segunda-feira, 29 de julho de 2013

_um dia...


Um dia eu volto a sorrir. Com um pouco de graça ou pela beleza, com suavidade e paz. Sem pressa de ter que acabar. Um dia eu volto a sorrir e olhar com olhos brilhantes, claros, livres da opacidade que a tristeza os oferece. Um dia eu volto a sorrir e você me dá um copo de leite com nescau na cama para que o dia comece doce. Um dia eu volto a sorrir e dormir deixará de ser molhada de lágrimas e frio de desesperança. Um dia a quentura do estômago sobe e esquenta o coração. Um dia ostracizo a dor, destituo a tristeza e elevo à minha senhora uma outra que não me deixe só. Um dia você vai sentar ao meu lado e nossa conversa, de ouvidos e braços bem abertos, vai levar toda o sofrimento embora.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

_educação

Ah, eu passei a semana fazendo rascunhos sobre educação, sobre alunos, sobre trabalhar com criança, sobre a emoção de ver seu trabalho todo dando certo, sobre ter momentos de descoberta incríveis ao lado de olhos novos no mundo, de outras perspectivas.

Passei a semana rindo da graça que todos eles são com seus comentários inocentes, despretensiosos, com suas curiosidades. Fiquei chorosa de vê-los querendo mais tempo comigo, querendo me levar para casa, sentindo em cada carinho um pouco da carência deles, de sua falta de lugar num mundo todo ocupado.

Queria explicar para eles que para mim foi muito mais emocionante, mais legal, mais divertido porque me deu um gás incrível para continuar no caminho que escolhi, porque garantiu minhas certezas, porque me fez perceber que eu aprendo muito e coloco em prática, que a solução é fugir de desespero e de gente desesperada. Que não há nada melhor na vida do que sorrir, brincar, aprender e mostrar um monte de novidades aos amigos.

Queria dizer para o Rodrigo que na aula de inglês a gente conversa bastante porque é lindo demais saber o que vocês pensam e vê-los inserindo no mundinho de vocês o tanto que aprendemos juntos. É bonito saber que vocês confiam em mim, que me contam coisas de vocês, o que sentem no coração e no que sonham.
É doce vê-los ansiosos por saber mais. Eu confio muito em vocês também.

Piadas, histórias, teatro, culinária, caça ao tesouro, jogos e brincadeiras. Comida de férias e amigos de férias. Espero que tenham tido ótimas férias e que guardem na memória a beleza de compartilhar momentos e acreditar e confiar no outro.

E sim, Vitor. Tem mais em janeiro. Claro que quero conhecer seu cavalo, Ana. Bia, adoraria ir ao cinema com vocês. Rodrigo, a gente vai sim se ver em Agosto. Sofia, sua lindinha!
Hora da foto, todo mundo falando 'Xixi'!



quinta-feira, 18 de julho de 2013

_viajar

Visitar novos lugares é sempre olhar um pouco mais atento para dentro de si. Perceber incômodos e fazer planos. É perceber numa outra forma de viver que a nossa não é natural, mas apenas uma possibilidade e que é possível escolher diferente, moldar, enriquecer a experiência. É pensar com olhos abertos, uma observação que se faz de si mesmo, reconhecendo no estranhamento a própria vida.



Com um país tão grande e cheio de particularidades, regionalidades, trocar de cidade, de Estado e visitar ruas com nomes tão familiares mas com características tão distintas é como andar por realidades paralelas. Sair de São Paulo é desacelerar, olhar de fora, ouvir, apreciar. A rotina, com suas poucas horas ociosas para se perder em pensamento tranca nossas percepções dentro dos sentidos e elas se perdem com o tempo, com a vida cheia de compromissos, com as necessidades imediatas.

A viagem te oferece o tempo livre. É preciso dias livres sem planos em viagens para viver esse momento sem hora marcada, sem corrida, sem ônibus com pressa, olhando para a paisagem com olhos de encantamento, descobrindo as esquinas, ouvindo as pessoas, rindo de si mesmo e da peculiaridade da vida que levamos em contraste com a que observamos.

Viagem pode ser só o consumo de museus, de bares, restaurantes, de produtos, de lembranças, ou pode ser a vivência de cada uma dessas marcas da cidade. Pode ser uma infinidade de registros de momentos, ou a real presença física e intelectual, vivendo com seus próprios sentidos, sem intermediários-lentes em cada passo que se dê pelos caminhos dos passeios.


