terça-feira, 28 de setembro de 2010

Adeus

Você morreu, caro leitor.
Em lágrimas, consegui retirar de dentro de meus livros, das minhas gavetas, do bolso de minhas calças, do fundo de minhas bolsas tudo o que tinha seu. Seus raros bilhetes, uma rosa, um carrinho de plástico, um lenço amarelo com bordadinho na ponta, um fio de cabelo seu. Queimei seus livros e joguei no seu túmulo para que você tivesse o que ler - uma página de cada um de seus clássicos preferidos. Queimei para que você não tivesse que viver a dor (que ironia) de ver suas palavras preferidas comidas debaixo da terra. As músicas...quebrei seus cds, risquei os dvds, te pus para fora com todas as suas partes em seu todo. A vibração dos meus sussurros, dos meus pedidos envergohados pela sua atenção.
Joguei rosas amarelas no seu caixão.
Mas dói me despedir de você.
Vai ser duro te tirar de dentro da minha cabeça, do seu lugar no meu coração.
E desatar os nós que nos uniem, pelo menos os que eu acreditava que nos uniam. Você não pertence a mim. E eu nunca tive muito de você!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

segunda-feira - em parceria com Paulo Nogueira

Ele passou a madrugada lendo, jogando, assistindo. No final de semana não teve tempo pra fazer essas coisas, pois não ficou sozinho.
Já de manhã, quando foi enviar a indicação de um blog pra namorada, percebeu que trocaria todo o tempo lendo, jogando e assistindo por alguns segundos do som do ronco dela.


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Ela passou a noite brava de ter que começar tudo de novo. E depois de ter levado bronca pela infância preservada pelos pais. Deitou sentindo falta do braço dele e da mão a fazer carinho nas costas nuas. Adormeceu com pressa, para ver se 5 dias passam como uma noite de sono. E que sexta-feira chegue logo para levá-la de volta para o sorriso gostoso e o abraço aconchegante do coisinho mais doce desse lado do rio pinheiros.

Para ler ouvindo Elvis

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vovô

Ele pendurava as chaves na calça. Tinha bigodes e se escondia na última casa das cidades em que morava. Sempre ao lado do cemitério. Panamá, sua última morada. Ar avermelhado, quente. Longe como quem foi sem se despedir. E foi.

Meio da tarde

Apaixonada, procura nas janelas laranjas de uma enorme tela aquela que a faz parar de respirar. Sem ar procura em suas palavras o motivo das aflições causadas. Desolada espera o próximo contato...amor em lágrimas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vermelho

Entre os lençóis brancos, sua pele vermelha rasgava-se em desejos contidos em seu corpo. Esticava-se em paixões guardadas em segredo. Estirava-se, escolhia-se, sorria-se inteira. Para ele, para ela.

Agarrava-se, enfiava as unhas nas costas, no colchão, na pele. Sangrava de dentro para fora, e de fora para dentro. Sangravam seus olhos e seu corpo latejava, ardia.

Esprimia-se em expressões, em corpos, em excitações. Sentia e vibrava com toques. Desejava o desejo dele que a desejava e a possuia. Ela o possui. Era dela aquele corpo quente que pesava sobre o seu, que esquentava o seu.

Sacrificavam-se. Amavam-se.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Texto encomendado por uma escorpiana

As escorpianas são mestras em drama. Eu sei, porque sou uma delas. E exageradas. Sabem encher a cabeça de coisas que elas mesmas inventam e passam a acreditar nelas como se fossem verdades e fatos conhecidos por todos, menos os ignorantes comuns.
Assim, são pessoas criativas e divertidas, mas também esquizofrênicas e tendem a ficar sozinhas. São tantas histórias na cabeça que falta espaço para criar coisas fora delas. Falta tempo. E como são pouco organizadas, não é possível se dedicar a coisas tão conflitantes como a realidade em que vivem (e já vivem, para que mais?) e a maravilha (ou loucura) que sonham (ou temem).
A intensidade delas é por conta desse foco forçado também. Não é concebível ter duas idéias, duas bolsas preferidas, dois homens. Mas elas mudam de ideia sem dor. E compram uma bolsa nova para comemorar. Ou um sapato. Quem sabe uma bolsa e um sapato... E saem com aquele loirinho bonitinho que vive a olhá-la e ela finge que não vê.
Ser amado, porém, por uma mulher como essa é sorte. Ela é sexy, gostosa (porque, apesar de você achar que isso vem da aparência, dos quilos no lugar, está completamente enganado. Vem de dentro para fora. Ser gostosa é uma atitude.), inteligente e chique dentro de qualquer mundo fashion, do surf (que não é uma categoria para se vestir na minha cabeça, mas...) ao clássico.
Lutam a admitir, mas sabem lá no fundo que são maravilhosas. Só têm medo de parecerem arrogantes. But who cares? Just you, your stupid, scorpio.

Para quem vivia as madrugadas

Hoje em dia, porque nunca foi assim, a manhã é o melhor horário do meu dia. Eu corro um monte na esteira tentando fugir do meu cérebro e consigo bem. Chego em casa feliz da vida, faço café, leio pedaços do jornal cuidadosamente escolhidos, como um pouquinho porque ainda não é possível vida sem alimento sólido, banho, me arrumo e venho cantante trabalhar (?). Até a hora do almoço meu dia parece a melhor visão de vida.

Aí eu almoço. E dá um preguiça...uma vontadinha de poder deitar na grama em algum lugar e dormir um pouquinho...e ler um pouquinho, e cantar um pouquinho. Mas à tarde eu tenho preguiça de fazer tudo isso e qualquer outra coisa também.

À noite acho que a preguiça aumenta mais. Ou a vontade imensa de me jogar na cama como se não houvesse amanhã. A definir. Eu já gastei todas as fichas durante o dia e espero que comece tudo de novo para eu poder afogar meus pensamentos na esteira, derreter milhões de quilos na bicicleta e voltar com o sol incomodando meus olhos para casa que me espera silenciosa.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Cartões de Presente

Escrito para os pais dos recém-nascidos Julia e Pedro. Escrevo por encomenda. Contacte-me. damarismig@gmail.com


Parabéns!

Agora vocês são pais de duas doçuras, Pedro e Julia.

Pequenas partes de vocês, pedaços de seus sonhos, de seus planos, todo o seu futuro. Suas vidas são deles. Pedro é a representação de toda força em um pequeno menino. Julia a delicadeza de todas as vezes que falarem de amor. Os dois juntos formando as lágrimas em seus olhos, o sorriso em suas bocas, o espanto ao ver pessoas tão outras e tão suas.

Encantamento de uma vida inteira. O projeto que será reescrito e revisado a cada novo passo, a cada nova palavra descoberta. Um mundo de possibilidades multiplicado por dois, em duas maneiras de ver a vida, Pedro e Julia.

