quinta-feira, 28 de maio de 2009

Foucault

Eu tomei a liberdade de copiar essa conferência do Foucault traduzida e transcrita de forma bela pelo querido Marcelo Coelho, outro que não perco nunca, às quartas-feiras, na Ilustrada, Folha de São Paulo. Aliás, para quem estiver em Campinas dia 19 de Junho, terá a oportunidade de participar de um café filosófico com ele num ciclo dedicado às utopias. Seu tema será a utopia do corpo perfeito.

Deem uma olhada na transcrição do Foucault e vejam se não é a coisa mais linda e coerente que vocês já leram!

Basta eu acordar, diz Foucault, que não posso escapar deste lugar, o meu corpo.

Posso me mexer, andar por aí, mas não posso me deslocar sem ele. Posso ir até o fim do mundo, posso me encolher debaixo das cobertas, mas o corpo sempre estará onde eu estou. Ele está aqui, irreparavelmente: não está nunca em outro lugar. Meu corpo é o contrário de uma utopia. Todos os dias, continua Foucault, eu me vejo no espelho: rosto magro, costas curvadas, olhos míopes, nenhum cabelo mais... Verdadeiramente, nada bonito. Meu corpo é uma jaula desagradável. É através de suas grades que eu vou falar, olhar, ser visto. É o lugar a que estou condenado sem recurso.

É possível que contra esse corpo tenham nascido todas as utopias, dele nasce a utopia original --a de um corpo incorporal: o país das fadas, dos elfos, dos gênios, onde as feridas se curam imediatamente, onde caímos de uma montanha sem nos machucar, onde podemos ficar invisíveis.

Há outra utopia dedicada a desfazer o corpo é o país dos mortos. A múmia é o corpo utópico que desafia o tempo. Há as pinturas e esculturas dos túmulos, que prolongam uma juventude que nunca vai passar, que será eterna. Meu corpo se torna sólido como uma coisa, e eterno como um deus.

A outra, a maior utopia criada contra o corpo é o grande mito da alma, que funciona maravilhosamente dentro do meu corpo, mas escapa dele. É bela, pura, branca, ao contrário do meu corpo. Durará para sempre. É meu corpo luminoso, purificado.

Assim, pela mágica dessas utopias, meu corpo pesado e feio desaparece magicamente. Recebo-o de volta fulgurante e perpétuo.

Mas meu corpo, nele mesmo, seus recursos próprios de fantástico. Tem lugares sem-lugar. Tem seus lugares obscuros e praias luminosas. Minha cabeça é uma estranha caverna, com duas aberturas, meus olhos. E, se as coisas entram na minha cabeça, ficam ao mesmo tempo fora delas.

Corpo incompreensível, penetrável e opaco, aberto e fechado: corpo utópico. Absolutamente visível --porque sei o que é ser visto e ver os outros. Mas esse corpo é também tomado por uma certa invisibilidade: minha nuca, por exemplo. Minhas costas: conheço seus movimentos, sua posição, mas não as vejo. Corpo que é um fantasma, que só posso ver pelo truque, pela miragem de um espelho.

Esse corpo não é uma coisa: anda, mexe, quer, se deixa atravessar sem resistências por minhas intenções. Só quando estou doente –dor de estômago, febre-- ele se torna coisa, opaca, independente de mim.

Não, o corpo não precisa de fadas e almas para ser utópico, visível e invisível, transparente e concreto. Para que eu seja utopia, preciso apenas ser... um corpo. As utopias não apagam o corpo: nasceram dele, para só depois, talvez, voltarem-se contra ele.

Uma coisa, entretanto, é certa: o corpo humano é o ator principal de todas as utopias. O sonho de um corpo imenso, o mito dos gigantes, de Prometeu, é uma utopia. O sonho de voar também.

O corpo é também ator utópico quando se pensa nas máscaras, na tatuagem, na maquiagem. Não se trata, aqui, propriamente, de adquirir um outro corpo, mais bonito ou reconhecível.

Trata-se de fazer o corpo entrar em comunicação com poderes secretos, forças invisíveis. Uma linguagem enigmática e sagrada se deposita sobre o corpo, chamando sobre ele o poder de um deus, a força surda do sagrado, a vivacidade do desejo. Fazem do corpo o fragmento de um espaço imaginário, que entra em comunicação com o universo dos outros, dos deuses, das pessoas que queremos seduzir.

