Levara um soco no estômago. O ar fugiu de seus pulmões e os olhos escureceram. O coração batia forte. Olhos fixos na parede branca do quarto, olhos longe na tarde chuvosa. Ele jogou seu livro no chão. Ele pisou nas páginas da vida dela. Ele arregaçou sua história e a fez com que a escrevesse de trás para frente.
Sua sorte era o acaso. E o acaso era ter passado naquele corredor de uma livraria às 17 horas de uma tarde bagunçada de domingo. Os dias arrastavam-se no percurso árido da vida de uma menina e ela ia se tornando uma mulher. Exigente, amarga.
Sua estupidez foi ter acreditado que estava imune ao vazio no estômago, a dor angustiante que corre o corpo, que aquece as pernas, e o que há entre elas, que estaria imune à paixão.
Sabia de cor todos as sensações de lê-las por aí, de ouvir as amigas comentando sobre o casinho, o namorinho, o menininho, o xuxinho, e blábláblá. Achava um porre o assunto. Achava pouco prático, achava piegas.
Levara um soco no estômago. Ele fechou os cinco dedos e mirou dentro - todas as borboletas voaram...dançaram, berraram nas paredes úmidas da menina que achava que tinha o coração já seco.
A vontade de colar a vida na dele, de não deixar seus olhos fugirem para lá...mas sempre para cá. Queria seguir as linhas no livro que ele segurava nas mãos. Queria tê-lo entre os braços doloridos de vazio.
Ele era a visão que ela criara para encher o vazio de seus dias. Sua vida arrastava-se e ela arrastava a ilusão de um querer mais que bem querer por entre suas preocupações.
3 comentários:
Seria lindo alguém para escrever nosso prefácio e ter alguém para poder constar nos agradecimentos.
"dedico minha vida a você"
Nossa... muito bom texto.
Realmente é inocente aquele que crê estar imune aos acasos das paixões..
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