Ah, uma noite de veludo. É assim que parece da sacada da minha casa, do jardim que brilha em frente à sala de estar. O mundo está aveludado nesses dias de frio e é só abrir a janela cedo ou no final da tarde para ver isso tudo brilhando. Mas não há nada mais lindo do que essa visão de agora, desse frio nebuloso da noite, da névoa do inverno cobrindo ruas, árvores, postes e pintando o mundo com uma camada matte.
Fui desperta pela luz da manha bem cedo. Ao voltar do banheiro e encontrá-lo deitado ao meu lado, sorrindo para mim vestindo aquela camiseta branca toda amassada e quentinha, passamos um tempo incontável olhando o mundo molhado e gelado da nossa cama quentinha, cheia de colchas e almofadas e nenhuma manta que não fosse 100% antialérgica para não te causar transtornos e falta de ar.
Você puxou seu celular para ler Ubaldo e suas mil histórias de Itaparica, da Bahia e de muitos outros lugares. E aí contou uma história a mim sobre um índio doido e me fez rir com toda a ironia que sabe ser das minhas figuras de linguagem preferidas.
Eu joguei o Kafka de lado e pensei que clássicos do século passado podiam esperar mais um pouco porque havia uma guerra de tronos começando a tomar conta da minha imaginação. E tudo isso se misturou ao som da voz do verdadeiro Lobão - Howlin Wolf. Já era mais do que um mundo todo encantado e aí você trouxe café com leite e brincou com a sobrinha que eu deixo repousando na caneca para meus duendes.
E os duendes seriam bem felizes nesse mundo opaco e incrivelmente encantado que se faz lá fora. Não precisariam bagunçar meus livros quando eu esquecesse de deixar café com leite na prateleira ao lado da cama, misturando mundos que não se combinam.
Damn you dwarfs!