quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Saudade, intensidade e eu

Talvez seja o momento da minha vida, não me pergunte o porquê, mas tudo tem me dado saudade. Inclusive coisas e pessoas com as quais convivo. Mas parece que estou suspensa numa outra realidade que não aquela de que sinto saudade. Parece uma coisa meio romântica essa de achar sempre o que já foi maravilhoso em detrimento daquilo que se vive hoje, mas talvez sem esse detrimento. Eu não acho minha vida menos legal do que esta outra que vive a me visitar em lembranças. Talvez seja um movimento normal de quem vai ficando mais velho. Talvez seja natural sentir saudade de algo ou alguém que nos fez feliz.

O que me intriga é: eu não consigo me lembrar da melancolia que me acompanhava nesses dias saudosos. Mas eu sei muito bem que existia isso e mais um pouco de amargura, em certo sentido. Existia também uma sensação constante de solidão, por mais gente que houvesse around. Havia uma vontade enorme de amar, coisa que eu fazia e me apaixonava a cada dia, semana, mês. Mantinha uma outra paixão mais séria embaixo de todo esse suposto desprendimento. E brincava de ser uma ameba, coisa que estava sempre bem distante de ser. Porque apesar do superficial bem-estar e do comportamento sempre meio blasé, eu chorava debaixo do meu edredon antes de dormir.

E assim, de lembrança em lembrança, eu vou constatando que até aqui eu fiz tudo certinho. As cagadas também. Porque quando eu caguei, meu bem, também foi muito bem cagado. E por mais que ainda sai fazendo muita besteira, abraço as experiências e as vivo plenamente. Sorrindo ou chorando.

E mais uma vez, o texto do Contardo de hoje fala exatamente sobre isso, sobre essa a possibilidade rica de viver intensamente tanto a felicidade quanto a tristeza (e no caso do texto, o luto, a falta). E só para concluir, insiro somente uma frase do texto, que você pode ler aqui: 'Meu ideal não é a felicidade, mas a variedade e a intensidade das experiências, sejam alegres ou penosas'.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

It's gotta be loud!



Dar aulas te faz conhecer muita coisa e ensina muito pela quantidade de pesquisa, não só linguística, que se faz para preencher aulas de conversação, leitura e escrita. Pelo menos para mim, que me recuso a dar aqueles textos bestas sobre profissões, tipos de árvore e quetais para gente com mais de 15 anos.

Na aula de ontem, conversation+reading+writing, usei uma matéria da última Newsweek sobre o fotógrafo Daniel Berehulak, que registrou no Paquistão imagens da devastação no ano passado causada pelos dilúvios de monções. Achei que esse era um bom gancho para procurar outras informações sobre o país que fugissem do sempre extremismo religioso, política conturbada, terrorismo, ataques e bombas.

Não se acha muita coisa diferente, ainda mais quando você procura um dia antes (I'm not proud). Mas encontrei um poeta muçulmano americano que deixou todo mundo na aula de boca aberta e arrepiado. Trabalhar com esse tipo de informação, com cultura, com essa descoberta é emocionante, lindo, engrandecedor. Isso me faz ter esperança. A educação me faz ter esperança.

Veja por você mesmo:

How to Write a Political Poem
By Taylor Mali
www.taylormali.com

However it begins, it's gotta be loud
and then it's gotta get a little bit louder.
Because this is how you write a political poem
and how you deliver it with power.

Mix current events with platitudes of empowerment.
Wrap up in rhyme or rhyme it up in rap until it sounds true.

Glare until it sinks in.

Because somewhere in Florida, votes are still being counted.
I said somewhere in Florida, votes are still being counted!

See, that's the Hook, and you gotta' have a Hook.
More than the look, it's the hook that is the most important part.
The hook has to hit and the hook's gotta fit.
Hook's gotta hit hard in the heart.

Because somewhere in Florida, votes are still being counted.

And Dick Cheney is peeing all over himself in spasmodic delight.
Make fun of politicians, it's easy, especially with Republicans
like Rudy Giuliani, Colin Powell, and . . . Al Gore.
Create fatuous juxtapositions of personalities and political philosophies
as if communism were the opposite of democracy,
as if we needed Darth Vader, not Ralph Nader.

Peep this: When I say "Call,"
you all say, "Response."

Call! Response! Call! Response! Call!

Amazing Grace, how sweet the—

Stop in the middle of a song that everyone knows and loves.
This will give your poem a sense of urgency.
Because there is always a sense of urgency in a political poem.
There is no time to waste!
Corruption doesn't have a curfew,
greed doesn't care what color you are
and the New York City Police Department
is filled with people who wear guns on their hips
and carry metal badges pinned over their hearts.
Injustice isn't injustice it's just in us as we are just in ice.
That's the only alienation of this alien nation
in which you either fight for freedom
or else you are free and dumb!

