quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Hannah Arendt e os acontecimentos em Little Rock


             Os acontecimentos em Little Rock causaram impacto na recém-chegada e refugiada nos EUA. Em texto posterior ao resenhado aqui, Hannah Arendt, por força da necessidade de explicação acerca da polêmica que sua publicação causou nos movimentos de direitos civis norte americanos, justifica o foco dado como uma influência de sua experiência pessoal vivida num mundo também de ódio, antissemita, porém.


           
            Seu ensaio, numa primeira leitura, parece não ser favorável à integração dos alunos negros nas escolas brancas americanas. Isto porque a autora insiste em advertir o leitor para o fato de que as crianças sofreram uma violência ao serem obrigados a lidar com uma situação que nem mesmo as gerações anteriores conseguiram. Esse temor, ou precaução, trouxe à memória uma cena do filme The Help, de 2011. Dirigido por Tate Taylor, discorre sobre a jornalista que decide ouvir as empregadas domésticas negras das famílias brancas e escrever um livro para que elas pudessem ser ouvidas também pelo resto do país. Sua mãe, depois de muito relutar, diz à filha: ‘Sometimes courage skips one generation’. A reflexão que o texto suscita corre nas palavras dessa mãe e  em relação ao significado simbólico muito mais do que pragmático que esse evento apresentou não só naquele momento histórico, mas que ainda representa nas discussões sobre direitos humanos e civis. Além disso, há a ideia da coragem vir do novo, daquele ainda não completamente contaminado pelos preconceitos embutidos socialmente.
           
             Hannah Arendt questiona os pais negros e brancos por permitirem que seus filhos passassem por um trauma violento como ao que foram expostos e pelo qual ficaram marcados. Questiona seu leitor para que ele reflita e se posicione com relação à responsabilidade que as gerações anteriores têm com as mais jovens e as maneiras pelas quais pode protegê-las.

            Como, porém, impor uma luta política dentro da escola quando a segregação era legal na América e os negros e brancos eram mesmo diferentes perante a lei? De que maneira forçar um posicionamento por parte dos jovens estudantes quando o próprio Estado não só corroborava o comportamento discriminatório como também educava seu povo para que mantivesse a conduta de cidadão correto que não somente segue as leis mas que as defende?     Por outro lado, por que não dar a chance a um ato como esse ser ponto de partida para discussões relevantes socialmente, assim como passaram a ser na história?



            José Murilo de Carvalho defende em seu livro Cidadania no Brasil uma evolução lógica na conquista de direitos dentro de uma sociedade e Hannah parece seguir a mesma lógica do autor brasileiro quando não vê coerência e mesmo legitimidade em conquistas de direitos civis sem que os políticos estejam garantidos a priori. Apesar de significativa, sua preocupação não previu que o evento em Little Rock pudesse aquecer o movimento pelos direitos civis que desejaram mais igualdade além da que garantia acessibilidade às escolas a negros e brancos, mas que os ônibus não fossem mais divididos, os banheiros compartilhados, a porta de entrada pela frente de estabelecimentos comerciais fosse livre, que discriminar pela cor da pele fosse crime. A conquista dos direitos civis impulsionou o movimento a buscar e garantir direitos políticos e seu lugar no cenário norte-americano não como um grupo exterior, mas parte da união. 

Para ler o texto de Hannah Arend 'Reflexões sobre Little Rock', acesse aqui.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

12 de novembro

Parece que há 27 anos fazia muito calor, daqueles de sol alto, ardido e sem previsão de um carinho em chuva. Era tão quente, que o clima nunca foi esquecido nas histórias dessa data como lembrança para comemorar. O dia segue quente, mas chuvoso, e é sempre o pontapé de muitas conquistas para o ano que se inicia.

Quando celebrei os 26 anos em 2011 não sabia o que faria da minha vida com as mil possibilidades tortas dançando o tempo todo na minha cabeça. Havia iniciado a licenciatura mas não pensava que seria possível já tão logo me esforçar no trabalho de educar. Minha volta às salas de aula se deu no dia de ação de graças na mesma sala que havia entrado pela primeira vez como professora há 6 anos.

