terça-feira, 7 de dezembro de 2021

sou meu hóspede

Sou meu hóspede noturno

em doses mínimas

e uso a noite

para despojar-me

da modéstia

e outras vaidades


procuro ser tratado

sem os prejuízos

das boas-vindas

e com as cortesias

do silêncio


não coleciono padeceres

nem os sarcasmos

que deixam marca


sou tão-só

meu hóspede

e trago uma pomba

que não é sinal de paz

mas sim pomba


como hóspede

estritamente meu

no quadro-negro da noite

traço uma linha

branca



Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio, In: De La Vida ese Parentesis.

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