Esquecendo todas as convenções, jogando para o alto toda e qualquer expectativa, eles surpreenderão vocês, papai e mamãe. Ao chegarem da escola, ao voltarem da casa dos amiguinhos, ao inventarem uma surpresa. Com gravatas como presente no dia dos pais e flores para o dia das mães, acordarão seus domingos de todo o ano com a felicidade que só vocês podem conhecer. E, no caso de vocês, em dobro.

Parabéns pelo novo título de 5 letras – papai, mamãe. De hoje em diante, seus cargos mais importantes, que trarão demandas carinhosamente requisitadas e com o maior amor que poderiam gerar, o mais bem remunerado trabalho.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Adeus, sua vaca!

Desculpe, mas você precisava morrer.

Você precisava morrer para que eu pudesse enfim viver em paz. Viver sem o tormento de sua presença constante na minha cabeça. Viver sem culpar você por tudo o que me dói e me faz mal. Eu te fiz um favor. Entenda assim. Era muita energia negativa direcionada a você. Muita raiva, muita mágoa. Hoje eu posso dizer que te amo. hahaha Mentira! É lógico que eu não te amo. Ainda. Mas o plano é cristianizar o ódio que eu sinto por você e passar a amá-la.

Você complica as coisas. Além de atormentar meus pensamentos, você fazia questão de se fazer presente em carne e osso também. Esse foi o grande erro que você cometeu. Isso e usar esse brinco de borboleta cafona.

Arrancar o sague de sua pele com os dentes, unhas e toda a minha força fez toda a dor que eu sentia se dissipar junto com a sua vida. Foi bom para você? hahahah Foi muito bom para mim. Obrigada.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Do we really need a doctor?

Não te parece fuga procurar um médico por que a vida anda um marasmo? Porque você acha um saco resumir sua semana em ir e voltar do trabalho. Porque você espera mais do que simplesmente acordar, trabalhar e dormir. Porque você quer a mesma disposição que tinha alguns meses atrás. Não te parece absurdo estar na dúvida entre fazer dança de salão, curso de francês ou terapia? Você não fica angustiado de ver que não há motivo algum para sua tristeza? Porque, no final das contas, ou como diria uma péssima professora que eu tive, no final do dia, você nunca esteve tão bem. E agora, mudando o pronome de você para mim, porque eu sei mais sobre mim mesma do que posso supor sobre você que passa por essa página perdida, eu tenho certeza que não há nada de errado. Minha vida anda bem, obrigada. Por mais que meu trabalho esteja ainda longe do que idealizo quando penso em ganhar a vida escrevendo, está bem mais perto do que fazia até 3 meses atrás. Ganho bem mais do que pensei em ganhar esse ano. Namoro o amor da minha vida, por mais cafona que isso possa soar nos seus ouvidos, caro leitor. Por mais que ele talvez nem goste de ler essa referência aqui.

Então, que catzo de problema eu tenho para continuar sofrendo perdida?
Você pode chutar depressão...e eu rebato com constatação. Da merda de vida? Não, bein! A vida não é uma merda. Não o tempo todo. A merda é se ligar que você passa um tempão se preocupando com as contas e esquece de prestar contas aos seus desejos, porque a imediatice da vida está a toda hora batendo em sua porta, pulando no messenger, chegando em e-mails, cartas, e toda sorte de cobranças, das financeiras às pessoais.

Então, eu ando tristonha porque percebi que a vida é isso com alguns momentos de felicidade? É porque eu perdi a ilusão de algo sensacional vai acontecer a qualquer instante? É porque eu espero espero, mas nada vai chegar?

E como chama isso tudo?

Se você disser depressão eu pulo no seu pescoço.

Como chama esse nó na gargante de quem aguarda o que não sabe e nem se vem? Como chama esse desejo de querer dividir, de querer contar e não estar só? Como chama essa necessária solidão que fica cada vez mais melancólica e insuportável, a ponto de me fazer dormir cedo para que o dia seguinte comece mais rápido e que esse termino logo?

Eu sou naturalmente ansiosa e afobada. Não consigo pensar demais para agir mas penso o tempo todo em tudo com todas as possibilidades possíveis. Talvez o nó, a angústia seja disso? Mas eu vou viver assim para sempre?

O pior é que não terei respostas, nem palpites.
Obrigada pelo silêncio.

Reflexões uspianas 2

Durante a aula, a observar a fauna local.


Essas aulas de leitura são o maior absurdo deste ano, porque não dá para hierarquizar as bobagens e picaretagens que eu já passei aqui.
Nós, supostamente, devemos comentar o que achamos de Hegel. Agora, me diz, alguém tá realmente interessado no que eu tenho a dizer? Ou melhor, do I really have something to say?
Chama muito atenção como essas pessoas tão bem educadas, tão intelectualmente desenvolvidas, como elas são burras em etiqueta.
Eu tenho vontade de levantar e gritar 'Para, porra! Levanta a buceta da cadeira e não arrasta! Caralho!'. Mas e aí? Resolve alguma coisa ou só me livra do asco que eu sinto pelas pessoas desse lugar?
Esses momentos de 'discussão' são ótimos para esse monte de egos flutuantes exporem sua majestosa inteligência.
E eu me pergunto sempre o que é que eu vim fazer aqui. Eu tinha um objetivo, um sonho, um plano. Aqui não há espaço para nada disso!

Lack of consciousness

Quando foi que eu parei de prestar atenção às coisas? Qual foi o momento-chave a partir do qual meu cérebro passou a fazer leitura dinâmica da vida? O que houve com o que eu planejei ao longo destes últimos 5 anos?

Eu sinto que leio tudo só com os olhos, enquanto minha mente passeia por outras histórias. Os livros, aparentemente, passaram em branco e eu não guardei nenhuma palavra. Parece que todas aquelas palavras na verdade são outras muitas inventadas e desconexas das grudadas nas centenas de milhares de páginas viradas.

Sabe 'fazer direito'? Eu não sei o que eu 'fiz de verdade'. Eu não sei se o meu maior plano (a concluir) foi processado de verdade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ansiedade

Sentava-se na calçada para ver o mundo passar e, imediatamente, sentia saudade de seu quarto, sua cama, a musiquinha de fundo, seus livros, suas fotos. Não era um despedida para sempre. Só tinha resolvido ler o jornal na calçada, em frente ao seu prédio. Logo voltaria ao conforto do lar, ao colo da mãe com o bolo de banana sempre pronto. Mas essa súbita despedida, por mais curta que fosse, causava tensão, endurecia seu pescoço, arrepiava sua nuca, tremia suas pernas. Desligar-se do seu pequeno mundo e ver o quanto era pequena num outro mundo tão grande doía.

