segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ele varre as ruas todas as manhãs


Joaquim tem uma barraca de doces na Faria Lima, quase esquina com a enlouquecedora Rebouças. Vende salgadinhos, bolachas, balas, chicletes e é sempre possível encontrar uma latinha de refrigerante ou uma garrafa de água suando pelo contato inusitado de sua superfície quase congelada com o ar quente desse verão que está sempre a chegar, até quando chega.

Todos os dias, por volta das 9 horas da manhã, ele monta seu carrinho que fica guardado no estacionamento de um prédio comercial. Todos os dias ele chega sorrindo, fala bom dia para quem estiver perto ou por quem cruzar seu caminho. Todo dia dezenas de pessoas o cumprimentam com um 'Seu Joaquim', mesmo ele não aparentando mais do que 30 anos.

Joaquim veio há 13 anos de Lauro de Freitas, famosa por ser a cidade natal de personalidades como o Popó e o Jimmy Cliff brasileiro. Não fugiu de nada. Ele veio porque queria trabalhar numa padaria de São Paulo. Trabalhou em três, mas não acertou a massa do pão francês e não tinha afinidade com outras nacionalidades para se aventurar em novas receitas.

Largou a escola para ajudar na construção da casa de seu irmão mais velho em Capão Redondo, onde mora. Sua namorada, Rosa, ajuda Joaquim a desmontar o carrinho, por volta das 19h, e vai com ele para o supletivo, curso que começaram juntos esse ano, assim como a organização do casamento que será na cidade dela, Camaçari, em 2013. Joaquim é apaixonado por Rosa. E ela se faz de difícil. Mas apesar de durona, Rosa quer uma vida com ele, inteirinha e cheia de baldeações.

Meu ônibus chegou e eu me despeço de Joaquim. Sento na janela e aceno para a história que criei. Ver um homem todo cheio de animação para vender suas balas e chicletes no meio do caos da Faria Lima em obras, a varrer, todos os dias, as adversidades e sujeiras da vida numa cidade como São Paulo. E lá vou eu tentar varrer as minhas num bairro longínquo, sem doces porque estou (eternamente) de dieta.

8 comentários:

Marcia Pavelosk disse...

Bela estória. Inteligente e bem humorada, retratando o cotidiano de gente simples e que luta, não só pela sobrevivência, mas para alcançar seus objetivos.
Gostei muito.

Felipe disse...

Todo dia ela faz tudo sempre igual...


òtimo texto! sensível...

Marina Pavelosk Migliacci disse...

:-) Obrigada!

Mercedes disse...

E eu aqui imaginando você sendo a única pessoa da rua a parar para conversar com o Joaquim e saber a história dele...

Adorei!
Só espero que a Rosa não seja chata.

Beijoca

Roberta disse...

Ouvir pessoas sempre rendem boas histórias. O que vale é ter bons ouvidos, um pouco de tempo e interpretações para transformá-las em histórias melhores ainda. Você sabe como fazer, manilda. :)

Marina Pavelosk Migliacci disse...

:-)

Anônimo disse...

Oi Mari! Sou eu, seu fã anônimo. Surgiu uma dúvida. Essa história e personagem são reais?

Marina Pavelosk Migliacci disse...

Querido fã anônimo, Joaquim realmente existe. Só não sei se esse é mesmo o nome dele, nem se Rosa é sua namorada e nem se eles vão casar na Bahia. Eu vi o vendedor de doces varrendo a calçada com tanta vontade que inventei tudo para poder falar dele. ;-) Obrigada pela visita!