sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Alá Alá Alá Drauzio Varella

Faz 30 anos que me incomodo com meu peso. Não só esteticamente, mas meus joelhos, tornozelos, costas e bolso não têm mais condição de manter tantos quilos. O final do ano foi decisivo e a viagem para outras paragens foi libertadora para que eu entendesse que se eu começar, vou terminar. E assim está sendo há quase um mês.

Minha ideia era cortar tudo o que não fosse fresco e até agora a única coisa em vidro mantida foi o palmito. Tenho planejado todo o cardápio do dia, da semana, do mês. O carrinho de compras é cheio, mas bonito. Paulo e eu passamos horas na área de frutas e legumes escolhendo um monte de coisas e pensando em receitas pelas quais acabei me apaixonando. E, como desde que saí da casa e do fogão da minha mãe, descobri que adoro cozinhar, descobrir maneiras de fazer isso sem excessos de toda ordem é bastante interessante.

Fácil não é. Eu sou a louca do chocolate e das massas. Mas nesse último (quase) mês, tenho me controlado de uma maneira nunca antes imaginada e alcançada por mim. 

Além de todo o lance da reeducação, mudei o tipo de exercício que faço diariamente. Antes focava no pilates duas vezes por semana e na promessa de fazer caminhadas pós-trabalho. Agora eu tenho um aparelho elíptico que garante a diversão de sentir que estou andando na lua e no qual já arrisco alguns poucos minutos de corrida alternados com outros de caminhada. O youtube também é um ótimo instrumento para isso, já que você encontra aula de tudo quanto é coisa para fazer por lá. Há dias em que me concentro em yoga, noutros eu faço abdominais, pernas e glúteos. Até meu vocabulário tem sido enriquecido por essas pesquisas.

Interneticamente, blogs e o facebook todo dia me dão uma injeção de ânimo com histórias de superação de mulheres muitas vezes mais pesadas do que eu.

Mas quem me inspira mesmo é a entidade suprema Drauzio Varella. Li ano passado que ao completar 50 anos Drauzio resolveu começar a correr depois de ouvir de um amigo que a vida era só uma grande decadência depois dessa idade. Ele já participou de várias maratonas, correndo 4 horas em cada uma delas. Agora é quem vem a parte que me toca. Ele treina 2 vezes por semana correndo pelo centro e (!!!!) sobe de 8 a 10 vezes as escadas de seu prédio de 16 andares.

Todo dia quando sentada acho que tudo bem não fazer nenhum exercício hoje, eu lembro que possivelmente Dráuzio, com mais do dobro da minha idade, está correndo os degraus de seu prédio, superando dores e preguiça e nosso estado natural de hibernação constante. Aí eu me levanto e decidida vou ligar uma música boa para começar a uma de hora fitness da vida.

Com tudo isso, foi uma grande surpresa quando semana passada, suada e toda cheia de orgulho de mim, entro no meu quarto e encontro um pedaço de pastel jogado em cima da minha cama. O espanto com o desconhecido em um piscar de olhos se tornou indignação com a cara de pau do destino de levar toda minha ironia, sempre tão cara e presente para mim, defenestrada por outrem  para cima do meu travesseiro.  Porra, devia ser proibido acertar a janela de uma pessoa determinada como estou com um pedaço daquilo que pode arruinar a capacidade de concentração de qualquer um, até mesmo a mais nova convertida drauziete.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Crise dos 30 e as viagens dos 20

De all star vermelho desbotado, calça jeans e uma camiseta branca. Passei em frente ao cursinho próximo ao trabalho e me dei conta de que me visto como os wannabe ESPM. O espelho do elevador é um péssimo conselheiro quando se está com a resseca do urso polar no meio do verão senegalês.

Enquanto o computador não liga, vou à copa pegar a maior caneca de café já vista nesse escritório de tecnologia. A porta rompe o silêncio e ele entra de camisa verde escuro e calça preta. Bom dia. E que belo dia. E sua banda de jazz. Era brincadeira. Ah, eu acreditei. Então acredita que você é bonito, bonito.

Fico tão nervosa e pego o maço fechado e saio para fumar. Dá para emendar dois já que a caneca tá cheia e o prédio vazio. Esses diálogos se alongam na minha cabeça e resolvo entrar e iniciar os trabalhos, checar se há email e inventar umas histórias enquanto não o vejo novamente.

Encontrei com ele na copa. Me pediu em casamento. Eu disse sim para tudo. ahhaha

Umas cinco conversas virtuais e nada muito interessante compartilhado em tanta janela. A música está se repetindo pela 5ª vez quando uma janela sobe. tem aula hoje? Tenho, mas acho que não vou. De novo. Então toma um drink comigo? Será que tomar um drink é adequado para minha faixa etária? Claro.

Não era o tipo de bar que tinha em mente, mas é bacana. Acho que sou a única pessoa de tênis aqui, mas ele não liga. Será? Acho que devia ter ido à aula, mas agora é tarde para sair correndo e caçar o ônibus. Nem deve passar ônibus aqui perto, muito menos para o mundo além ponte. Ah, é bonito. Mas nada a ver.

Ah, que conversa mais fora de lugar. Eu te levo para casa. Ah, beijo. Que beijo. Que beijo. Que perfume. Que coisa.

Mas dormir na casa dele e eu falo que dormi aonde para minha mãe? Sim, eu sou um daqueles wannabe ESPM. Acabo de provar. Sim, vou embora com você. Sim, tenho certeza. Não sei. Você me deixa um quarteirão longe de lá. Ai, mas minha roupa vai ser a mesma de hoje. Quem liga, posso trocar de roupa que ainda estarei como aqueles meninos de uma rua qualquer da Vila Olímpia.