quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Dam Son

'We know how to speak, you little angel of darkness.'
MACHADO, Aline 2015









the real shia is the one who lives inside you

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A crise dos 30... Uma cidade para nós

Havia qualquer coisa de especial naquele momento, mas era tão simples, ao mesmo tempo singular. Talvez fosse a chuva, ou aquela música que remetia a um tempo já tão longínquo. Era um pouco do cheiro do bolo de banana, do mundo à meia luz, um pouco de nós dois espalhados no tapete da sala, imaginando um milhão de vidas e fazendo das nossas ideias suspensas em um gole de vinho, no perfume do seu uísque.

Havia qualquer coisa de ordinário na maneira pela qual nos servíamos das palavras para sonhar com um presente menos desacordado. Era como se mimetizássemos algo que há muito é repetido e compartilhado, há muito já nem tem significado – um significante vazio, uma imagem bonita mas superficial, plana.

Era viver de uma melancolia bonita, mas já tão gasta. Era tentar viver de uma esperança, de uma promessa. Mas era uma experimentação senão inovadora, concreta. Olhei em seus olhos e nos beijamos. Afinal, com o que nos angustiávamos se nossos sorrisos se encontravam para um carinho, se a família estava bem, se, mesmo que pouco, ainda possuíamos uns minutos para nós?

Com os dedos enrolados em meu cabelo, virou-se para tomar mais um gole do bourbon  e me deixou nas almofadas para trocar de música. Havíamos acabado de comprar uma vitrola e alguns discos em um feirinha de rua pela cidade. Trouxe o que colecionei ao longo desses trinta anos e estava guardado no armário da casa dos meus pais. A gente vive para acumular coisas? Nosso sucesso é medido por quantidade? Sonho que fosse de tempo. Seria mais bem sucedido aquele que pudesse escolher seus momentos – desde a que horas acordar até as coisas mais triviais como almoçar ou tomar café da manhã, como um final de semana prolongado para sempre.


Se Calvino estava correto e toda pessoa traz na imaginação uma cidade, desejava uma cidade de fantasia que me desse mais espaço, onde todas as possibilidades fossem realmente escolhíveis e não uma maneira tosca de persuadir nossas vontades. Afinal, havia um imperativo de medo rondando as ruas, como se quisesse impedir que fizéssemos uso de suas calçadas, conhecêssemos suas esquinas e nos apropriássemos do asfalto. Algo ameaçador a nos espreitar, impedindo nosso aconchego em torno de árvores e a possibilidade de ver para além do gritante iluminado. Mas era culpar demais algo externo a nós quando seria de nossa responsabilidade nos relacionarmos de outra maneira, se assim o desejássemos. O caso é que em nossa imaginação a cidade era opressora, e assim a tornávamos. A cidade era caótica, o que nos dava uma boa desculpa para bradar contra quem se atrevesse a passar na nossa frente.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ah, os 30...

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8. Todas as pílulas em cima da mesa do café. Dizem que um bom dia começa com uma xícara de café. Eu acho que um bom dia começa com um coquetel completo: Citalopran, Metformina, Fluoxetina, Yasmin, Vitamina D, Complexo B e duas aspirinas para acabar com a dor de cabeça de uma noite mal dormida.

Mal engolidas, o táxi já manda mensagens dizendo estar ali embaixo da minha janela. Pego o casaco, o cachecol, o crachá e a caneca de chá verde para tomar entre um anúncio mal escrito e um pedido estúpido de algum so called account manager.

Nem sete da manhã e o alarme do celular avisa que a reunião da equipe de 'social media' foi alterada para as 9. Ótima ideia, não fosse o fato de que ninguém chega antes das 11h. Estratégia para não participar de uma conversa com meia dúzia de bobagens e a outra meia dúzia também.

Alcanço um pacote de balas de mel com própolis para chegar ao fim do dia. Ah, o fim do dia tem yoga e o colchão ficou em cima do sofá do escritório. Corro para cima novamente e checo se na mochila está a calça azul nova  porque não dá mais para aparecer para Sidarta com aquela calça desbotada que murcha minha bunda.

Fechei o e-mail corporativo às 22h e já tem vídeo com russas de biquíni enviado pelos engraçadinhos do TI acidentalmente acionado pelo dedos nervosos e atrasados. A bunda dessas russas não pode ser real. Nem esses peitos. They don't match with those ruined faces. Isso me lembra a calça para o Sidarta. Abro a mochila novamente e alcanço o tecido frio que vai levantar até a minha alma.

Acendo as luzes e as paredes de vidro do escritório marcam minha silhueta segura com a meia calça plus(z) cinta. Mais café e mais uma pílula - FortéPharma para a pele. Há dez anos, a única pílula seria a do dia seguinte.