUA. Em texto posterior ao resenhado aqui, Hannah Arendt, por força da necessidade de explicação acerca da polêmica que sua publicação causou nos movimentos de direitos civis norte americanos, justifica o foco dado como uma influência de sua experiência pessoal vivida num mundo também de ódio, antissemita, porém.


           
            Seu ensaio, numa primeira leitura, parece não ser favorável à integração dos alunos negros nas escolas brancas americanas. Isto porque a autora insiste em advertir o leitor para o fato de que as crianças sofreram uma violência ao serem obrigados a lidar com uma situação que nem mesmo as gerações anteriores conseguiram. Esse temor, ou precaução, trouxe à memória uma cena do filme The Help, de 2011. Dirigido por Tate Taylor, discorre sobre a jornalista que decide ouvir as empregadas domésticas negras das famílias brancas e escrever um livro para que elas pudessem ser ouvidas também pelo resto do país. Sua mãe, depois de muito relutar, diz à filha: ‘Sometimes courage skips one generation’. A reflexão que o texto suscita corre nas palavras dessa mãe e  em relação ao significado simbólico muito mais do que pragmático que esse evento apresentou não só naquele momento histórico, mas que ainda representa nas discussões sobre direitos humanos e civis. Além disso, há a ideia da coragem vir do novo, daquele ainda não completamente contaminado pelos preconceitos embutidos socialmente.
           
             Hannah Arendt questiona os pais negros e brancos por permitirem que seus filhos passassem por um trauma violento como ao que foram expostos e pelo qual ficaram marcados. Questiona seu leitor para que ele reflita e se posicione com relação à responsabilidade que as gerações anteriores têm com as mais jovens e as maneiras pelas quais pode protegê-las.

            Como, porém, impor uma luta política dentro da escola quando a segregação era legal na América e os negros e brancos eram mesmo diferentes perante a lei? De que maneira forçar um posicionamento por parte dos jovens estudantes quando o próprio Estado não só corroborava o comportamento discriminatório como também educava seu povo para que mantivesse a conduta de cidadão correto que não somente segue as leis mas que as defende?     Por outro lado, por que não dar a chance a um ato como esse ser ponto de partida para discussões relevantes socialmente, assim como passaram a ser na história?



            José Murilo de Carvalho defende em seu livro Cidadania no Brasil uma evolução lógica na conquista de direitos dentro de uma sociedade e Hannah parece seguir a mesma lógica do autor brasileiro quando não vê coerência e mesmo legitimidade em conquistas de direitos civis sem que os políticos estejam garantidos a priori. Apesar de significativa, sua preocupação não previu que o evento em Little Rock pudesse aquecer o movimento pelos direitos civis que desejaram mais igualdade além da que garantia acessibilidade às escolas a negros e brancos, mas que os ônibus não fossem mais divididos, os banheiros compartilhados, a porta de entrada pela frente de estabelecimentos comerciais fosse livre, que discriminar pela cor da pele fosse crime. A conquista dos direitos civis impulsionou o movimento a buscar e garantir direitos políticos e seu lugar no cenário norte-americano não como um grupo exterior, mas parte da união. 

Para ler o texto de Hannah Arend 'Reflexões sobre Little Rock', acesse aqui.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

12 de novembro

Parece que há 27 anos fazia muito calor, daqueles de sol alto, ardido e sem previsão de um carinho em chuva. Era tão quente, que o clima nunca foi esquecido nas histórias dessa data como lembrança para comemorar. O dia segue quente, mas chuvoso, e é sempre o pontapé de muitas conquistas para o ano que se inicia.

Quando celebrei os 26 anos em 2011 não sabia o que faria da minha vida com as mil possibilidades tortas dançando o tempo todo na minha cabeça. Havia iniciado a licenciatura mas não pensava que seria possível já tão logo me esforçar no trabalho de educar. Minha volta às salas de aula se deu no dia de ação de graças na mesma sala que havia entrado pela primeira vez como professora há 6 anos.

Essa coragem de assumir não só meu plano como carreira, mas de começar de novo me deu uma força muito grande e uma fé em mim mesma que se traduziu num ano bastante difícil mas com dificuldades e falhas superadas. Se fez em relações que eu evitava há anos por não mais confiar nas pessoas. Elas me provaram que essa generalização era estúpida.

Hoje, com toda essa água caindo lá fora, aquela excitação de fazer aniversário se dissolveu um pouco e o sentimento este ano é de certeza, de conquista e mais que está por vir ainda.

Eu sei que o dia de ação de graças ainda demora a chegar, mas aproveito que relembrei dele para agradecer a todos que estiveram próximos este ano, que ouviram as queixas, que deram uma chance a mim e ao meu trabalho, que me apoiaram, acreditaram em mim, incentivaram que eu continuasse caminhando e compreenderam os momentos azedos de retirada.

Obrigada pelo ano e não só pelas mensagens de carinho hoje mas também por elas.
Obrigada pela água da chuva que cai e que lava o começo para abrir espaço ao novo.
Obrigada pelo amor, pela amizade e por todas as emoções que permearam mais um ano e o que está começando.
Obrigada por tanto doce, no sentido literal e figurado, em palavras.
Obrigada por participarem.
Obrigada.

E feliz muito mais!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Deterministas...tsc tsc tsc

Essa tabela me entristeceu. Eu vi hoje de manhã e não pude parar de pensar nela um só momento. Acho que classificações são simplórias, deterministas e bastante preconceituosas; chega a ser meio violento inclusive. O que é sucesso para você? Você acha que todos têm as mesmas possibilidades que você, gente classe média branca? Além dessa coisa besta de loser and successful, quem tá mal das pernas é invejoso? E quem é bem-sucedido nunca pisou na cabeça de ninguém? Há uma regra só que todos os bem-sucedidos e aqueles que ainda não alcançaram o que se determinam? As pessoas têm uma história de formação diferente que ajudam a construir a personalidade, os objetivos e os meios pelos quais irão alcançá-los. Determinar simplesmente que sucesso é sinal de bom caratismo é destruir individualidades e entrar no sistema hipócrita, desigual e injusto. Então se eu tô sem emprego eu não valho nada porque vou olhar para você e seu salário e falar mal de você e sua competência? Se eu tiver passando por problemas financeiros é porque eu sou uma pessoa que responsabiliza os outros por meus erros? Eu entendo que quando estamos nos dando bem no que nos propomos a fazer sentimos um orgulho imenso do esforço que despendemos para isso. Sinto isso todos os dias pela coragem que acredito ter tido para abrir mão do que me fazia infeliz e assumir meus valores e planos. Mas isso não me dá o direito de determinar o destino e o comportamento nem dos sortudos como eu, nem daqueles que ainda estão lutando.