sábado, 8 de abril de 2023

primeiro cigarro do dia

 Ao longo da construção da minha persona professora, acordar cedo, bem cedo mesmo, passou a fazer parte da minha rotina. Mesmo aos sábados, domingos e feriados, eu desperto antes das 6h. Há dias que forço o sono a voltar, querendo retomar aquele sonho gostoso que ficou pela metade, ou deixar relaxar o corpo dolorido pelo excesso de peso na mochila, as mil telas abertas na cabeça, a longa agenda de compromissos, os alarmes, listas de afazeres, preocupações. Forço o lado fantasia, permito que o cansaço me vença e sorrio. Já adianto que raramente isso me leva a dormir para além das 9h, no entanto, aprendi a ser confortável durante as manhãs. 

Gosto das manhãs dos dias semi livres, quando posso me demorar em cada etapa da rotina que criei para meu deleite. Levanto, passo uns minutos sentada na cama acarinhando meus gatos, olhando apaixonada para meu amor e, então, me dirijo ao banheiro. Xixi, torneira aberta para Zizek tomar água da pia, escovo os dentes, lavo o rosto com algum sabonete fresco, checo olheiras e marcas na pele e estou pronta para a cozinha. 

Fazer o café é das atividades rotineiras que mais me encantam. Eu faço quando acordo e logo depois do almoço. Às vezes, faço de novo no final da tarde. Mas, pela manhã, a água ferve enquanto limpo a pia, lavando a louça que quase sempre sobra da noite anterior. Adoro dobrar o filtro, como se fosse um segredo, uma simpatia. As 4 colheres de pó se ajeitam dentro e despejo, lentamente e apenas no meio do filtro, a água quente. O cheiro de carinho, de calma, de começo invade a casa toda. A banana com granola aguarda em cima da mesa e talvez uma tapioca com queijo no fogão.  

Talvez o que mais me agrade nessas manhãs seja mesmo o fato de que tudo isso acontece no silêncio solitário de alguém que fura os acordos sociais e se levanta quando todos ainda dormem. Penso que haja um paralelo no prazer que tinha de viver as madrugadas e a volta para casa no contra fluxo da cidade, quando todos saem e você volta. Lembro de levar óculos escuros na bolsa para que na volta pudesse me camuflar ao mesmo tempo que me destacava.

Mas, voltando às manhãs da atualidade, o ciclo se completa com aquele primeiro cigarro do dia. Este tão demonizado inclusive por adeptos do tabagismo, como o cigarro maldito, o excessivo, o fora do lugar. Ao final dessa breve refeição, um gole longo de café quente, uma segunda caneca já, o gosto do tabaco se ajeita na boca, acomodando o vício no lugar do prazer e não da repetição. Talvez seja, junto com o cigarro pós banho do final do dia, os que fogem da automaticidade e se alegram com a retomada do prazer primeiro. O resto é fuga. 

Por isso, mesmo na criação e insistência de uma vida de cuidados, saudável, defendo a manutenção desse único companheiro matutino pelo equilíbrio, pelo prazer e, principalmente, porque se destaca de todo o resto por não apresentar utilidade. É só o que é. Meu primeiro cigarro, delicioso, da manhã.

sábado, 26 de março de 2022

(des)forma


as linhas do corpo transbordam a constituição concreta, carnuda, informe e desnudam a justaposição de imagens, sons e traumas que compõem a materialidade imaterial. cada centímetro medido ou desmedido dessa corporeidade invade percepções emocionais e desfigura mentalmente o contorno nada familiar daquilo que passou a vida desviando o olhar.

olhos cansados, secos, porém bem abertos, num esforço descabido e exagerado de não perder nenhum detalhe, forçando as barreiras do aceitável e ceifando excessos constituídos de tanta falta. o vazio preenchido pelo vácuo de afetos e compreensão. de mim para mim.