Viajar é descobrir respostas sobre si, as dúvidas e o sentimento de estar perdido sem saber para onde ir, encontrar obviedades onde antes só via obscuridade sem solução. É descansar, esvaziar a cabeça de problemas práticos que não são seus para enchê-la de fantasia, de sonhos e projetos.

E fechar os olhos e sonhar é preciso.
Abrir os olhos e realizar para si é verdade. Mais uma.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Coreografia Canção da Meia Noite

Você viaja para o Rio Grande e descobre uma nova banda daquela dupla que foi para Porto Alegre e tchau. A letra é tri querida e o ritmo te embala em cada passeio, dos de ônibus, trem ou mesmo a pé. É aí que uma coreografia nasce.
Ouça a música aqui, siga os passos e embale o feriado.

Quando a meia noite me encontrar
Junto a você
Algo diferente vou sentir
Vou precisar me esconder
Na sombra da lua cheia
Esse medo de ser
Um vampiro


um lobisomem


um saci pererê♥




quinta-feira, 23 de maio de 2013

_duendes

Ah, uma noite de veludo. É assim que parece da sacada da minha casa, do jardim que brilha em frente à sala de estar. O mundo está aveludado nesses dias de frio e é só abrir a janela cedo ou no final da tarde para ver isso tudo brilhando. Mas não há nada mais lindo do que essa visão de agora, desse frio nebuloso da noite, da névoa do inverno cobrindo ruas, árvores, postes e pintando o mundo com uma camada matte.

Fui desperta pela luz da manha bem cedo. Ao voltar do banheiro e encontrá-lo deitado ao meu lado, sorrindo para mim vestindo aquela camiseta branca toda amassada e quentinha, passamos um tempo incontável olhando o mundo molhado e gelado da nossa cama quentinha, cheia de colchas e almofadas e nenhuma manta que não fosse 100% antialérgica para não te causar transtornos e falta de ar.

Você puxou seu celular para ler Ubaldo e suas mil histórias de Itaparica, da Bahia e de muitos outros lugares. E aí contou uma história a mim sobre um índio doido e me fez rir com toda a ironia que sabe ser das minhas figuras de linguagem preferidas.

Eu joguei o Kafka de lado e pensei que clássicos do século passado podiam esperar mais um pouco porque havia uma guerra de tronos começando a tomar conta da minha imaginação. E tudo isso se misturou ao som da voz do verdadeiro Lobão - Howlin Wolf. Já era mais do que um mundo todo encantado e aí você trouxe café com leite e brincou com a sobrinha que eu deixo repousando na caneca para meus duendes.

E os duendes seriam bem felizes nesse mundo opaco e incrivelmente encantado que se faz lá fora. Não precisariam bagunçar meus livros quando eu esquecesse de deixar café com leite na prateleira ao lado da cama, misturando mundos que não se combinam.

Damn you dwarfs!