Essa coragem de assumir não só meu plano como carreira, mas de começar de novo me deu uma força muito grande e uma fé em mim mesma que se traduziu num ano bastante difícil mas com dificuldades e falhas superadas. Se fez em relações que eu evitava há anos por não mais confiar nas pessoas. Elas me provaram que essa generalização era estúpida.

Hoje, com toda essa água caindo lá fora, aquela excitação de fazer aniversário se dissolveu um pouco e o sentimento este ano é de certeza, de conquista e mais que está por vir ainda.

Eu sei que o dia de ação de graças ainda demora a chegar, mas aproveito que relembrei dele para agradecer a todos que estiveram próximos este ano, que ouviram as queixas, que deram uma chance a mim e ao meu trabalho, que me apoiaram, acreditaram em mim, incentivaram que eu continuasse caminhando e compreenderam os momentos azedos de retirada.

Obrigada pelo ano e não só pelas mensagens de carinho hoje mas também por elas.
Obrigada pela água da chuva que cai e que lava o começo para abrir espaço ao novo.
Obrigada pelo amor, pela amizade e por todas as emoções que permearam mais um ano e o que está começando.
Obrigada por tanto doce, no sentido literal e figurado, em palavras.
Obrigada por participarem.
Obrigada.

E feliz muito mais!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Deterministas...tsc tsc tsc

Essa tabela me entristeceu. Eu vi hoje de manhã e não pude parar de pensar nela um só momento. Acho que classificações são simplórias, deterministas e bastante preconceituosas; chega a ser meio violento inclusive. O que é sucesso para você? Você acha que todos têm as mesmas possibilidades que você, gente classe média branca? Além dessa coisa besta de loser and successful, quem tá mal das pernas é invejoso? E quem é bem-sucedido nunca pisou na cabeça de ninguém? Há uma regra só que todos os bem-sucedidos e aqueles que ainda não alcançaram o que se determinam? As pessoas têm uma história de formação diferente que ajudam a construir a personalidade, os objetivos e os meios pelos quais irão alcançá-los. Determinar simplesmente que sucesso é sinal de bom caratismo é destruir individualidades e entrar no sistema hipócrita, desigual e injusto. Então se eu tô sem emprego eu não valho nada porque vou olhar para você e seu salário e falar mal de você e sua competência? Se eu tiver passando por problemas financeiros é porque eu sou uma pessoa que responsabiliza os outros por meus erros? Eu entendo que quando estamos nos dando bem no que nos propomos a fazer sentimos um orgulho imenso do esforço que despendemos para isso. Sinto isso todos os dias pela coragem que acredito ter tido para abrir mão do que me fazia infeliz e assumir meus valores e planos. Mas isso não me dá o direito de determinar o destino e o comportamento nem dos sortudos como eu, nem daqueles que ainda estão lutando.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Solidão como ponto de vista

Era bar do Beto. Não que tivesse placa com nome em cima da porta. Letras gordas, vermelhas, convidando para uma porção de calabresa acebolada. Não tinha. Nem placa com letras gordas, nem a cebola, que já brotava em cima da geladeira. Nada muito gordo. A não ser seu João do outro lado do balcão, a trabalhar para o tal de Beto. Talvez a dona Mariluci que vinha sempre com uma saia florida e uma camisa com chinelão para dançar o samba no meio da rua.

Tinha Bruno, o cachorro. Não há bar sem cachorro. Não um verdadeiro boteco. É preciso ter um cachorro babando na porta a espera das migalhas de pão eventualmente oferecidas para ser um autêntico boteco. E para ser de verdade mesmo, só se fosse escrito com u - buteco - que tudo certinho não é coisa de um que se preze. Nada tão certinho, com todas as letras no lugar, pode dar certo se o objetivo é ser um bar, o buteco.