apetite de sentir-se e olhar-se transfigurado em desejo de ancoramento em si, ensimesmado porém conectando o que ainda não foi ligado. necessidade de vínculo com seu próprio umbigo e o ânsia de perder-se em sua territorialidade, filiando-se a si.

na unidade corporal que se propõe como eu, ergue costas e olhos e se fita no espelho, amparando-se na força que a ajuda a sobreviver aos ataques que vêm do centro de seu ventre. uma guerra na boca do seu estômago esparramada nos líquidos de seu peito.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

a outra cena

Com os olhos fixos no chão, a cabeça se agitava para que saísse daquele lugar, de perto daquelas pessoas, do olhar enojado dele sobre a sombra dela, já que fingiu não vê-la. Ela, no entanto, não conseguia fazer com que suas pernas se movessem e pudesse sumir dali. Da excitação de ver o objeto de seu desejo se aproximar enquanto atravessava a rua para sentir o mundo engolindo sua cabeça e expondo suas entranhas no meio da calçada, pulsando a dor e a vergonha quentes no rosto. 'Mas ela achou que eu fosse querer?'

Caminhava pelo corredor da escola num desenho que faria Bentham chorar de emoção. O casaco ficava muito grande nela, mas a sensação de vesti-lo e sentir seu perfume era quase como abraçá-lo, como se seus braços dessem a volta nas costas e segurassem, mesmo que frouxamente, suas mãos. Acho que nunca vou esquecer aquele perfume. 'Você não é nojenta, nem parece gorda.'

Deitada, ainda olho para o teto, contando cada um dos quadrados desenhados ao redor do lustre. A janela à sua frente mostra um pedaço do prédio do hospital e o céu aparece cinza, molhado, como se pudesse chover por semanas a fio. Já na rua, meus passos incertos porém atentos impulsionam-me para  a menina paralisada na calçada. Enquanto a olho, ainda distante, busco palavras que pudessem ser dela dentro de mim e largo um sorriso de reconhecimento sem dentes mas com brilho nos olhos.

É tarde, mas o sol ainda não esquentou a sala por inteiro e o gelado atípico do começo de dezembro é cortado pelos goles de café que regularmente levo aos lábios enquanto viro as páginas do livro. Uma canseira parece tomar conta do corpo e uma preguiça espicha as pernas e os pés que roçam os gatos no caminho. Viro a cabeça para a porta da sacada, iluminada de verde da luz da manhã na árvore que se agiganta à minha frente e acomodo os mundos que tenho dentro de mim.

Nesse meu mundo sempre tem trilha sonora, mas agora os acordes que deixo ao fundo funcionam mais como o ruído do vento e dos poucos carros que passam lá embaixo. No entanto, brinco de imaginar a projeção da sequência de eventos no enquadramento da tela de cinema e decido não só os sons que fariam de meus momentos cinematografáveis mas também o rumo dos acontecimentos que se desenham em minha mente.

É curiosa a maneira como a lembrança nos transforma em personagens de nós mesmos, mas também dá a chance de fazermos as vezes de diretores e rever papeis, posicionamentos e sensações. 'Desliga o som e traz a menina aqui'. Dou ordens e refaço a cena, congelando os outros personagens e suas caras e bocas tortas com gosto de passado. A luta na refação é lidar com tantos resquícios que sobram dentro de mim, escondidos em hábitos que grudaram fundo na pele e sobem para a boca com a agitação das borboletas no estômago. Decido por convidá-la a me acompanhar no hoje em diante e pensar junto com seu olhar o que fica e o que vai, acalmando a menina assustada, receosa, humilhada, mas sonhadora.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

sou meu hóspede

Sou meu hóspede noturno

em doses mínimas

e uso a noite

para despojar-me

da modéstia

e outras vaidades


procuro ser tratado

sem os prejuízos

das boas-vindas

e com as cortesias

do silêncio


não coleciono padeceres

nem os sarcasmos

que deixam marca


sou tão-só

meu hóspede

e trago uma pomba

que não é sinal de paz

mas sim pomba


como hóspede

estritamente meu

no quadro-negro da noite

traço uma linha

branca



Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio, In: De La Vida ese Parentesis.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Zeitgeist Post-it