quarta-feira, 27 de março de 2013

caca

Você que acha super normal entrar no trabalho e não ter hora para sair e ver essas horas extras indo para o limbo do esquecimento. Acha ok quando um funcionário vira noites seguidas para entregar um projeto que você não soube planejar de forma competente, prevendo todas as etapas e dando prazos reais para elas. Que acha que no mundo real de adulto é assim que tem que ser. Que para se dar bem na vida a gente tem ralar e isso significa trabalhar sem fim sem receber pelo tempo dedicado. Que não vai atrás dos seus direitos porque o mercado tem uma lista negra e outras empresas não te contratariam se você quisesse um mundo respeitando leis que trabalhadores muitas gerações anteriores lutaram para ver consagradas pela constituição. Que adora reclamar que o país não vai para frente mas não enxerga que sua omissão é parte do problema. Que o seu modo de vida é gerador de angústias, injustiças e desilusões. Sem contar os inúmeros profissionais que sofrem de depressão por conta da pressão que esse mesmo mercado regula a medida aceitável.
Você que critica seu colega de trabalho por ele ser idealista demais quando quer que as regras de respeito e profissionalismo sejam seguidas e propagadas. Que se acha melhor do que os outros por passar a vida dentro de um escritório, alterando o caminho trabalhar para viver, fazendo-o inversamente.
Você que não conhece seus direitos, que acha que as regras do jogo estão postas e que não há nada a fazer para mudar. Você que aceita condições miseráveis de trabalho de empresários que não deveriam nem abrir uma barraca de feira por falta de competência.
Você, amigo, é o responsável pela imensa pilha de processos trabalhistas que tramitam aos milhares todos os dias nos fóruns de todo país. Você é responsável pelo número de varas não ser suficiente para que os problemas dos trabalhadores sejam solucionados. Você é responsável por ver empresas chorando por centavos enquanto trabalhadores fazem empréstimos para liquidar as Casas Bahia. Que, aliás, você acha sempre que o devedor é o pobre, classe c, aquele que não entende como organizar seu orçamento. O mesmo que se vira como pode para manter-se com o nome limpo, uma das merdas que esse mundo que você ajuda a manter criou. Essa coisa de sua vida ser a possibilidade de comprar a crédito.
Caro, você está errado.
Você que acha que as pessoas não melhoram as condições de vida porque não se esforçam para isso. Você que acredita que só não estuda quem não quer. Você que acha que as oportunidades são todas iguais para todos, que não enxerga a rede de privilégios que tece a sociedade e que mesmo o carinha da periferia fazendo curso superior ele corre grande risco de ficar desempregado por não aceitar um trabalho que exige menos especializações mas que também não conhece ninguém importante para ajudá-lo a mostrar sua competência dentro das grandes empresas.
Você que não vê que o trânsito é culpa sua, que você escolheu usar transporte individual e a cidade pensa em coletivos. E assim que deve ser.
Você que acha que as empregadas domésticas terem direitos vai cagar nas suas contas, que elas vão exigir mais e isso é um absurdo.
Você que acha que ciclista tem que morrer porque a ciclovia tava fechada e o meu carro não pode parar. Você que segue a lei seca no twitter só para tomar as suas e fugir da multa. Você que acha legal tomar essas mas não imagina quanta semelhança há entre um copo de cerveja fora do controle e ser doente. Assim como aquele cara da cracolândia que você aplaudiu quando a polícia chegou atirando para acabar com aquela nojeira. Você que não entende que legalizar uma coisa não significa incentivo ao uso e muitos menos aumento do consumo. Você que apoia internação involuntária, destruindo o trabalho de anos que psicólogos, os profissionais especializados em lidar com problemas como uso de drogas, despenderam para criar confiança e aproximação com os doentes.
Eu podia continuar por muitas horas, mas depois de toda a porcaria que saiu, agora começa um glitter todo roxo a mostrar para mim que tem jeito. Que há gente no mundo, e muita, apesar de você achar o contrário, que está se mexendo, começando pelo pequeno, sem marchas contra corrupção que não têm efeito algum e muitos menos geram uma real discussão. Que acredita que cumprimentar o porteiro, chamar as pessoas pelo nome e ouvi-las faz mais diferença do que postar na internet o quanto se está indignado com a 'merda de país em que a gente vive'.
Você é the one to blame for all this shit. E também é quem pode fazer alguma coisa para que isso tudo mude. Quando você repete sem pensar que isso e aquilo é uma questão cultural, não se exclua desse cultural, você não é um visitante extraterrestre. Olhe para dentro. E boa noite.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

a palavra também pode gerar dor

Sabe aquela frase 'a ignorância é uma benção'? Então, acho que começo a concordar com ela, em casos específicos, logicamente. Antes de expô-los, sei que você pode dizer que é uma delícia ignorar os horrores do mundo e sair feliz tomando sua cerveja. Nesse caso, devo discordar. A informação pode libertar. A reflexão tem o poder de mudar nossas atitudes e de nos tirar de um ciclo infinito de horrores. Eu acredito nisso.

Porém, há informações que tenho plena convicção de não haveria nenhum dano à sua formação e construção de valores se ela não chegasse até você. Algumas informações servem apenas para criar dor, sofrimento, angústia, te deixar completamente alheio à qualquer tentativa de conserto frente à certa situação. Não importa o quanto eu ache importante a informação chegar a todos os lugares, há ainda essas obscuridades da alma humana que devem ser tratadas em consultório e com mais ninguém.

Você pode me chamar de preconceituosa, e isso se dá por conta da falta de dados que te ofereço com esse texto. Daí que você tem o direito de me julgar. Não posso dar as informações já que elas podem gerar tanto. Talvez essa seja uma dessas situações em que dar as informações seja fazer sofrer. Então, aqui, não digo mais nada, apenas que é necessário tomar cuidado com o que e a quem é dito o que você guarda tão dentro de você. É preciso compreender que nem todos são os melhores interlocutores para suas dores, para suas angústias, decepções. E que há coisas que não se diz nem com toda a decepção e desilusão do mundo.

