Ao longo da construção da minha persona professora, acordar cedo, bem cedo mesmo, passou a fazer parte da minha rotina. Mesmo aos sábados, domingos e feriados, eu desperto antes das 6h. Há dias que forço o sono a voltar, querendo retomar aquele sonho gostoso que ficou pela metade, ou deixar relaxar o corpo dolorido pelo excesso de peso na mochila, as mil telas abertas na cabeça, a longa agenda de compromissos, os alarmes, listas de afazeres, preocupações. Forço o lado fantasia, permito que o cansaço me vença e sorrio. Já adianto que raramente isso me leva a dormir para além das 9h, no entanto, aprendi a ser confortável durante as manhãs.
Gosto das manhãs dos dias semi livres, quando posso me demorar em cada etapa da rotina que criei para meu deleite. Levanto, passo uns minutos sentada na cama acarinhando meus gatos, olhando apaixonada para meu amor e, então, me dirijo ao banheiro. Xixi, torneira aberta para Zizek tomar água da pia, escovo os dentes, lavo o rosto com algum sabonete fresco, checo olheiras e marcas na pele e estou pronta para a cozinha.
Fazer o café é das atividades rotineiras que mais me encantam. Eu faço quando acordo e logo depois do almoço. Às vezes, faço de novo no final da tarde. Mas, pela manhã, a água ferve enquanto limpo a pia, lavando a louça que quase sempre sobra da noite anterior. Adoro dobrar o filtro, como se fosse um segredo, uma simpatia. As 4 colheres de pó se ajeitam dentro e despejo, lentamente e apenas no meio do filtro, a água quente. O cheiro de carinho, de calma, de começo invade a casa toda. A banana com granola aguarda em cima da mesa e talvez uma tapioca com queijo no fogão.
Talvez o que mais me agrade nessas manhãs seja mesmo o fato de que tudo isso acontece no silêncio solitário de alguém que fura os acordos sociais e se levanta quando todos ainda dormem. Penso que haja um paralelo no prazer que tinha de viver as madrugadas e a volta para casa no contra fluxo da cidade, quando todos saem e você volta. Lembro de levar óculos escuros na bolsa para que na volta pudesse me camuflar ao mesmo tempo que me destacava.
Mas, voltando às manhãs da atualidade, o ciclo se completa com aquele primeiro cigarro do dia. Este tão demonizado inclusive por adeptos do tabagismo, como o cigarro maldito, o excessivo, o fora do lugar. Ao final dessa breve refeição, um gole longo de café quente, uma segunda caneca já, o gosto do tabaco se ajeita na boca, acomodando o vício no lugar do prazer e não da repetição. Talvez seja, junto com o cigarro pós banho do final do dia, os que fogem da automaticidade e se alegram com a retomada do prazer primeiro. O resto é fuga.
Por isso, mesmo na criação e insistência de uma vida de cuidados, saudável, defendo a manutenção desse único companheiro matutino pelo equilíbrio, pelo prazer e, principalmente, porque se destaca de todo o resto por não apresentar utilidade. É só o que é. Meu primeiro cigarro, delicioso, da manhã.
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