quarta-feira, 5 de maio de 2010

São Paulo

Todas as portas abrem-se para um mundo completo que se fecha nas paredes, se enfia em frestas e se amontoa em esconderijos. Cada janela recorta a claridade de poucos momentos, as sacadas apresentam cenas da vida que jorra na cidade que dizem nunca dormir. Há histórias, porém, adormecidas em cada um desses quadrados, em cada um dos pedaços de uma babilônia extensa e perdida nas colinas esfaltadas.

Durante a noite, os minutos que antecedem o adormecer trazem uma imensidão de pensamentos despertados por preocupações do dia, da vida, paixões, intrigas, sonhos. A mente pode nos levar a lugares nunca antes imaginados. Pode nos levar a inquirir sobre quem mora ao nosso lado, quem foge de nos encarar pela manhã e responder ao nosso bom dia, pode nos fazer refletir sobre um possível amor perdido (ou encontrado), sobre o passado que insiste em ser presente, sobre o futuro que desejamos e que é necessário para fazer com que a noite seja mais tranquilamente dormida. Os medos e as paixões que nos movem de manhã, conteem-se nesse momento para que o corpo possa relaxar, se conseguir.

Assim como as pessoas, os bairros da cidade parecem compartilhar essas características, parecem se antecipar em criar uma história, em modelar um mundo para abrigar milhares de outras dentro de seus limites, e misturar seu destino com o de seus habitantes. Cada pedaço de São Paulo, melancólico, alegre ou coorporativo, pode levar muitos casais a se encontrarem, tentativas de suicídio frustrarem, amores serem perdidos. Cada história conta São Paulo e São Paulo narra muitas vidas.

A série de contos postados nos últimos dias tenta alcançar o entrelaçamento de pessoas e suas moradas. Por enquanto, são pequenas introduções do que pode vir a ser uma longa história. Aproveitem e comentem!

2 comentários:

Roberta disse...

hj em dia bairros classificam cidadãos. ah, e eles adoram ser classificados...
é por isso que eu moro no centro. um pézinho na paulista e outro na liberdade. inclassificável para alguns, popular para os arrogantes.
continua, mana!

Marcia disse...

Estou adorando e espero que esses contos sejam apenas os primeiros passos de uma longa e brilhante caminhada. Me reconheço em você, e você em mim.
Vitória sempre