Abria o jornal e tentava ler palavra por palavra, mas quando menos percebia estava a pular linhas, parágrafos inteiros. Não estava lendo, estava correndo para que o caderno acabasse logo e ela pudesse se recolher na cama, encostar a cabeça e olhar pelo buraco da janela.

Dentro do quarto, sua tensão era outra. Esperava que alguém a resgatasse de tão pequenino mundo. Que o telefone tocasse, que alguém a achasse online, que seu e-mail trouxesse uma resposta.

Que respostas esperava? De quem esperava resgate? Por que sua vida vivia na tensão entre o pequeno e o grande universo e ela não achava conforto em nenhum dos ambientes?

Enfiava-se em páginas de livros, detestava ter parado de fumar, ter engordado, não conseguir emagrecer comendo como um coelho, procurava nas telas do computador uma janela que mostrasse que ela estava errada e que valia a pena continuar tentando encontrar um cantinho que fosse no mundo.

Uma hora dormia, cansada. Acordava com o som estridente do celular e uma voz doce 'já disse que te amo hoje?' e seu lugar parecia confortável. A voz que a fazia acreditar que a escrotice é exceção e que vale tão a pena abrir mão do azedume e sorrir. E Poliana, às vezes, é boa inspiração para quem vive a bufar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Barra Funda Segundo Felipe Tonet

Beto sempre foi um garoto franzino. Magro, pequeno, com olhos e cabelos escuros, feito jabuticaba. Ao completar 8 anos, ouviu de seus pais que mudaria para um bairro do outro lado da cidade.

Para Beto foi uma tragédia. Deixar a escola, os amigos da rua, as brincadeiras pela vizinhança, para ir morar em um condomínio num lugar de nome engraçado. Barra funda, pai. Isso lá é nome de lugar para se viver? Disse o garoto.

Seus apelos foram em vão. Seu Maurício, pai de Beto, havia conseguido um novo emprego na Zona Oeste, com o novo salário poderia dar mais conforto para a família e também para si mesmo, diminuindo o trajeto percorrido até o trabalho.

O que parecia um grande drama para Beto, em pouco tempo tornou-se uma alegria. Os novos amigos, tanto do prédio, quanto da escola, viam no garoto uma espécie exemplo.

Por ter morado em casa, e desde pequeno se acostumado a brincar na rua, Beto era o único garoto do condomínio com autorização da mãe para ir sozinho até a padaria, o mercadinho e outros lugares das redondezas.

Trazia dadinho, pirulitos, balas e chicletes e revendia aos amigos, obviamente com um pouco de lucro. Simpático e solícito, o menino também conquistou a confiança das mães dos outros garotos.

Com o tempo virou uma espécie de líder mirim. Era ele que decidia as pendengas entre os colegas, encerrava as discussões e dava o eu veredicto sobre o vencedor das brigas.

Foi Beto também que trouxe para o condomínio a notícia que ouviu na padaria do seu Manoel. Na vizinhança morava uma bruxa, afirmou o garoto uma platéia de 15 colegas perplexos e de os olhos arregalados.

Mora na casa 21, continuou Beto, as pessoas da padaria a chamam de Bruxa dos gatos, pois existem muitos gatos em sua casa, alguns deles PRETOS, disse pausadamente.

E foi Beto que começou a revolução, afinal, como líder, decretou que uma bruxa na sua rua era inadmissível. Imagine que poderes ela poderia ter, pobres cachorrinhos de rua, deveriam virar sopa, imaginou.

Os garotos escreveram diversas cartas com palavrões, todos os que sabiam, e Beto colocou por baixo do portão da casa 21. Depois, com o máximo de força que conseguiam, jogavam bexigas com água das janelas de seus apartamentos para acertar o quintal da casa da Bruxa.


Em sua ação mais ousada, Beto saiu do condomínio com um giz de cera para escrever bruxa na calçada da casa 21. Quando terminou a letra B, olhou para o portão e viu uma simpática senhora, com um cheiro esquisito e um gato no colo.

Em choque, Beto não teve reação. Cada segundo parecia uma eternidade, eles se entreolhavam. A idosa quebrou o gelo e disse. Aqui no meu quintal caem muitos pipas, nunca ninguém vem buscar. Se você quiser, pode passar toda segunda que eu entrego eles para você.

Gaguejando o garoto agradeceu e disse que na próxima segunda voltaria. E voltou. Muitas outras vezes também. Ganhou pipas, doces e uma estranha amiga.

No prédio ninguém nunca mais incomodou a simpática senhora. Beto, agora alçado ao cargo de divindade, ou garoto amigo da bruxa, proibiu os colegas de falarem mal da senhora do 21.

Ótima ideia pai, dizia Beto, eu adoro a Barra Funda.

São Paulo

Todas as portas abrem-se para um mundo completo que se fecha nas paredes, se enfia em frestas e se amontoa em esconderijos. Cada janela recorta a claridade de poucos momentos, as sacadas apresentam cenas da vida que jorra na cidade que dizem nunca dormir. Há histórias, porém, adormecidas em cada um desses quadrados, em cada um dos pedaços de uma babilônia extensa e perdida nas colinas esfaltadas.

Durante a noite, os minutos que antecedem o adormecer trazem uma imensidão de pensamentos despertados por preocupações do dia, da vida, paixões, intrigas, sonhos. A mente pode nos levar a lugares nunca antes imaginados. Pode nos levar a inquirir sobre quem mora ao nosso lado, quem foge de nos encarar pela manhã e responder ao nosso bom dia, pode nos fazer refletir sobre um possível amor perdido (ou encontrado), sobre o passado que insiste em ser presente, sobre o futuro que desejamos e que é necessário para fazer com que a noite seja mais tranquilamente dormida. Os medos e as paixões que nos movem de manhã, conteem-se nesse momento para que o corpo possa relaxar, se conseguir.

Assim como as pessoas, os bairros da cidade parecem compartilhar essas características, parecem se antecipar em criar uma história, em modelar um mundo para abrigar milhares de outras dentro de seus limites, e misturar seu destino com o de seus habitantes. Cada pedaço de São Paulo, melancólico, alegre ou coorporativo, pode levar muitos casais a se encontrarem, tentativas de suicídio frustrarem, amores serem perdidos. Cada história conta São Paulo e São Paulo narra muitas vidas.

A série de contos postados nos últimos dias tenta alcançar o entrelaçamento de pessoas e suas moradas. Por enquanto, são pequenas introduções do que pode vir a ser uma longa história. Aproveitem e comentem!

Perdizes

Ela é bem resolvida, meio maluca mas bem resolvida. Acho que queria malucar por aí, mas se segura. Não se abala facilmente, controla-se, sabe lidar com rejeição, com sua auto-suficiência, com sua personalidade forte.

