quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Balé da Cidade de São Paulo

As luzes apagadas e um bailarino corre por entre a platéia até alcançar o palco vazio. Assim fazem mais três bailarinos que se contorcem beges à luz amarela forte. O palco é invadido por bailarinas que se sucedem no jogar para frente, para cima, para o lado, para os braços.

Dualidade@br é o primeiro ato do grande espetáculo do Balé da Cidade apresentado no Teatro Municipal de São Paulo. Criado pelo bailarino e coreógrafo Gagik Ismailian, é um jogo fragmentado de sentimentos intensos vividos no palco. O prazer, a solidão, paixão, dor, medo, o limite.

As pétalas vermelhas jogados em cima da bailarina solitária no canto direito do palco, o cair lento e gracioso, ela levemente iluminada, completam a poeticidade da apresentação.



O Segundo ato, Canela Fina, de Cayetano Soto, mantém o tom ocre/fosco enfatizado pelas luzes que exaltam o movimento dos músculos dos corpos dançantes. Uma nuvem de pó de canela nubla o palco e esconde os movimentos que tentam ser encontrados pelas luzes que vêm das laterais, do alto e do fundo. Apresentação com o aroma sensual do pó - fazendo lembrar a origem e o fim de todas as coisas.



Por fim, o espetáculo se encerra com uma comédia de valsas com figurino pesado, maquiagem carregada ressaltando o grotesco, a crueldade - Perpetuum, coreografia de Ohad Naharin. Esse último ato me pareceu bastante distante dos dois primeiros, com um proposta artística distinta - cômica. As duas primeiras tinham o ar solene e sério de um soneto.



Eu fiz balé quando criança. Gostava muito de dançar, das roupinhas e das amiguinhas da turma, das professoras. Até que minha tia, cuidando de mim e dos meus irmãos em uma das viagens dos meus pais, comprou salgadinhos com 'tatuagens perecíveis' e eu logo colei uma das tartarugas ninja no braço direito. Minha mãe voltou de viagem para minha última 'apresentação'. Minha professora disse que bailarinas não podiam ter tatuagens e eu me ofendi com a ignorância de uma mulher que não sabia o que era brincadeira de criança. Assim, seria pouco provável captar a sutileza da arte que é o balé. Logicamente não pensei nisso com 7 ou 8 anos.

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