E Solange me encontrava todas os finais de tarde lá. Moça de Manaus, cabelo alisado e pintado de dourado. Não era claro demais não porque é coisa que eu não gosto muito. Era quase avermelhado aquele cabelo todo certo jogado para os ombros. Era a única coisa certa permitida numa mesa de latão no bar sem placa com letras gordas em cima da porta.

Manicure do bairro, trabalhava de branco e sua mania de limpeza se empossava de seu corpo onde quer que estivesse. Chegou um dia a levantar e dar banho no banheiro porque não era possível passar um dia de merda e se aliviar nela também.

Mas era forte. Não queria nada comigo não. E não entendia que sorria para ela não com interesse, mas admiração. Não queria Solange como mulher, para mim. Queria ficar ali olhando tudo e achando um encaixe nas peças como um quebra-cabeça grande, vivo, colorido, de milhões de peças. Era o bar, o Beto, ela e o Bruno. A saia da Marluci rodando e eu, aquele mané da universidade, achando graça nas horas que o povo alivia a tensão. Eu achando graça no sorriso da mulher que trabalhava desde cedo no dia, na vida, fazendo o cabelo dourado brilhar na luz do poste que a rua emprestava para a calçada do bar mais buteco que eu tinha entrado até aquele dia, meu aniversário de 23 anos.

Estava sozinho havia algumas semanas. A universidade em greve e eu precisando estudar, acabei por ficar aqui, só eu, apartamento todo para mim, a solidão toda minha, nenhuma cerveja na geladeira deixada para mim numa semana de quase nenhum livro aberto, mas centenas de horas observando todas as curvas e falhas que o pincel fez e deu quando passou pelo teto do meu quarto.

Uma caminhada no final da tarde e a calçada molhada me deteve em frente a um cara baixo, bigode amarelado e um cigarro eternamente aceso no canto da boca. Nem eram os dentes que seguravam. Não dava para saber. E foi a fumaça do cigarro do Beto que me jogou para dentro desse cantinho cheio de graça, desgraça e cachaça. E ali passei a terminar meu dia, fosse ele bom ou ruim. E sempre dividindo um copo com a Solange, que morria de rir das minhas bobagens. Morria de rir das minhas amarguras e chorava com todas as dores, minhas ou não.

Aí eu acho que alguma autoridade tinha que vir tombar isso daqui. O buteco oficial do Brasil. Nem precisa ser tanto. Pode ser só patrimônio do bairro, nada da humanidade, porque é capaz da humanidade conhecer isso aqui e acabar estragando tudo, me levando de volta para a observação de mim em cada falha nas paredes do meu quarto.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Família

Ontem um tio meu morreu. Por mais distante que estávamos por anos, ele era muito querido a mim e tenho certeza que a minha família toda também. Velórios e enterros parecem ter um poder de reflexão muito grande e ontem passei as horas que fiquei por lá pensando muito e tentando entender os motivos que afastam irmãos, tios, primos e gente que se gosta, mesmo com todos os acontecimentos que a vida cria.

Uma das lembranças mais fortes que tenho dele e da minha tia Marly é de uma festa que teve em minha casa, aquela na Cunha Gonçalves, quando eu já tinha idade para começar a guardar momentos e expectativas na memória. Não me lembro se o aniversário era do Renato ou meu, mas lembro bem que todos iriam. A família já devia ter passado por muitos bocados que a separaram, mas ainda recebíamos alguns e visitávamos outros.

Esse dia, a tia Marly e o tio Jaime trariam meus priminhos Renata e Bruno, que não sabíamos se eram muito menores que Renato, Ronaldo e eu. Lembro claramente de ter falado para o Renato que tínhamos que brincar com eles e que os dois deviam ser bebês. Não eram. Eu não tinha a menor ideia que a idade deles era bem próxima da do Rê, mas quando eles chegaram, a festa foi a maior diversão. Assim como as diversas vezes que fomos a Peruíbe com eles e que do corredor e do nosso esconderijo secreto (uma sacada em cima da casa) nós ouvíamos meu tio cantando no banheiro. Boeeeeemia, aqui me tens de regresso. Nelson Gonçalves deve tê-lo recebido nos céus cantando num show particular para um grande fã domingo à noite.