Ela é linda - bonita, interessante, simpática. Ela me acrescenta. Ela sabe o que dizer, mesmo que eu não esteja mais afim. Mesmo achando que eu possa ainda estar afim. Mesmo lembrando de seus peitos e sua bunda. Mesmo lembrando do sorriso dela. Mesmo dizendo. Ela ri. Ela sabe lidar comigo.

Eu...eu não sei bem o que quero. Talvez eu queira um pouco de tudo. Talvez por ela eu não abra mão de um pouco de tudo. Talvez ela também não abrisse mão de um pouco de tudo na vida tão cheia por um menino da balada. É isso que eu sou. Um cara da balada que ela beijou numa noite bêbada na São Paulo cinza.

Talvez eu prefira facilitar minha vida, simplificar. Talvez ela não queira se envolver. Talvez não precise. Talvez eu possa rir com ela e talvez ela possa não se importar muito com isso - comigo.

Eu não preciso pensar em nada disso. Mas ela me fez pensar. Fez com que eu pensasse na forma como lidamos um com o outro. Ela acha que eu sou amigo dela. Eu queria fazer outras coisas com ela. Eu acho que posso. Eu acho que talvez ela também queira fazer outras coisas comigo. Talvez não se importe.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Brooklin

Eu vi meu sobrinho na calçada oposta e brequei. Meu pé afundava-se no acelerador e eu ia estourar o muro se não tivesse encontrado os olhos de Pedro do outro lado da rua. Eu ia dar um fim na loucura dolorida que apertava meu peito há 20 anos. Iria deixar entre o muro e o poste toda a obsessão, a doença chamada Carlos.

'Entra aqui' gritei a ele. Gritei implorando ajuda. Meus olhos devem ter assustado o garoto. Olhos vermelhos, inchados de tristeza, de incerteza, de amargura. Gritei pela minha vida, que já não era minha, que já escorria pelas minhas mãos, já doía a culpa da minha recente intenção.

Minha morte seria talvez uma forma de limpar tanta mágoa, humilhação. Apagaria de dentro de mim, que não existiria mais. Eu não seria mais nada do que um corpo preso entre a lataria daquele carro velho, acabado, enferrujado.

Dei a volta no quarteirão e a avenida para o minha casa. Voltava correndo no dia azul, aberto para o abraço da minha irmã, para o meu quarto sozinho, vazio. O verde que beirava meu caminho me levava para aquele dia no bar do centro, aquele dia que encontrei na boca daquele homem as palavras que esperei escutar e o olhar que esperei para me atirar.

Eu tinha acabado de fazer aniversário - 35 anos. Uma jovem, não tanto, mulher solteira. Uma mulher que já havia sido abandonada no altar, que já havia ouvido promessas para toda a vida e que agora bebia numa mesa de um bar, sozinha, comemorando a decepção de uma vida insatisfeita.

Tinha visto-o encostado no bar pedindo bebidas. Vagarosamente aproximava-se da minha mesa. 'Posso sentar com você?' 'Claro, por favor'. Retirei correndo minha pequena bolsa vermelha de cima da mesa derrubando meu copo de uísque. Desastre. 'Desculpa' 'Imagina, deixa eu te ajudar'. Enquanto nossas mãos secavam todo o meu desconserto eu suava e respirava forte, no ritmo da minha ansiedade.

Recusei suas mãos mas aceitei o presente de seus beijos. Um doce para equilibrar a acidez da idade 'avançada'. Fiquei sentada no chevette velho com perfume de rosas olhando para o vazio do estacionamento. Algumas imagens pareciam-me mais brilhantes, mais nítidas e, se me permitem a pieguice, mais coloridas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Barra Funda

Pouco se ouvia e se via naquela casa azulada, aquelas paredes rabiscadas pelo tempo, desinfetadas pela chuva, lavadas pelo vento. Os tijolos aparentavam uma centena de anos descuidados, desprotegidos, usados.

Sabia-se que lá morava uma senhora com algo perto de setenta anos, pedia comida como se morassem dezenas de pessoas junto com ela. Seus olhos se escodiam no vão da porta para receber o saco de pão, os doces, bolos, chocolates, biscoitos, sucos e sempre uma outra coisinha, 'a vontade do dia', como diziam.

Era sempre agradável, sabia sobre os familiares dos entregadores, dava boas gorjetas, sorria e se trancava novamente entre as paredes que se seguravam nos muros vizinhos para não cair.

Seu dia não começava se antes não tomasse banho, pingasse gotículas de alfazema na ponta das orelhas, jogasse água para seus 7 gatos e sentasse na poltrana vermelha com uma grande caneca de café. O dia não começava direito se não ligasse para ouvir a voz da menina que agora era mulher. Sua vida não começava se ela não sentasse em frente à janela, olhasse para o céu entre as árvores e pensasse o quanto da vida largava para os vãos das portas e das cortinas semicerradas.

Alguns meninos do bairro achavam q ela era uma bruxa. Outros achavam que era louca. Muitos pensavam que ela vivia muito bem e que a deixassem em paz. Muitos outros, em bandos, esticavam os olhos para ver a mulher que era sempre o assunto do balcão da padaria. Uma que nunca viram. Tudo pelo mistério de ver quem não quer ser visto.

Ela vivia a esperar que a menina viesse visitá-la e comesse tanto dos bolos e doces e tomasse café e contasse da vida e reclamasse do trabalho, comentasse a roupa da moça na tv, pedisse para pregar um botão no seu casaco novo e lhe desse um beijo de boa noite-até.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Alone

Se olhar ao redor vai entrar em desespero.
Se esperar vai morrer de angústia.

A falta de um olhar, de compreensão, de uma resposta.

Refugia-se no passado e sua trilha sonora, suas palavras. Uma imagem para as mil palavras que correm em sua cabeça.

Corre para o mais fundo que pode ir em si mesma, único lugar que consegue entrar. Onde está a capacidade para encantar, para acalmar, para amar?

Em tão duro sofrimento, perde a luz e esconde-se na escuridão.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lua Cheia

Se você me pedisse para ficar, eu ficava para sempre!

O seu silêncio me atormenta. Invento com ele, por ele, desculpas diversas para um fim que eu temo chegar mas que, inconscientemente, me preparo. O seu silêncio me consome. Enlouquece.

E eu preciso tanto de palavras. Do vazio eu tive por muito tempo que tirar esperança, paciência. Hoje eu quero palavras que me acalmem, que me garantam que você está aqui, e que eu estou aí dentro do seu peito.

Eu não sou Banana!

Todos os dias, às 16 horas, há alguns anos, independentemente da minha felicidade com meu empregador, eu tenho uma crise de ansiedade insuportável. Minha concetração se esvai, meu estômago dói, minha cabeça começa a pensar em milhões de coisas ao mesmo tempo, preocupações das mais bobas, saudade, irritação, muita irritação.

