terça-feira, 28 de setembro de 2010

Adeus

Você morreu, caro leitor.
Em lágrimas, consegui retirar de dentro de meus livros, das minhas gavetas, do bolso de minhas calças, do fundo de minhas bolsas tudo o que tinha seu. Seus raros bilhetes, uma rosa, um carrinho de plástico, um lenço amarelo com bordadinho na ponta, um fio de cabelo seu. Queimei seus livros e joguei no seu túmulo para que você tivesse o que ler - uma página de cada um de seus clássicos preferidos. Queimei para que você não tivesse que viver a dor (que ironia) de ver suas palavras preferidas comidas debaixo da terra. As músicas...quebrei seus cds, risquei os dvds, te pus para fora com todas as suas partes em seu todo. A vibração dos meus sussurros, dos meus pedidos envergohados pela sua atenção.
Joguei rosas amarelas no seu caixão.
Mas dói me despedir de você.
Vai ser duro te tirar de dentro da minha cabeça, do seu lugar no meu coração.
E desatar os nós que nos uniem, pelo menos os que eu acreditava que nos uniam. Você não pertence a mim. E eu nunca tive muito de você!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

segunda-feira - em parceria com Paulo Nogueira

Ele passou a madrugada lendo, jogando, assistindo. No final de semana não teve tempo pra fazer essas coisas, pois não ficou sozinho.
Já de manhã, quando foi enviar a indicação de um blog pra namorada, percebeu que trocaria todo o tempo lendo, jogando e assistindo por alguns segundos do som do ronco dela.


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Ela passou a noite brava de ter que começar tudo de novo. E depois de ter levado bronca pela infância preservada pelos pais. Deitou sentindo falta do braço dele e da mão a fazer carinho nas costas nuas. Adormeceu com pressa, para ver se 5 dias passam como uma noite de sono. E que sexta-feira chegue logo para levá-la de volta para o sorriso gostoso e o abraço aconchegante do coisinho mais doce desse lado do rio pinheiros.

Para ler ouvindo Elvis

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vovô

Ele pendurava as chaves na calça. Tinha bigodes e se escondia na última casa das cidades em que morava. Sempre ao lado do cemitério. Panamá, sua última morada. Ar avermelhado, quente. Longe como quem foi sem se despedir. E foi.

Meio da tarde

Apaixonada, procura nas janelas laranjas de uma enorme tela aquela que a faz parar de respirar. Sem ar procura em suas palavras o motivo das aflições causadas. Desolada espera o próximo contato...amor em lágrimas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vermelho

Entre os lençóis brancos, sua pele vermelha rasgava-se em desejos contidos em seu corpo. Esticava-se em paixões guardadas em segredo. Estirava-se, escolhia-se, sorria-se inteira. Para ele, para ela.

Agarrava-se, enfiava as unhas nas costas, no colchão, na pele. Sangrava de dentro para fora, e de fora para dentro. Sangravam seus olhos e seu corpo latejava, ardia.

Esprimia-se em expressões, em corpos, em excitações. Sentia e vibrava com toques. Desejava o desejo dele que a desejava e a possuia. Ela o possui. Era dela aquele corpo quente que pesava sobre o seu, que esquentava o seu.

Sacrificavam-se. Amavam-se.