Eu pedi um café e tirei da bolsa o caderno que levava para todo lado junto comigo - é olhando pela janela do ônibus ao cruzar da zona oeste para a sul que as coisas mais genéricas, mas que parecem tão sintéticas de tantas reflexões, aparecem. Era principalmente nas corridas para o trabalho, no ônibus quase vazio das cinco da manhã, que elas vinham. Mas sempre temia que o caderno não estivesse à mão e eu perdesse algo e a memória ótima porém seletiva não me deixasse lembrar mais tarde. Enfim, se bem o conhecia, iria atrasar. Assim, podia ou continuar a ler os contos do século passado ou me atentar a um zeitgeist menos jazzístico espontâneo, um que me causava arrepios na nuca já há alguns anos e que se espalhava em aforismo nas folhas do tal caderno.

É curioso como algumas reflexões nos assaltam por longos períodos de tempo. A sensação é de que estejam ali à espreita desde os primórdios de uma vida intelectualmente ativa. É um olhar cujo ponto de partida se perdeu, mas que oferece lembranças bastante longínquas, quase infantis, definitivamente ingênuas, até as frases soltas anotadas depois da conversa de whatsapp do dia anterior. 

Muito se fala em bolha, mas esse não é um conceito perceptível somente ou nascente nos meios virtuais.  Tribos, identificação, pertenciamento. No entanto, ao que me parece, é a internet, ou melhor, as redes sociais, que funcionam como catalisadoras de uma demanda por ecoar determinados ethos, garantindo uma suposta adesão, mesmo que superficial, a uma identidade ideal. Claro que isso não ocorre apenas para as telas. Mas, talvez, no lugar de tentarmos recriar nosso eu em imagens e textos na internet, estejamos trabalhando pela coerência delas com o nosso eu offline. 

Veja aquele rapaz sentado ali na mesa perto da janela, por exemplo. Meu pai costumava dizer, logo que entrei na USP, que era possível reconhecer meus colegas de universidade de longe. Grande frequentador do supermercado Padrão, reduto de estudantes duros, papai chegava de suas compras diárias sempre com uma descrição afiada e jocosa. "Barba, sandalinha de jesus, igual a sua, uma camiseta quase sem cor e o cabelo desgrenhado". E riam. Todos riam. Eu não, fingia bem que não entendia, porque entender seria concordar com o fato de também utilizar os acessórios que me garantiam a identificação a uma filiação universitária. E para garantir o pertencimento é preciso acaso. É preciso que imaginemos que nossas escolhas ecoem como se fossem feitas espontaneamente. Aguele rapaz jura que sua camisa xadrez e barba, calça preta mais coladinha e o tênis que todo mundo usa são escolhas que não seguem uma tendência. Porque para identificação não é possível que a escolha seja estética, ela precisa ser imbuída do que o mundo do marketing gosta de chamar de conceito e tudo deve ser uma grande coincidência de encontro destes.

A coincidência se coaduna a busca por o que hoje chamam de consumo consciente, mas que já teve outros nomes. Naomi Klein falava de consumir um estilo de vida. Eu chamo de comprar um ethos. O mais curioso desses consumidores todos, cada um de seu modo particular mas nem tanto, é o fato de que existe uma insistência importante para a construção de seu ideal de eu no aspecto outsider de seus sujeitos. Como diria um grande professor meu, não existe fora. Mesmo porque, o que há de tão diferente se o consumo ainda é parte não só integrante quanto estrutural dessa equação que visa mais a apaziguar as culpas pelo pertencimento a um sistema tão abjeto e revoltante?