And even as I say this somewhere in Florida, votes are still being counted.

And it makes me wanna beat box!

Because I have seen the disintegration of gentrification
and can speak with great articulation
about cosmic constellations, and atomic radiation.
I've seen D. W. Griffith's Birth of a Nation
but preferred 101 Dalmations.
Like a cross examination, I will give you the explanation
of why SlamNation is the ultimate manifestation
of poetic masturbation and egotistical ejaculation.

And maybe they are still counting votes somewhere in Florida,
but by the time you get to the end of the poem it won't matter anymore.

Because all you have to do is close your eyes,
lower your voice, and end by saying:

the same line three times,
the same line three times,
the same line three times.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bowie cantando alto (e sem parar) para mim

Will you stay in our Lovers' Story
If you stay you won't be sorry
'Cause we believe in you
Soon you'll grow so take a chance
With a couple of Kooks
Hung up on romancing



Música do álbum Hunky Dory, de 1971, que tem também a maravilhosa Life on Mars? e Changes.

A letra tão bonita, mas com interpretações contraditórias. Mande a sua! - esse call to action é vício corporativo! haha

Enjoy essa belezura!

O triunfo da cooperação sobre o autointeresse

Quando o mundo te traz mais do que você estava procurando.

Texto do Ricardo Abramovay sobre o livro "The Penguin and the Leviathan - How Cooperation Triumphs Over Self-Interest" de Yochai Benkler. Segue aqui

* Texto indicado pelo querido Paulo Nogueira.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Antipolítica, a educação e a similaridades Brasil-Itália

Como é costume, toda quinta-feira eu me embaraço toda de amor pelo Contardo, pelas suas palavras e por como algo que estava presente de alguma forma na minha vida é descrita, destrinchada, analisada e comentada por ele. Como toda quinta-feira, a da semana passada não podia ser diferente.

Iniciei a licenciatura este semestre, já que descobri, ou melhor, assumi meu desejo de professorar. Nesta primeira disciplina que estou cursando, chamada Introdução aos Estudos da Educação, Enfoque Filosófico – estamos estudando alguns teóricos economistas para que entremos na discussão de como a educação, cultura e ciência se tornaram mercadorias, ou até se será o mercado um sistema de controle automático eficiente o bastante para que seja sensato delegarmos a ele o controle da alocação social de recursos, e a determinação dos rumos do desenvolvimento da educação, a ciência, a tecnologia e a cultura.

O texto do Contardo discursava sobre o movimento antipolítico que enxerga tanto no país em que reside – Brasil – como no de sua origem – Itália. Nas palavras dele: ‘A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção - com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.’ E, mais para frente: ‘A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é?’

Esse contraste sempre presente no movimento antipolítico de que somos o contrário dos políticos corruptos, ou seja, honestos, sempre me leva a pensar na compra de cartas de motorista, em primeiro lugar, e depois a todo o tipo de vantagem que as pessoas sempre estão pensando em tirar do Estado, visto como imoral, antiético.

Além disso, e agora conectando ao Adam Smith e sua mão invisível. Sua teoria diz respeito aos vícios privados que levariam a benefícios públicos. Assim, havendo ética, o bem público não se dá, e não há avanços, crescimento e blábláblá. Coisa que inclui também a corrupção.

Daí que eu acho isso uma grande bobagem, mas chega-se ao ponto do texto de ConCa. O que a corrupção, se é que traz, oferece de bom ao bem público? E aqui ele fala um pouco sobre o sentido de comunidade com união e reconciliação como esse bem público.

Veja:
'Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos. '
Discutido esses textos com o Paulo, tomei conhecimento do liberal Stuart Mill, que tem a visão de "egoísmo bem entendido" como algo bom para a sociedade. Assim, as ações de cada um buscando seus próprios interesses levarão no final a um "bem comum". Isso porque a interdependência não vai permitir que o egoísmo de cada um se sobreponha, agindo para que os interesses se acomodem e convirjam para algo bom pra toda sociedade.

Ao lado dele, o Weber faz a distinção entre "ética da responsabilidade" versus "ética da convicção". Os políticos profissionais teriam que se mover pela "ética da responsabilidade", já que, para ele, fazer política é acomodar interesses, negociar, etc. A convicção não permite acomodações e compromissos . O Weber tem o pensamento bem mais próximo ao que eu acredito como 'verdade', se esta for a palavra certa para dizer sobre a reflexão para uma mudança que acredita e credita ao homem como indivíduo e como grupo essa responsabilidade.

