quarta-feira, 31 de outubro de 2007

TIM


Seis da tarde de um ensolarado domingo. Cervejas em copo de plástico e maços de cigarro a R$ 7,00...pfff...Óculos escuro, tênis, calça jeans e toda a vontade de ver a banda que mais tenho escutado nos últimos meses - the killers.
I need direction to perfection..nonononono

Um show após o outro e as dores nas pernas foram aumentando, os pés quase em carne viva (exagero..rs). O atraso foi se estendendo e os tempos de intervalo ultrapassavam o tempo de música das bandas iluminadas pelos holofotes coloridos.

Spank Rock - batidas eletrônicas misturas com hip-hop e um pouco de rockn'roll. Hot Chip over and over. Bjork e seu sarau eletrônico....horas de espera...mais horas de espera. Juliette de pena na cabeça, como mais um monte de outras meninas de todos os tipos andando pelo vasto anhembi-campo-de-concentração. Som um pouco baixo, mas performances à la Iggy Pop e pitadas de Mick Jagger.

Arctic Monkeys levantando a molecada cansada...horas de espera. Celulares perdidos, tinha água, tinha cerveja, tinha pizza, tinha refrigerante.

Garrafinha de água guardada sabiamente na enorme bolsa de crochê - cores frias - entre cigarros e o óculos escuro desnecessário na longa madrugada.

Quatro da manhã. Luzes amarelas, 'Sam's Town', guitarras, bateria, e eles entram.
O show mais emocionante de todo o Festival. Somebody told me...

I wanna stand up, i wanna let go....

20 mil pessoas cantando as músicas que eu sussurro o dia inteiro colada ao computador. Help me out....yeah yeah yeah...

Escutá-los é mais gostoso agora. For reasons unknown....for reasons unknown...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Haikai


de Marina Pavelosk Migliacci
Denis Fujito



deitada na grama
as mãos buscam:
borboletas vermelhas, amarelas e azuis.





borboletas
flutuando uma a uma
amarelo no azul.





tatuada no braço
a pele branca e lisa
borboletas por dois segundos apenas.

...

Cansada ela olhas para as folhas em cima da cama. Cansada ela deita os olhos na árvore que balança lá fora. Cansada ela sonha. Cansada ela pensa nele. Cansada busca as palavras dele - na tela, no passado, nela.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Presentinho

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem opano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam anil, ensaboam e torcem mais uma, duas vezes. Depois enxágüam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

Graciliano Ramos

Ganhei esse trechinho de Luna, uma fofinha que lê os meus posts e comenta pelo messenger. rs. Ela me deu de presente de despedida - a dela - qd deu linha do yahoo.
Beijo

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Circular

Uma tarde à toa para ser enchida de silêncios - intimidades, cerveja, lanchinhos, cafés derrubados na blusa branca, passeios de circular.

Esse convite original me foi feito por uma pessoa que só encontro em dias frios. O acaso sempre nos faz esbarrarmos onde quer que seja, em dias cinzas, meio chuvosos, cheios de blusas, mangas compridas, gorros (que salvou o meu cabelo do desastre da garoa do final da tarde)...

Em um longo passeio de circular, pulando de um para o outro, tive algumas idéias empreendedoras, e megalomaníacas. O passeio foi todo, na verdade, um profundo trabalho de campo.

Acho que tinha que escrever sobre otimismo. Logo eu que tenho uns três posts com a palavra insatisfação no título.

Estou otimista em relação às minhas idéias.

Thanks for the ride, Alcides.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Vozes


Uma família italiana, histórias com música, arte, sofrimento (é lógico que é genético) e nostalgia. No último mês morreu um dos tenores mais populares das últimas décadas. Pavarotti ajudou a popularizar a ópera e as dramáticas cancionetas napolitanas, misturando a música popular e a erudita de um país culto e ao mesmo tempo cafona.