Lembro também de quando voltamos de Salvador e que passávamos férias na casa deles, uma delas mais marcante por ter sido o mês mais triste aqui em casa, quando minha tia Tutu também morreu durante o frio e que a notícia foi recebida no quarto dos meninos, no colo do meu pai e da tia Marly.

E a ida à Salvador, antes pensada, ao longo de meses, como uma aventura, mais dolorosa quando da despedida desses tios. Acho que essa e a despedida da Tutu para as terras longínquas e quentes da Bahia foram as mais doloridas daquele 1996.

Daí que um dia, não sei ao certo o porquê, e creio que nem meus pais e nem meus tios têm uma ideia clara do que houve, separamo-nos e ficamos todos esses mais de 10 anos até ontem, num dia de nova despedida, porém essa mais longa. Ouvir minha tia e minha mãe chorando uma no braço da outra e concluindo que tudo foi uma grande besteira me soou uma das melhores notícias dos últimos tempos.

Ao mesmo tempo, participar de um evento de tamanho sentimento foi muito triste. O que a morte tem que nos desperta? O que a morte oferece que nos faz refletir não só no morrer mas no que estamos a fazer com nossas vidas? Será medo? Será percebermos o quão pequenos são os acontecimentos que nos distanciam? Será perceber que amamos as pessoas e não damos o braço a torcer para retomar amizade, carinho e bem querer de mais perto?

Sempre senti falta das pessoas e do quanto era bom sentarmos todos à mesa e conversarmos sobre coisas que marcaram a família, as piadas, as festas, outras pessoas que não viria a conhecer. Sempre foi gostoso ter o Natal com a mesa mais cheia e dividir toda a felicidade e gratidão de um ano. O que será que acontece às pessoas para que elas (e nós) fiquem (fiquemos) no lugar e não mais compartilhem (compartilhemos) mais momentos para serem vividos e lembrados? O quanto estamos perdendo?

Perdemos as pessoas, mas, pode ser muito egoísta declarar isso, senti uma enorme satisfação, para não dizer felicidade, de dizer a elas que estava lá para elas, por elas. Não é preciso muito mais do que essas palavras para gente se perdoar (a nós mesmos e aos outros) por tudo o que não compreendemos que fizemos. E compreendermos que o amor está acima de qualquer uma dessas incompreensões.

Um abraço, tio Jaime. E obrigada por, de um jeito tão doloroso, nos fazer ver mais do que a dor de te perder. Eu sempre amei você. E vou sempre.




quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aonde a música pode te levar?

Os pratos vibram e logo o baixo começa a ser dedilhado. Com os primeiros versos, eu fecho meus olhos, abro meus braços e a letra sai da minha boca, o vento mais frio dança ao redor do meu corpo e eu não estou mais onde quer que eu estivesse.

The tine purple fishes run laughing through your fingers and you want to take them with you.

Tudo aconteceu como se esse som não me fosse inédito, como se dançar essa música não fosse novidade. A praia (ou seria um campo aberto?), a brisa, meu corpo sabendo exatamente como se mover e as lembranças de situações que nunca vivi (será?) aparecer como se fossem ideias do que fazer.

Nada é novo e tudo é tão felizmente conhecido (pela primeira vez). Já estive aqui? continuo de olhos fechados e a nova música acelera meus dedos para que eu não perca nenhum momento desse espetáculo.

Os carros correm e buzinam e eu os levo todos comigo. como se não houvesse outra possibilidade para todos nós. Toda essa pressa só pode ser para ver esse espetáculo girando em algum paraíso. And the colors here are not of the sea, but of the sky in a place where it loves the rock ocean. E nos preparamos para a apocalíptica troca de solos enquanto nossos passos entrelaçam pernas e peneus. Até as vigas juntam-se à brilhante novidade em acordes, balanço, vento.