Olha ele vindo. Sabia que haveria atraso, mas a surpresa é que ele é muito menor do que já foi ao longo dessa década de encontros marcados. Ele ainda me faz sorrir... Grande parte dessas anotações nos vários cadernos que carrego, no bloco de notas do celular, na arquivo Ideias no Drive, como grande parte das reflexões que vêm me assaltando ao longo da vida, começando não sei bem quando, têm a influência dessa troca que fazemos desde o primeiro dia que nos vimos. A gente costumava sentar na cozinha da casa que construímos juntos e passar horas conversando sobre o que estávamos estudando, lendo parágrafos um para o outro, anotando frases.

M. Iaiiimmm?! Pensei que ia demorar mais!
P. Ando trablhando com pontualidade.
M. ahaha Muito bem!
P. Me fala! como a gente vai atacar o tal zeitgest?
M: O zeitgeist que eu vou começar a chamar de post-it. Zeitgeist Caixa Oragnizadora. Zeitgeist Tenho que Botar Nome em Tudo.
P: Ahhshs , explica essa maluquice!
M: Hahahaha Qual?
P: O Zeitgeist de cada cosia. Mas eu acho que tem que ser um Zeitgeist geral
M: É um só. eu só dou vários nomes.
P: Que é o da cagação de regra - que eu acabo de fazer, inclusive.
M: Eu acho que cabe no mesmo.
M: É o zeitgeist post-it!
P: Hahha O Zeitgeist identificador.
M: Exato!
P: Caixa organizadora é maravilhoso!
M: E por identificar e botar em caixas, é também caga regra!
P: Total!
M: Mas nomear é apenas um dos passos. O outro é aproximar como experiência vivida, fazendo o que ativismo faz. Não é um outro. É criar meios de identificação com a tag de ALERTA. Agora, o que eu fico pensando é o que poderia estar por trás de tanta categoria.
(um gole de café)
M: E eu penso umas coisas.
P: Em que coisas?
M: Pra respoder a uma planificação das identidades antes multifacetadas, a criação de centenas de etiquetas daria a falsa (ou superficial) impressão de uma complexidade identitária.
P: Hummm... E acho o uso da palavra "etiqueta" sensacional nesse contexto. Porque me remete a uma relação quase mercadológica. No sentido de "escolha a sua identidade" dentre essas opções.
M: Sim!!! E o lance da caixa organizadora também. Porque é tudo coisa. Pegue a sua. Escolha a cor e vista.
P: Sim, sim!
M: Mesmo porque são coisas acessórias mesmo para criar essa falsa complexidade identitária. Tem a ver com consumo. Sartre se mataria porque não tem nada de olhar para dentro, mas olhar para a construção de um ideal de eu para fora.
P: Vc está pronta pra entrar num mestrado sobre identidades. pra destruir por dentro. hehehe
M: Meu tema de maior bode...hahahahah Mas olha, nessa a gente não é mais produto. A gente é cabide, porque ainda tem a ver com o que uma marca suporta em termos de "valores".
P: Caralho, vc tá uma frasista de responsa.
M: hahahahaha eu tô entediada e de saco cheio da minha bolha. minha bolha podia estourar, sabe
P: Vou te dar umas agulhas
M: metafóricas?
P: no campo hoje. teve um momento em que eu estava caminhando e trocando ideia com um cara mais velho que eu, usuário de crack, poeta...
M: hmm
P: Ele tirando várias conclusões do pequenas empresas, grandes negócios que ele viu no domingo Hahaha Mas sabe? Alguém fora da minha bolha imediata
M: sim
P: Se envolver com coisas diferentes. e tipo, não é em sarau de classe média-elite
M: ah nao, pq é mais do mesmo
P: Tem gente mais liberta dessa maluquice de etiqueta no sarau, mas tem muita gente bitolada tbm
M: bastante mais. sabe, eu não consigo mais me comunicar com nossa bolha
P: te falar que fora tbm é bem difícil.  Mas parece mais arejado
M: nao me instiga, nao me dá tesão. é um disco riscado. o campo semantico é o mesmo, sabe
P: Eu sei. Vc que me chamou atenção. De papo de mesa de bar. De já saber oq a próxima pessoa vai dizer. A gente entrou numas de extrema segurança
M: tem q todo mundo postar a mesma porra de video q a chimamanda fala sobre o brasil, para vc ser inserido no grupo com as etiquetas tais e tais e tais
P: De qq surpresa ser potencialmente disruptiva. E aí fomos tirando a potência da vida e que tbm envolve decepções, tombos
M: devir é o mesmo de ontem com um bottom diferentão e engraçadinho
P: Mano, mano, mano! vc tem que escrever sobre essas coisas, pequena. Sério.
M: Mas eu não sei nem por onde começar. Faço em que formato? conto? artigo? crônica?
P: Com essas frases? Do jeito que vc quiser! Mas eu penso em poesia e crônica. Algo meio Nietzsche, uns aforismos.
M: Vou tenta. porque isso não sai da minha cabeça há anos.
P: Pois é. Colocar pra fora de alguma forma. Se exorcizar de algum jeito.