Na minha vida, participou indiretamente como trilha sonora para churrascos à beira da piscina das minhas primeiras e distantes lembranças da fase mais sublime da vida. Ao ler nos jornais e ao assistir na televisão a antigas apresentações, escutando canções como 'O Sole Mio', 'Marechiare' e 'Nessum Dorma', fui transportada para um daqueles domingos de sol no Jardim Bonfiglioli, na sacada de casa, quando meu pai escutava a estas músicas e contava as histórias dos almoços numa casa da Barra Funda algumas décadas antes.

Meu avô, Hércules Migliacci, barítono do Teatro Municipal de São Paulo, durante a década de vinte, como bom italiano com o orgulho da pátria, ouvia na rádio Gazeta, durante 'A Hora Italiana', famosos cantores patrícios como Tito Schipa, Beniamino Gigli e Enrico Caruso, cantores que misturavam em seu repertótio, assim como Pavarotti, o popular e erudito, influenciados pelo desenvolvimento da indústria fonográfica. Interpretavam Puccini, Verdi, Leoncavallo e as tristezas do povo do sul napolitano pobre. Neste programa também cantavam Tito Gobbi e Mario Lanza, artistas renegados pelo povo, pois eram vistos como vendidos para os americanos, tendo escolhido fazer a América, a do Norte.

Meu avô parou de cantar para sustentar esposa e 10 filhos. Deixou as cancionetas paras as horas do almoço e as óperas para as tardes dos finais de semana, com as mesmas histórias que muitos anos depois seriam contadas pelos seus filhos para os filhos deles. Meu pai para mim e meus irmãos. Meus tios para os zilhões de primos que eu tenho.

E todo mundo tem seus favoritos. Para lembrar do meu pai, preciso de alguns minutos de Puccini – O Babinno Caro, uma ária de Giani Schichi. A ária é a história da filha pedindo ao pai (Babinno) querido (caro) para se encontrar com o namorado, de uma forma trágica, uma das grandes marcas das óperas italianas. A parte cômica, também sempre presente nestas obras, fica por conta do casamento arranjado entre famílias inimigas, sendo o pai do noivo um grande picareta.

A minha favorita, com pouquíssimo conhecimento, é Bohemia, também de Puccini, apresentada a mim por Hollywood. Quem não assistiu ‘O Feitiço da Lua’? Filme estrelado pela diva Cher e pelo gorgeous Nicholas Cage, história emoldurada por uma – estereotipada, mas verdadeira - família italiana (a da Cher) nos EUA. Enfim, Nick leva a diva à ópera para assistir a esta obra de Puccini.

Que os italianos se libertem da imagem da Terra Nostra e da porcaria da RAI e sejam também lembrados pela arte que sempre foi um ponto forte daquela botinha cafona. Rs

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Explicações


Boa noite.

Venho por meio deste post explicar a assinatura desconhecida que passou a possuir este bolg. Este pequeno espaço foi por mim criado, há alguns meses atrás, no sentido de satisfazer a carência feminina (lê-se: das minhas amigas e minha) por um lugar onde pudéssemos expor nossas opiniões, distorcidas ou não, sobre quaisquer que fossem os assuntos.

Para tanto, criei o blog e, privando pela liberdade, escondemo-nos atrás de pseudônimos bastante criativos, posso dizer. Inspiradas por uma onda travesti, influência que levamos no coração e tatuada em nossas personalidades, escolhemos nomes bizarros que nos acompanharam até hoje.

Não quero, com minha saída do armário, obrigar ninguém a fazer o mesmo. Na verdade, foi uma forma de divulgar mais o que tenho feito aqui dentro. Divulgar o que tenho tentado fazer aqui no Clube do Camba.