Qualquer tipo de 'problema' vira um dramalhão mexicano nesse horário. Eu começo a tarde pedindo desculpas pelo mal-estar de conversar com uma louca da tarde via instant messenger no lugar de uma bela do mesmo horário nobre.

São conversas sempre truncadas, nunca objetivas, sempre dão milhões de voltas e nunca chegam ao ponto que as originou. Se é insuportável para você, meu amigo, imagina para mim, que sei exatamente da minha loucura e não consigo controlá-la? Eu dou voltas no quarteirão, morro de vontade de fumar um cigarro, comer um chocolate, mas me controlo e acabo demonstrando minhas fraquezas e todo o desenvolvimento de minhas elucubrações a você, amigolino internético.

Eu tenho certeza que você também passa por situações como essa, mas guarda para você. O problema é que para mim, em qualquer conversa, qualquer contexto, durante esta hora da tarde, eu enlouqueço e vejo tudo quanto é detalhe insignificante com uma lupa enorme e potente e me apego às coisas mais imbecis, inventando impedimentos que estão escondidos lá dentro na parte burra do meu cérebro.

Esse momento também traz lembranças das mais devastadoras quando eu não tenho sorte, porque às vezes não cabe mais uma coisa para pensar e minha hora fica ocupada SÓ com esse quadro grotesco aí de cima.

Assim que dá 17h tudo isso acaba e eu morro de vergonha da minha crise de sinapses.

Agora, você me chamar de banana porque eu me preocupo com as pessoas, nessa hora mais porém menos racionalmente, é bastante incoerente. Depois de ler tudo isso, convém mudar de ideia! E dê uma olhada também no post 'Escorpiana Feelings' que dá para sacar muito da minha personlidade insana e intensa. Aí você vai tirar essa banana da boca, i'm sure!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Medo

Sentia muito medo e nem sabia defini-lo. Nem sabia de quê porque nunca soube que era isso que sentia. Nunca ligou o nome a pessoa, sabe? Procurava sempre uma forma de encontrá-lo, de falar com ele, mas sua cabeça se arrepiava dependendo do tom de sua voz, da resposta online, da pergunta que fosse proferida depois do 'tudo bem e vc?'.

O formigamento começava na cabeça e pulava para o estômago. Como se estivesse acontecendo tudo ao mesmo tempo, mas fossem processos separados. Subia pelas pernas e ardia nos olhos. Doía. Doía bastante, mas era uma dor como que em cima do corpo, superficial, mas muito lá dentro, bem profunda. O corpo todo ficava quente, o rosto, o peito, extremamente esquisito. Doía tanto. Depois, como se tudo aquilo não coubesse dentro do corpo, explodia no rosto e escorria pelos olhos. Molhado.

Com uma dor forte no peito, parecia que o mundo todo ia cair em sua cabeça porque os ombros não aguentariam tamanho peso. Tudo desabaria daquilo que contruiu tão bem construidinho. Todos os pedaços do inteiro agora eram só pedaços e juntá-los demorava e pulsava em suas mãos. Não havia travesseiro que agarrasse que diminuiria a pressão que sentia no estômago.

Depois de doer e apertar, uma hora, que ela nunca lembrava quando, as coisas se apagavam, os olhos fechavam para secar e ela dormia.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Escorpiana Feelings

Um dia as coisas ficam mais fáceis? Será que a gente reclama demais? O dia vai passar menos dolorido em breve? O trabalho vai ser mais bem reconhecido por mim e por quem interessa? Daqui uns anos essa insegurança dá espaço e me deixa respirar? Eu vou saber o que eu quero mesmo quando eu já tiver o que quero? Vou continuar precisando de aprovação até quando? O mundo vai começar a girar ao meu redor a partir de quando? Ou onde? O que eu disser vai ter algum valor a partir de quantos salários mínimos? Ou a partir de quantos fios de cabelo branco devidamente escondidos? Minha família vai sempre saber que eu amo todo mundo mesmo quando eu não concordo com o que eles dizem? Meu namorado vai um dia entender que eu sou escorpiana e não esqueço nunca? De nada! Meus irmãos um dia vão parar de brigar comigo e viveremos numa comunidade hippie com 7 filhos cada um? Minha mãe vai entender que minha angústia é só medo de rejeição? Minhas lágrimas vão parar de sair na hora errada? Meu estômago vai parar de doer de ansiedade quando eu conseguir o que eu nem o que anseio? Meus textos terão o tom que eu imagino quando estou pensando neles no ônibus? Vou conseguir deixar as ideias fluirem ao menos uma vez ao dia? (não é pedir muito) Vou ficar rica com meu próprio negócio soon? Quando vai ser menos difícil dizer que eu amo, que eu quero, que eu sinto ciúmes, que eu sou apaixanoda, que eu me jogo, que eu vivo intensamente senão não consigo, que a vida é uma só e eu levo isso muito a sério, que você é o amor da minha vida de verdade, com toda pieguice a que tenho direito? Quando vou parar de tremer com suas ligações noturnas, matutinas, vespertinas, para dizer bom dia, que me ama, que está lendo sobre futebol e que eu ia pirar com todo o Saussure que exite na sintaxe de um jogo? Quando vou entender que eu não preciso mais te esperar que você já faz parte de mim, que eu sou parte sua, mas que, definitivamente, e graças a deus, somos duas pessoas bem separadinhas? Quando o meu dia completa com você, quando minha vida faz sentido nos seus olhos e quando eu não tenho a menor vergonha de gritar para todo mundo o quanto eu sou sua!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Starting over

Todas as vezes em que abri o blog nos últimos tempos, escrevi no máximo três linhas. Período difícil para organizar as ideias e transcrevê-las à minha maneira. Todas as vezes em que li o blog senti uma saudade imensa de quando meus dedos corriam pelo teclado tentando acompanhar a rapidez com que o texto formava-se na minha mente (bem como agora, quando a caneta insiste em dificultar o movimento. E é tão bom.). Chega a ser libertador de tão piegas.

Por esse longo tempo, a sensação que eu tinha era que escrever tinha sido uma fase e que eu já tinha secado de possibilidades, ou de oportunidades, como preferir. A minha tristeza era supor que, talvez, o meu maior desejo não mais pudesse se consumar. Não mais pudesse me satisfazer.

Eu, que sempre intui, erroneamente, que escrevia melhor na dor, dolorida me era impossível escoar. Culpava inclusive a mesma dor que me fora tão fértil por longo período da seca que corroia tudo o que poderia virar palavra dentro de mim.

Agora, com poucos dias de liberdade conquistada às custas de um ano bastante difícil e nada satisfatório, abro meu caderno de anotações com uma garrafa de cerveja à minha frente e preencho linhas e parágrafos de quase um desabafo, não fosse meio misterioso, explicando bem pouco a quem não me conhece o suficiente para ter um dia ouvido algumas de minhas lamúrias.