O corpo é arrancado de seu espaço próprio e arremessado a um outro espaço. As vestimentas religiosas, por exemplo, fazem o indivíduo entrar no espaço cercado do sagrado, ou na comunhão da sociedade. Tudo o que toca no corpo, uniformes, diademas, faz florescerem as utopias internas do corpo.

E a carne nela mesma pode ser também utópica. Faz o corpo voltar-se contra si: o outro mundo, o contra-mundo, penetra nesse corpo, que se torna produto de seus fantasmas: o corpo de um dançarino, por exemplo, é um corpo dilatado pelo espaço –espaço que lhe é interior e exterior ao mesmo tempo. O corpo do mártir acolhe a dor e a salvação. O corpo de um drogado, de um possuído, de um estigmatizado, recebe em si o que lhe é exterior.

Bobagem dizer portanto, como fiz no início, que meu corpo nunca está em outro lugar. Meu corpo está sempre em outro lugar. Está ligado a todos os outros lugares do mundo, e está num outro lugar que é o além do mundo. É em relação ao corpo que existe uma esquerda e uma direita, um atrás e um na frente, um embaixo e um em cima.

O corpo está no centro do mundo, nódulo utópico a partir do qual penso, sonho, me comunico. O corpo, como a Cidade de Deus, não tem lugar, e é de lá que se irradiam todos os lugares possíveis.

Apenas o espelho e o cadáver selam e calam essa voragem utópica. Os dois estão num outro lugar impenetrável, mas nesse momento já não sou eu mesmo. Para que eu seja eu mesmo, no meu corpo, sem utopia, é preciso uma situação bem definida. Só o ato amoroso, quando nos entregamos a ele, acalma a utopia do nosso corpo: por isso é tão próximo, no imaginário, ao espelho e à morte. É porque só no amor o meu corpo está AQUI.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Lei Antifumo Causa Furor no Estadão

Por partes.

Ontem, no Estadão, jornal de grande circulação no Brasil, um dos grandes brasileiros entre os dois existentes, publicou a matéria sobre como os bares da Vila Madalena vão lidar com a nova pegadinha do Nosferatu para controle do uso da substância legal e de alto custo pela população.

Sendo ou não fumante, você deve ter lido alguma coisa sobre essa nova lei que restringe o consumo em lugares fechados, proibindo os fumódromos, que por lei federal são legalizados, áreas de fumantes em bares e restaurantes, deixando como única alternativa para os viciados nesta substância 'suja' fumar na rua, desde que o pedaço onde esteja encostado livre dos olhares de reprovação seja descoberto.

Assim, os bares, temendo o futuro negro e sombrio que os aguarda, resolveram fazer uma campanha na qual façam com que o cliente 'doente' veja o quanto a nova lei 'amplia o acesso à saúde', segundo a advogada da ONG ACT, Adriana Pereira.

Enfim, depois de uma longa discussão idiota sobre como o fumante não sabe o quanto faz mal a si mesmo (ninguém nunca disserta sobre os benefícios de tal hábito, ou mesmo da possibilidade de já sabermos de todo mal e a opção por arcar com as consequências garantindo, pelo menos virtualmente, a nossa tão declarada liberdade individual, pregada como a marca deste lado ocidental da grande esfera azul).

Como não tenho acesso livre ao site, não tenho como comentar as notícias apresentadas naquelas páginas. E não pude me conter com tamanha ignorância de uma dos comentadores que, infelizmente, não lerá minhas palavras. Abaixo segue sua opinião acerca da nova lei:

'Fumantes Imbecis

Seg, 25/05/09 10:22 bubulicious, bubulicious@estadao.com.br

Todo fumante deveria ter a decencia de ir induzir esse vicio asqueroso bem longe de pessoas que prezam por sua saude e possuem um instinto de alto-preservacao. Eu nao quero correr o risco de perder minha visao ( degeneracao macular ) para que um patetico fracassado que acha que tem o "direito" de se drogar e induzir seu vicio nogento na minha presenca, possa faze-lo. Alem disso, a fumaca do fumo nos faz tossir, fere os olhos e simplesmente e fetida e eu nao quero cheirar como voce, ou seja, um cinzeiro. Outra coisa, se voce e fumante provavelmente sua filha adolescente tbem fuma e qquer garoto na escola dela sabe que se ela fuma, ela tbem se envolve em outros comportamentos de risco como o "Sexo". Mais um fato: Fumantes geralmente obteem resultados inferiores em teste de inteligencia basica do que nao-fumantes. Se voce tem funcionarios fumantes, voce nao esta obtendo eficiencia do trabalho e seu custo/beneficio esta desproporcional. O fumante com seus problemas de saude acaba te custando dobrado p/ manter.'