Por isso, achei conveniente revelar minha verdadeira identidade. Meu nome é Marina Pavelosk Migliacci. Meu primeiro nome provém da parte russa da família (talvez polonesa. Essas histórias de miseráveis que fogem para o Brasil com medo de algum coisa além-mar, só causam confusão nas gerações seguintes que gostariam de ter certeza de suas origens.) O segundo, como é notável, é italiano. Aquela raça de homens redundantes. O italiano é conhecido por sua beleza, charme, delicioso perfume, cultura e gentileza. Aqueles que descendem ou são italianos, são conhecidos por mulheres de alta cultura como homens redundância. Exemplo disso, Contardo Calligaris. Quem não o conhece, visite semanalmente sua coluna na folha, às quintas-feiras.

Uma pequena digressão para voltar ao assunto deste singelo post. Então, sou estudante de Letras (3º obscuro ano) e trabalho na rede mundial de computadores, também conhecida como a grande teia.

Mais detalhes sobre a minha vida é só dar uma rápida olhada pelos posts antigos e acompanhar os futuros.

Agradeço a compreensão. Continuem comentando.
Mari

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Conspiração Universal

de Marina Pavelosk Migliacci

Manhã. Os raios de Sol espremiam-se através das persianas para adentrar o quarto escuro. Ele abriu os olhos lentamente. Fazia tempo que não dormia tão bem. Seu corpo estava colado na cama. Olhou o corpo que estava ao lado do seu. Os raios de Sol alaranjavam a pele branca e ele sorria.

Encostou seu dedos nos ombros com todas aquelas marcas de alguns verões e ela os encolheu, arrepiada. Abriu os olhos verdes e sorriu com a boca vermelha para aqueles olhos castanhos que a penetravam e a devoravam mais uma vez.

Thörm era grande, sentava-se em grandes almofadas coloridas e tinha um grande livro sobre seus joelhos. Seu pulso corria sobre a folha branca e enchia todo aquele infinito de possibilidades com uma história de amor.

Seus cabelos brancos e longos, cacheados, atrapalhavam sua visão e, de tempos em tempos, tirava os longos fios prateados de frente da sua face concentrada na história do casal que criava e que idealizava.

Ele continuava deitado olhando os olhos verdes que o olhavam com fome de beijá-lo. Respiravam fundo e sentiam um cheiro gostoso que nunca haviam sentido de outros corpos antes.

O toque dos dedos dele nos quadris dela faziam-na se arrepiar e estremecer. Sua pele estava marcada e esticada pela sensação e sensibilidade de se escostar nele.
Fecharam os olhos e em poucos minutos adormeceram de novo. Sonhavam.

Cansada, ela não sabia muito o que pensar e apenas sorria com as lembranças de uma longa noite. Corria os olhos pelo quarto que começava a se aquecer com o aproximar do meio-dia. Lençóis enrolavam-se nos pés da cama, cabelos castanhos jogavam-se nas fronhas brancas e amassadas. Pés encontravam-se e se distanciavam num exercício de sedução e de se deixar seduzir. Eles brincavam.

Ao passar da manhã e ao aquecer o quarto, não conseguiam se mover. Não se distaciavam. Não se desencostavam.

OS cabelos brancos pendiam sobre os ombros largos e ele continuava escrevendo sobre o casal num quarto quente numa manhã de primavera. OS raios entrariam pela persianas, eles se amariam, e de novo, de novo, de novo.

Com as paredes a os silenciarem, não produziam uma palavra, não desencadeavam um sussurro. Não deixavam que nenhum ruído atrapalhasse o momento em que mais eram íntimos e próximos, no momento em que seus corpos se escostavam e se amaciavam.

Não se abriam as janelas, não se mexiam da cama. Não saiam do santuário onde sacrificavam seus desejos pelos desejos do outro. Ela e ele eram um só.

Thröm sorriu e largou o longo lápis.

Ele se levantou da cama e recolheu a última garrafa de vinho.

Ela lavou o rosto e se vestiu.

O domingo de setembro estava quase no final, mas Thröm havia apenas começado a escrever a história dele e dela.