Eu me sinto de volta, como se tivesse passado uma temporada num curso de férias, aprendendo algo que me era bastante importante mas extremamente difícil. Como se eu tivesse morado fora do país e sido obrigada a criar uma identidade em outra língua e não tivesse me adaptado, como se tivesse incorporado uma entidade ou identidade no sentido umbandista do verbo.

Eu sei que não devemos comemorar antecipadamente, mas olha para cima e veja quantos paragráfos eu escrevi, ou senta comigo para tomar uma e veja que as olheiras hoje em dia são só de uma canseira feliz e de dever cumprido, e não de decepção e sentimento de incapacidade.

Eu estou de volta, meu bein!
Aguarde mais porque as ideias estão pipocando na minha cabeça.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Escrava Isaura

Projeto da Editora Ática de adaptação do romance brasileiro de Bernardo Guimarães com dicas de abordagem na sala de aula. Edição dedicada a alunos da sétima/oitava série.

Foi o melhor freela que eu fiz em todos os tempos. A maior delícia escrever sobre literatura, contexto histórico e movimento literário sem o pedantismo e conservadorismo acadêmico e com a liberdade criativa que me fez entrar no curso de Letras.

Segue e aguardo mais sugestões e críticas. Se houver algum leitor que seja professor e que teste essas dicas, mande o feedback, por favor.


Faz parte do conceito Romântico o desejo de se diferenciar. Assim, não é permitido chamá-lo de Escola Literária, mas um movimento literário que apresenta constante ruptura, instabilidade e mobilidade. O crítico alemão romântico Friedrich Schlegel definia literatura em geral como poesia e como uma universal progressiva: em mudança permanente, onde nada lhe é alheio e a literatura é uma revolução que preza a contradição, fundamentalmente. Tradição da ruptura. O Romantismo é, então, um movimento que agrupou ideais políticos, artísticos e filosóficos e se caracterizou por uma visão de mundo contrária ao racionalismo neoclássico. Suas principais características como movimento artístico são: ter como principal preocupação a centralização do indivíduo, a partir do qual se geram reflexões e para o qual essas se voltam, marcando a produção pela subjetividade; a linguagem retórica, que é o veículo e o obstáculo da expressão das emoções do eu, já que a língua é vista como instituição social, um recorte da realidade que pode ou não exprimir o que o autor deseja ('Quando a alma fala já não fala a alma.', Mário de Andrade); e o sentimentalismo exacerbado, apresentando como temas principais os sentimento intensos, como amor e a saudade, por exemplo.

O amor romântico é aquele que visa o reconhecimento da infinitude da subejtividade do sujeito pelo outro, não demandando, porém, este reconhecimento por imposição, mas pelo abandono de si no outro, tomando consciência de si pela consciência do outro. Esse é o amor totalizante a que o Romantismo dedica tantas páginas e versos, com o abandono irrevogável e por meio de uma curiosidade infinita. O amor é a religião profana do sentimento. Assim, Bernardo Guimarães não podia escolher outro sentimento para expor a contradição existente na obra - escravidão X liberdade - senão por meio do amor. O único refúgio de liberdade de Isaura é o seu amor e, portanto, é por causa dele que ela passa por diversas privações ao longo de todo o romance.

Bernardo Guimarães, que nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 10 de março de 1825, formou-se em Direito pela Universidade de Direito de São Paulo, 1847, cidade na qual conheceu e tornou-se amigo dos poetas com os quais fundaria a Sociedade Epicureia, Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa. Segundo o crítico literário Antonio Candido, a sociedade foi um "ponto de encontro entre a literatura e a vida, onde os jovens procuravam dar realidade às imaginações românticas". O nome foi inspirado em Epícuro, filósofo grego que defende em sua obra o gozo dos bens materiais e espirituais do mundo com ponderação e medida. Seus opositores, principalemte religiosos, que lutavam contra o materialismo, desvirtuaram sua doutrina, e Epicurismo tornou-se sinônimo de busca exclusivamente material e prazeres terrenos, conotação (e prática, segundo relatos não muito confiáveis do povo de sua época) que foi usada pelo grupo de Guimarães. O que se sabe do grupo, realmente, é que foi por meio dele que se consolidou, no século XIX, em São Paulo, uma intensa produção literária estudantil, garantindo a homenagem do Patronato da Cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras ao autor de 'A Escrava Isaura'.

O Romantismo é o momento da consolidação da hegemonia burguesa e a consequente constituição do Estado através de sua independência, pois buscou na paixão nacionalista uma forma de consolidar os estados nacionais na Europa. No Brasil, o Romantismo encontra amparo político na figura de Dom Pedro II, político louvado por sua postura em favor da educação e cultura, fim da escravidão e sua atitude diplomática e, em alguns casos, próxima para com personalidades do mundo todo. ''Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.' Frase atribuída ao imperador que demostra sua preocupação em relação às ciências e seus pensadores.

A economia do segundo império baseava-se principalmente na agricultura, tornando o café o principal produto exportador do Brasil durante o reinado de Pedro II, substituindo a cana-de-açúcar, fazendo com que a economia crescesse consideravelmente. Estruturada na monocultura, a economia prosperou quando produziu mercadorias de grande aceitação na Europa sem muitos concorrentes, primeiro com a cana e agora com o café. Centralizada principalmente no Sudeste, a cultura do café forneceu uma sólida base aos grandes proprietários da região. A mãe-de-obra escassa acelerou o processo abolicionista e atraiu milhares de imigrantes para trabalho na lavoura, que, além dos braços, trouxeram a experiência das fábricas, impulsionando a economia industrial no país.

O processo do fim da escravidão no Brasil deu-se a partir da primeira metade do século XIX, quando a Inglaterra passou a contestar o tráfico de escravos, o que prejudicava seu objetivo de ampliação do mercado consumidor ao redor do mundo. Assim, criou a Lei Bill Aberdeen em 1845, proibindo o tráfico e dando poder à Inglaterra para abordar e aprisionar quem ainda praticasse, agora, o ato ilegal. Com o apoio de D. Pedro II pelo fim da escravidão, em 1850, O Brasil criou a Lei Eusébio de Queiróz, acabando com o tráfico negreiro no país. A partir daí, as leis que foram instituidas visavam libertar os escravos considerados mais fracos, como a Lei do Ventre Livre, que garatia a liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir de sua instituição, e a Lei do Sexagenário, promulgada em 1885, que garantia a liberdade dos, poucos e raros, escravos com mais de sessenta anos. Até que, no final do mesmo século, a escravidão foi proibida mundialmente e, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.