Agora vamos por partes, pq eu fui tentando grifar, mas parece que ficou o texto todo grifado. Vamos aos comentários:
1 - fumantes induzem ao vício - opa! se conseguimos induzir os mais privilegiados intelectualmente, é porque não somos assim tão 'inferiores em teste de inteligência básica', certo?
2 - Aqueles que prezam por sua saúde tem instinto de alto-preservação. Inteligência básica? Redundância eu não comento porque tenho vergonha. e alto? ou auto? hmmm. tá.
3 - 'perder minha visão (degeneracao macular)' - ô meu querido, dá uma abraço? Você sabia que a fumaça tóxica do lindo trânsito de São Paulo, que nenhum vampiro ainda teve a preocupação de repensar e controlar, apresenta uma fumaça não sei qts vezes mais tóxica do que a do meu cigarrinho? Cuidado com os caminhões para não sofrer degeneração macular!
4 - patetico fracassado que tem o direito de fumar. Hmmm...não sei se deixo meus hormônios tomarem conta do fluxo infinito de sinapses que ocorrem neste segundo dentro do meu cerébro ou se te chamo de babaca só e parto para a próxima. Mas vem cá! Você faz o que da vida, meu bem? Patético no mundo atual acho pouco para todos nós que todos os dias achamos que estamos construindo alguma coisa de valor numa sociedade que só nos castra e nos transforma em homens-massa. Repense seu argumento, querido bem-sucedido. Sobre o direito de fumar, sim, nós temos. Cigarro é uma substância legal e, qualquer indivíduo maior de 18 anos tem a liberdade de escolher se a consumirá ou não.
5 - Sobre o cheiro, devo admitir que é desagrável. Muito bem. Ponto para vc. Agora, você não precisa ficar colado em mim quando eu estiver fumando, nem segurar meu cancer stick, porque só assim você vai ficar impregnado pelo meu 'cheiro de cinzeiro', visto que você é uma pessoa de bem que não deve frequentar casas noturnas, os templos da perdição, e não sabe como a fumaça funciona lá dentro.
6 - Eu adoro essa parte: 'se voce e fumante provavelmente sua filha adolescente tbem fuma e qquer garoto na escola dela sabe que se ela fuma, ela tbem se envolve em outros comportamentos de risco como o "Sexo".' Gente, eu não sei como comentar essa parte, porque só rindo AHHAAHHAAHAHAHAHAHHAHAHAHAHA! O sexo é um comportamento de risco? O risco é ter um pai (não sei porque assumi que vc é um cara) e perder a oportunidade de conversar abertamente em casa evitando assumir um comportamento de risco por falta de informação. O que é sexo entre aspas?

Ai, cansei. Sobre a inferioridade intelectual eu comentei um bocado e as imagens abaixo falam mais do que mil palavras.











Em breve mais textos e intelectuais para você, querido bem-sucedido-livre-democrático-ocidental!
Leia a coluna de ontem na Folha de Felipe Pondé - Ilustrada. Eu poderia colocar o link aqui, mas não tenho acesso à área restrita.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Estreeeeeeeesse

Canseira, dor de cabeça, dor no corpo, eterno sono, impaciência, insegurança, carência...eu estou muito precisada de férias. Sabe, ficar deitadinha uma semana, sem fazer nada, num lugar calmo, tranquilo, com uma televisão, filminhos, chocolate, nenhuma forma de comunicação com o resto do mundo e a maior cama do universo, com almofadas, o colo mais gostoso do mundo e tudo à meia luz.

Deus!!! Não é muito, vai!

Não tô pedindo para ficar milionária, o que seria lindo, só queria um pouquinho de paz e sossego, para poder ficar numa boa e continuar a fazer minhas coisas. Aí, assim louca-estressada-cansada-trabalhativa, eu só consigo ficar esperando o fim - do ano, das aulas, do dia...esperando o final de semana, as férias, o final da graduação.

Me ajuda!! Canseira...tô me sentindo uma velha chata que só reclama. Mas até dor na coluna eu tive...pela primeira vez na minha vida. Estou quase esperando para ver se minhas costas travam e eu consigo na marra esse descanso necessário para a minha integridade física e psíquica.

Uma hora tem que ter 5 minutos! E eu preciso muito deles...AGORA!