Não custa nada pensar antes de falar. Não há nervosismo que justifique certas escolhas semânticas.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Risco de Morte

Nossa, olha como o Henrique tá mal! Acho que tá numa crise brava de falta de alguma coisa. Pode até ser de amor. Essa mulher dele, rebolando ali em frente, não consegue ver que ele tá acabado e precisando de ajuda. Ela tá mais para lá do que para cá. Sei lá.

Foi numa noite que saí para relaxar. Meu pai no hospital e eu querendo tomar uma cerveja e te contar que as coisas precisavam melhorar, que vê-lo daquele jeito era triste demais e que eu nunca queria visitá-lo por medo de vê-lo como ele estava, com medo de perdê-lo, de perceber sua fragilidade. Era muita coisa e estava tudo acontecendo na minha vida. Muita coisa. Descobertas, primeiro ano de faculdade, trabalho e aquele pânico de saber que ele podia ir embora, nos deixar.

Daí queria mesmo a cerveja. Consigo lembrar apenas de um calor ameno, a gente sentada na parte de dentro do bar. Ainda podia fumar tomando cerveja, sentado. Eu acho que não sabia muito bem o que fazer quando era olhada por alguém. Como reagir. Ele passou algumas vezes parar ir ao banheiro e a cada vez um sorriso se abria quando me via. Não era bem um sorriso aberto, simpático. Era mais do tipo sedutor. Já sabia antes.

Você me disse que eu deveria olhar para ele, virando-me para trás, voltar ao meu lugar e depois quando ele passasse de novo sorrir da mesma maneira que via em seus lábios. Foi fácil. Logo ele parou na mesa e tivemos uma conversa rápida, nem lembro o que foi dito, ele derrubou o copo de cerveja na minha calça.

Algum tempo depois nos beijamos. Fomos para o outro lado do bar e só num segundo momento soube que sua mulher gargalhava embriagada do lado onde estava sentada antes. Primeira sensação da vida por um fio. Você acha exagero? Depois que a vi pela primeira vez, achei que sobrevivi por pura sorte.

Eu dei meu telefone, não compreendo muito bem até hoje, mas morri de medo que ele decidisse ligar e continuasse aquele papo pouco agradável que começou num balcão de bar. Não ligou e por dias senti calafrio cada vez que o som do celular soava, temerosa de ouvir a voz dele.

Dias depois, encontrei o Henrique sentado em frente àquele restaurante que sempre íamos, lembra? Ele olhou para mim e eu, tomando gosto pelo coisa, repeti os movimentos que o aproximaram de mim naquela noite. E ele veio. Correndo. Eu nem olhava para trás até que ele me alcançou. É que eu não olho quando gritam coisas que não o meu nome e você nem deve saber qual é. Sabia. Outra daquela conversa meio sem conversa e um abraço rápido. Agora sempre achava que ela estava olhando.

Não, foram só essas duas vezes. Depois sempre evitava que ele chegasse muito perto. É, sim, deu uns presentes, sempre falava alguma coisa e eu me sentia uma delícia sempre que passava em frente ao restaurante.

Mas daí vê-lo aqui, assim, desse jeito. Acho triste. Uma hora ele desaparece do mundo e todo esse tremilique e solidão vão embora do seu corpo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Você entra e não deixa rastro. É um fantasma. E eu morro de curiosidade.

_noite

Não sei quem precisava mais daquele carinho. Ela estava chorando e pareceu uma ótima oportunidade de se acalmar junto a outra também. No escuro, as lágrimas brilhavam nos rostos com a ajuda da luz do poste da rua que invadia o quarto. Escuro, mas quente, aconchegante. Há uma coisa nas mãos das mães que aquecem, compreendem e tiram toda a dor de dentro da gente. Não há palavra ou qualquer outra coisa que consiga com tanta eficácia.

As mãos alisavam os cabelos e massageavam a cabeça, pescoços, orelhas. Queria entender o que tanto a machucava, incomodava. Por que tanto sofrimento? Sem saber, ambas sentiam pela mesma coisa, mas com razões distintas.

Queria atenção. Era mais ou menos por isso que sentia tanto. Do outro lado, envelhecer era dolorido por se perder a autoridade de si, transformando crianças tontas e dependentes em arrogantes que acham que podem tratar aqueles que os criaram como inválidos, chamando a atenção, brigando.

Vê-la mais calma, entrando devagar no sono e sentindo que os carinhos e o amor a estavam guiando para a paz trouxe tranquilidade a um coração que estava também machucado.