Apesar do tema do romance ser a história de uma escrava e de ter sido escrito e publicado no período abolicionista, e apesar da inserção de frases abolicionistas na fala de alguns personagens, como Álvaro e seus amigos, o livro não se alonga muito na descrição do sofrimento causado pelo regime escravocrata, não sendo um romance que pretende denunciar as violências do regime. Sua preocupação está em contar a história de uma escrava virtuosa e seu senhor cruel, criando empatia entre a personagem e o leitor. A aparência da escrava denuncia a forte influência romântica europeia de Guimarães e sua preocupação em corresponder às expectativas do público leitor da época, mulheres da sociedade apreciadoras de histórias de amor, distanciando-se da seriedade de uma denúncia. Sua beleza branca e pura causou críticas severas acerca de seu posicionamento sobre o assunto, porém, condizia com o ideal de beleza de então.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Girls Night Out

Chegar por volta das 23h na Augusta e descê-la era uma balada por si só. Um monte de gente se aglomerava em frente a alguns bares da Fernando de Albuquerque e para baixo. Uma parada em um deles garantia que a balada começasse na hora certa, além de sempre adiantar divertimento e graça.

Havia muitas filas, mas não lembro de passar horas em nenhuma delas. Dava tempo de fumar uns 2 cigarros e terminar o copo de Campari ou uma latinha de Skol. E, nessas filas, as pessoas se mostravam interessantes, pelo menos algumas delas, mesmo que fossem blasès, mesmo que fizessem carão, assim mesmo havia o que olhar sem recriminação, sarro ou mero desdém.

Sexta-feira nunca foi o melhor dia para sair de casa, mas sempre é um dia que se pode sair, e desde que eu me lembre, é um dia especial para fazer alguma coisa.

Mas nada disso existe mais como eu conhecia. Os lugares, os mesmos, ainda estão lá, mas não são mais os mesmos. As pessoas interessantes se transformaram em anomalias fashion, as filas se multiplicaram e engrossaram, barrando o caminho das calçadas. Assim, se você tiver disposição de entrar em uma delas, conseguirá tomar milhares de latas de Skol e fumar maços cheios de cigarro.

A minha impressão é que há um culto do grotesco do baixo augusta e que ele foi transferido para as ruas, com pilhas de lixo aglomeradas nas guias, gente confusa e pouco à vontade com a imagem que mais parece satisfazer o grande público noturno da região e muita gente desinteressante, todo mundo muito igual aos outros, contrariando o desejo 'secreto' de serem diferentes.

Eu acabei fugindo de lá e talvez demore muito a voltar para a noite daquela parte saudosa da cidade. Caí em Pinheiros e o Matrix virou a nova Funhouse. Uma surpresa boa, ao menos.

E tudo isso pode ser chatice de gente que está ficando velha antes da hora.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ADOTEI PENNA (PV)

AS FUNÇOES DE UM VEREADOR

O vereador, de maneira geral, é o representante do povo. No exercício desta função, o vereador é o fiscal dos atos do prefeito na administração dos recursos do município expressos no orçamento. O vereador também faz as leis que estão dentro de sua competência, e analisa e aprova as leis que são de competência da prefeitura, do executivo. Em resumo, o vereador recebe o povo, atende as suas reivindicações e é o mediador entre o povo e o prefeito.

Como que o vereador fiscaliza o prefeito?
O vereador pode e deve visitar os diversos órgãos da prefeitura, onde toma conhecimento de tudo. Ele pode, ainda, fazer os pedidos de informação ao prefeito por escrito. O prefeito não pode deixar de responder e tem um prazo de 30 dias. Se ele não responder estará cometendo uma infração político-administrativa e pode ser punido por isso.

Como que um vereador faz as leis?
Através de usa assessoria, o vereador elabora e redige os projetos, apresentando-os, em seguida, em plenário. Este projeto é declarado objeto de deliberação pelo presidente e manda abrir o processo. Em seguida, o projeto vai para as diversas comissões da câmara e passa por duas votações. Depois disso, o projeto aprovado vai para o prefeito que pode sancioná-lo ou vetá-lo, ou nem um nem outro.

O que é um projeto vetado ou sancionado?
Depois de aprovado na câmara, o projeto vai ao prefeito que pode vetá-lo, isto é, recusá-lo, ou sancioná-lo, isto é, aceitá-lo como lei. Se o prefeito não veta ou não sanciona, o projeto é promulgado como lei pela câmara dez dias depois. Existem os projetos de resolução e o decreto legislativo: o projeto de resolução serve apenas internamente na câmara, e o decreto legislativo serve para prestar homenagens e suspender os efeitos de atos do executivo considerados lesivos ao interesse público.

O que é tribuna livre?
A tribuna livre é a oportunidade que a câmara oferece aos cidadãos e cidadãs de se manifestarem em plenário. Qualquer cidadão pode utilizar-se da tribuna da câmara para fazer a defesa ou manifestação sobre assuntos que não ofendam a moral e os bons costumes e nem atentem contra os poderes constituídos. O uso da tribuna livre obedece a uma série de regras fixadas, inclusive um tempo e tema pré-determinados junto à mesa diretora da câmara.

Um vereador pode perder o mandato?
Pode sim. O vereador pode perder o mandato de duas formas: primeiro, por faltar a mais de 2 terços das sessões ordinárias da câmara no período de um ano; segundo, por usar mal o seu mandato na prática de atos de corrupção e faltar contra o decoro parlamentar. Há o caso, também, de o vereador renunciar espontaneamente ao seu mandato.

O vereador tem obrigação de atender fora do horário da câmara?
A rigor, o vereador não tem obrigação de atender fora do seu horário de trabalho em plenário. Isso pode ocorrer em circunstâncias especiais. Porém, o vereador, como agente político, sozinho ou acompanhado de seus assessores, pode e deve fazer o atendimento aos seus eleitores nos bairros, vilas e centro da cidade. O vereador, também, não é obrigado a ficar o tempo todo em seu gabinete como pensam muitas pessoas. Nem os seus assessores. Constitucionalmente o trabalho de um vereador e de seus assessores não se limita apenas ao plenário ou ao prédio da câmara.

O vereador é obrigado a dar dinheiro ao povo?
Não. O vereador não tem obrigação e nem deve dar dinheiro a ninguém. O dinheiro que ele ganha é fruto do seu trabalho, numa determinada quantia fixada por lei e aprovada em plenário. Se for de sua vontade, o vereador pode ajudar dando dinheiro em ocasiões de emergência, como faria qualquer cidadão. Dar dinheiro educa mal o povo, pode parecer esmola e o que é pior: pode caracterizar compra de votos, o que é proibido por lei.

As sessões da câmara são públicas?
São públicas e o povo tem o direito de comparecer e assistir aos trabalhos dos vereadores em plenário. Afinal, o povo que elegeu os vereadores tem todo o direito de acompanhar o trabalho de seus representantes escolhidos para governar a cidade. Se o povo acompanhasse de perto a todas as sessões, seria um belo exemplo de participação popular e cidadania.