Há também a fábula das abelhas, de Bernard de Mandeville. Ele influenciou essa teoria do Adam Smith, além de ter impactado muitos outros teóricos, inclusive o Karlão e o Engels. Segundo soube, ele não foi muito bem recebido, obviamente, já que dizia que não é possível progresso e ética andando de mãos dadas. E como ele defendia o mundo das benécies da riqueza, achava louvável deixar a ética de lado para alcançá-las.

A fábula conta a história de uma colmeia em que havia muita corrupção, jogos de interesses e tudo o que estamos acostumados a apontar como falha no sistema que não nos incluímos ;-\ . Originalmente, a colmeia era formada por dois grupos: os canalhas assumidos e os canalhas dissimulados. Atuavam a lei, a justiça e a participação divina, transformando o vício individual em benefício coletivo. Quando, por fim, Júpiter resolve acabar com os vícios, a colmeia entra em um período de decadência.

O que relaciona o egoísmo e o utilitarismo, então, para que estes pensadores tomassem os dois como consequência um do outro? A maior similaridade entre as duas teorias é que ambas trabalham a relação de prazer e dor. A diferença é o interesse de quem está em jogo em cada uma delas. O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir os seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. Isso, enquanto que o egoísta acredita que somente seus interesses contam. Para ler mais sobre o assunto, acesse http://www.utilitarian.org/faq.html#egoism

Aí vem a pergunta : É sensato confiar a este sistema a regulação das produções culturais, da reflexão sobre a educação, a formação do cidadão? É sensato dizer que um sistema onde essa luta entre interesses ocorre deve governar a educação e a formação do cidadão, quando o único vencedor nessas estruturas sociais deve ser o bem comum? Um sistema egoísta que regule a formação do cidadão trará essa contradição obscurecida e não oferecerá a possibilidade de se perceber que seus ‘jeitinhos’ para conseguir alguma coisa, o egoísmo implícito nessa atitude, é igual àquela que enoja e cria o movimento que diz não à classe política, esta que usa o sistema para benefício próprio. Assim como o Contardo e com as teorias lidas na aula, talvez a antipolítica seja o sinal de uma nova forma de domínio, que está a nos induzir a aceitar nosso "sistema" e pedir apenas gestões mais honestas. Para o ConCa, ela pode ser também, e ao contrário, ‘uma revolta contra a política tradicional, capaz, a longo prazo, de redefinir nossa visão do que é política’. Essa última que eu não consigo ver, mesmo sendo a primeira cara exposta dessas reivindicações.

Para ler o texto do ConCa:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2508201125.htm

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Empacotei e encadernei o meu passado

Para ler ouvindo Roxy Music

O tempo passa muito rápido. E não to apelando para clichês porque eu não tenho mais o que escrever, mas porque eu senti isso ontem ao arrumar minha vida acadêmica todinha em pastas. Eu tinha um baú cheio de tudo o que fui juntando ao longo desses anos de USP, saídas, visitas, aulas, amigos, cadernos e amores.

Resolvi abrir o baú e revirar o passado, sem metáforas. Pegar folha por folha, texto por texto. Escolher o que iria ficar, quem iria embora e separar todos para que eles sejam organizados de forma que eu possa saber o que eu tenho e onde está. Mas daí que eu fui pegando cada um desses textos e viajei para o tempo próximo de quando os li, de quando adquiri cada um deles, sentindo o cheiro daqueles momentos, uma melancolia se instalando, uma saudade de tanto e a percepção de que eu envelheci.

Não é envelheci de ‘estou velha’, mas de amadurecimento, de passar por diversas fases e de ir completando cada uma delas. Fiquei com vontade de ligar para todas as pessoas que estiveram lá comigo, mas algumas (várias) eu nem tenho contato, não sei onde encontrar. Outras já foram para mais longe e o único meio de contato é visual, virtual.

Aqueles vários que continuam aqui são, como eu também sou, outra pessoa, diferente daquelas que foram, que fomos. Somos outros daqueles que se deslumbravam com festas no gramado, com aulas incríveis, com gente linda, com a vida. O que somos hoje? Quem somos? Onde estamos?

Uma vontade de me instalar naquele tempo, levar comigo o meu amor, todos esses textos e voltar a tomar cerveja baratinha nas festas mais divertidas que eu já fui. Com muita lama, um som incompreensível, salsichas sem pão e a noite, sempre a me receber, a me ensinar, a me encantar.

O tempo realmente passa depressa. E quando você percebe, está chorando em cima de uma pilha de papéis que dizem tudo menos sobre o que você está sentindo – saudade.