De alguma maneira, então, esse é o começo de um exorcismo de todos esse caos e desconforto que tem crescido, se desenvolvido e até se reproduzido nos últimos anos. Vez ou outra defenstro esse caos com uma frase ou outra em tweets ou provocações que talvez só eu mesma entenda, numa piada tão interna que é de plateia única. Hoje, relendo as palavras, penso em como elas reverberarão em mim daqui a algum tempo, se eu continuarei a alimentar esse diálogo interno como ainda o faço. Já me parece incompleto o que aqui está, mas preciso de um primeiro passo e aqui vai ele.

(continua)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

The Fairest of the Seasons - Nico

Now that it's time
Now that the hour hand has landed at the end
Now that it's real
Now that the dreams have given all they had to lend
I want to know do I stay or do I go
And maybe try another time
And do I really have a hand in my forgetting ?

Now that I've tried
Now that I've finally found that this is not the way
Now that I turn
Now that I feel it's time to spend the night away
I want to know do I stay or do I go
And maybe finally split the rhyme
And do I really understand the undernetting?

[Chorus]
Yes and the morning has me
Looking in your eyes
And seeing mine warning me
To read the signs carefully

Now that it's light
Now that the candle's falling smaller in my mind

Now that it's here
Now that I'm almost not so very far behind
I want to know do I stay or do I go
And maybe follow another sign
And do I really have a song that I can ride on?

Now that I can
Now that it's easy, ever easy all around
Now that I'm here
Now that I'm falling to the sunlights and a song
I want to know do I stay or do I go
And do I have to do just one
And can I choose again if I should lose the reason?

Yes, and the morning
Has me looking in your eyes
And seeing mine warning me
To read the signs more carefully

Now that I smile
Now that I'm laughing even deeper inside
Now that I see
Now that I finally found the one thing I denied
It's now I know do I stay or do I go
And it is finally I decide
That I'll be leaving
In the fairest of the seasons

quarta-feira, 6 de março de 2019

Superstar

Loneliness is such a sad affair
And I can hardly wait to be with you again
What to say to make you come again?
Come back to me again and play your sad guitar

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

esquina

Uma esquina
e o bar que já serviu
copos de cerveja, plural,
hoje serve um, singular.

Mas é celebração
e não lamento.
À saúde da mulher
que hoje se sustenta.

E é a mim que recorro
no refresco da alma
e do corpo só
e inteiro.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Cadeiras vazias

Nossa mesa estava vazia e nos meus ouvidos os fones pendurados
no som que trazia de volta o cheiro de março, o verão à noite.

Caminhar por essa calçada é misto de desejo e saudade
e a trilha é extensa entre sorrisos, engasgo e lágrimas.

Hoje, no entanto, as lágrimas são de graça e não de dor,
dor que arranquei com a força dos dedos desiludidos e acordados.

E continuo em verso lavando o resto que sobrou da miséria de um amor perdido.