O que aconteceria se não houvesse uma câmara de vereadores?
Para quem gosta de ditadura seria excelente. Haveria uma economia de dinheiro, mas seria um grande prejuízo para a liberdade que assim estaria perdida. Uma câmara de vereadores como poder legislativo é a garantia de liberdade de um povo porque os seus representantes são escolhidos e eleitos pelo voto popular. A câmara municipal é a célula da democracia. É ela que evita, em primeira instância, o surgimento dos tiranos e dos ditadores.
Quais são as verdadeiras funções do vereador?
Segundo a lei orgânica municipal e a própria constituição federal, o vereador é membro do poder legislativo, eleito pelo povo, que tem como funções: legislar, ou seja, criar leis que tornem a sociedade mais justa e humana; a fiscalização financeira; e manter o controle externo do poder executivo municipal, principalmente quanto à execução orçamentária ao julgamento das contas apresentadas pelo prefeito.

Com o passar dos tempos, os verdadeiros atributos do vereador foram se desviando de seu rumo legal e ele passou a ser um “despachante de luxo”, exercendo funções das mais variadas possíveis, na grande maioria das vezes por culpa do próprio político que, explorando as dificuldades e miséria da população, preferia obter o voto fácil em troca de favores dos mais diversos. Hoje, porém, a situação está mudando, a população tem tomado consciência das legítimas obrigações do vereador, exigindo dele uma participação mais efetiva junto à sua comunidade e categoria. Os cidadãos já sabem, por exemplo, que asfaltar e sanear é obrigação do poder executivo, do prefeito, cabendo ao vereador indicar e fiscalizar.

O vereador é o legislador mais próximo do cidadão, uma vez que o deputado estadual se desloca para a capital do estado, e o deputado federal e o senador ficam ainda mais distantes, em Brasília. Em virtude desta proximidade, o vereador é o mais cobrado no atendimento dos anseios e necessidades dos munícipes que, quase sempre, são problemas relacionados à competência do poder executivo.

É seu direito e dever cobrar do vereador uma atitude de modo a apresentar proposições e sugerir medidas que visem o interesse coletivo, a usar a palavra de autoridade constituída em defesa do município e de seus habitantes, participe, sugira, debata. Cobre de seu vereador uma posição de real legislador e de fiscal dos poderes.

Lembre-se: não podemos esperar que algo aconteça ou que alguém tome conta dos problemas. Conseguem melhores resultados os que apresentam soluções, que aproveitam a iniciativa para fazer tudo o que é preciso em harmonia com seus princípios, para que as tarefas sejam cumpridas.

Matéria retirada do Site Vereadores.net no link: http://tinyurl.com/ykos6pm
Fonte: Blog Vavá da Luz (texto de Wilson Rodrigo da Cruz)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Trabalho trabalho e trabalho

Queridos, estou precisando aumentar um bocado minha renda e investir na minha experiência fazendo coisas novas.
Sou formada em Letras. Trabalhei bastante tempo da minha vida profissional com internet, começando na Livraria Cultura com a alimentação do conteúdo do site com resenhas de livros, dvd's e cd's.
Dei aula de línguas, inglês e português, para todas as idades, todos os níveis.
Depois de cansar de ser dura, fui para o Yahoo! Search Marketing e entrei em contato com o mundo publicitário, executando a criação, revisão, padronização, otimização e análise de campanhas de links patrocinados de anunciantes de pequeno, médio e grande porte. Hoje, estou na Trip, faz um ano e meio, revisando as revistas da Natura (catálogo e Consultoria).
Eu escrevo, reviso, traduzo, danço samba e canto jazz (aliás, já fiz versões de jazz para Beatles e Iron Maiden).

Available. Mande e-mail e converse comigo: damarismig@gmail.com

Agradiiicida

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Segunda

Há dias que devíamos poder escolher e pular. Dias que a tristeza aperta o peito, que a desilusão é o único caminho para tudo o que possamos e conseguimos pensar. Aquele nó enorme e seco na garganta, a dor nas costas, a canseira no corpo. Uma vontade imensa de estar longe de tudo e dentro de um enorme ninho, como se qualquer uma dessas coisas fosse resolver a dor que machuca de dentro para fora.
Minha loucura é lembrar e sempre acreditar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As resoluções...

Aos tópicos:

1 - o blog
eu abandonei meu caderno e quero retomá-lo, escrevendo mais, pensando mais, lendo mais e comentando mais. 2009 foi um ano bastante cansativo para mim e acho que joguei toda a responsabilidade nisso pela minha falta de compromisso para com o clube. well, i'm back. aproveitando que a Letras me vê de longe, que só tenho um trabalhinho de recuperação e uma optativa superinteressante uma vez por semana, o trabalho aqui volta com força total.

2 - dinheiro
eu preciso entender que não fico rica em julho e em dezembro. não, isso não acontece. então, eu preciso me controlar (e o meu cartão de crédito) nesses meses em que minha culpa com dinheiro se esvai completamente. controlar as finanças para poder guardar o que ganhar com freelas e décimo terceiro e fazer coisa melhor do que cobrir buracos.

3 - parar de fumar
Ops, essa eu já conclui! Ieiiii! Depois de anos postanto a mesma resolução, esse ano eu consegui alcançar o objetivo limpo de livrar meus pulmões da dor de que reclamavam. Faz um mês que não vêem fumaça (e faz uns 5 que eu 'parei' de fumar, mas continuei fumando um aqui e outro ali. agora, no more cigarretes). e meus dentes estão branquiiiiiinhos!

4 - livros
Montei uma lista (que só cresce) dos livros que quero ler esse ano. Tem páginas e páginas do meu bloquinho de anotações. Não sei se leio inteira, mas espero ler uma boa parte do que anotei por lá.

5 - novas
Melhorei no quesito 'ir para lugares novos', mas em 2010 quero que isso se expanda para outras cidades. Viajar mais, sair mais desse caos cansativo e igual sempre. E, por aqui mesmo, tentar aproveitar mais o que tem de melhor.

6 - mudança coisística

7 - preparação para o ingresso na segunda gradução, aqui ou em outra cidade.

8 - vida saudável!

9 - dar menos bola para o que me faz mal, principalmente em relação a pessoas e suas cobranças. às favas com obrigações de toda ordem!

10 - assim como o cigarro, espero eliminar todas as substâncias líquidas, sólidas e humanas que não me fazem bem e, assim, alcançar meu longo objetivo de emagrecer e viver melhor.

Tenho muitos planos para esse ano, muitos objetivos a serem cumpridos. Hoje já é dia 7 e eu preciso me concentrar!

Feliz ano novo a todos e muito obrigada a quem ainda lê essas linhas perdidas na grande teia.

Abraço!