Eu quero me jogar! Mas onde está escondido esse lugar? E se eu abrir meus olhos e tirar os fones do ouvido? Não! Isso seria muito dolorido, seria torturante. Além do mais, aqui está muito melhor. 2012,
seeya! Come back to me 70's!


 

domingo, 8 de abril de 2012

Os descendentes

O cinema americano cria muitos rostos bonitos e convence o mundo todo da qualidade artística de quem na verdade, muitas vezes, não tem muito mais a oferecer do que beleza e um suspiro entre sorrisos. Para mim, George Clooney sempre foi esse rosto maravilhoso. Cara de homem mesmo, simpático (aparentemente), charmoso, misterioso e com o olhar enrugado na medida certa para ornar ainda melhor com o cabelo grisalho.



Suas atuações nunca me convenceram e, mesmo achando que valia a pena vê-lo pela beleza, nunca tinha paciência para muito mais do que 5 minutos. Sua participação no cinema dos últimos anos chegava a ser bizarra de tanto que se insistia somente no que seu corpinho era capaz de oferecer. Ou pelo menos era isso que meu cérebro escolhia me mostrar já que, por um tempão, cheguei a me recusar a ver qualquer filme em que ele estivesse. Mas aí veio Os Descendentes e foi indicado ao Oscar. Por mais que o prêmio tenha um monte de porcaria manjada nos indicados, era o único concorrente a melhor filme que eu ainda não tinha visto.

Membro da família herdeira de vastas e belíssimas terras havaianas, alguns problemas legais parecem forçá-los a vendê-las em favor de empreendimentos imobiliários que irão transformar o paraíso em hotéis luxuosos, praias particulares e tudo mais. Já vimos quantas vezes esse filme? Em meio a essa confusão, sua mulher Elizabeth sofre um acidente, entra em coma e parece que não haverá saída para ela. Pai de duas meninas, Scottie de 10 anos e Alexandra de 17, Matt King, o Clooney, deve enfrentar tudo isso e mais a novidade nada agradável, ainda mais nesse momento de já muita dor, de que sua mulher estava o traindo com o bunda mole Brian Speer.



O filme podia apresentar mil clichezões e até pode ter trazido alguns, mas os clássicos ele deixou de fora. Com tanta angústia, momentos de auto-análise, reflexão e dor, a história desse momento na vida das três pessoas sofrendo é contada com doçura, de forma sensível e, acima de tudo, humana. E Clooney, o pai das meninas, o marido traído, o genro insultado, o familiar responsável pela venda das terras, o homem, nem é lembrado por ser o bonitão em tomadas sem camisa nas lindas praias do Havaí, mas como uma personagem rica e muitíssimo bem trabalhada por aqueles olhos que foram focados não somente por serem bonitos, mas por terem conseguido demostrar o quanto ele vivia.



Clooney, you have shut my mouth. And I appreciate that.

terça-feira, 27 de março de 2012

(Des)memórias de livros

Já parou para pensar como você começou a se relacionar com a a palavra escrita? Digo isso pensando lá atrás, quando você aprendeu a ler e escrever mesmo. Você se lembra como foi, se queria (estava ansioso) para aprender? Irmãos influenciaram? Pais e mães? Algum tio ou tia que fosse apaixonado por páginas repletas de histórias?

Comecei a pensar nisso novamente hoje, durante e após a aula de Didática. Era uma tarefa repensar, fazer essa regressão e tentar entender nossa história de formação. Minha memória anda meio de peixe e eu ando pulando muitas etapas com a cabeça cheia e esqueço de absolutamente tudo. Assim, depois de quase um mês da leitura do capítulo Memórias de livro, do romance Um brasileiro em Berlim, de João Ubaldo Ribeiro, volto eu a refletir sobre a minha iniciação no mundo escrito.

Nesse capítulo, é isso o que o autor (re)faz. Analisa seu passado em busca de todas as memórias de livro que construíram sua relação com eles como ela hoje. E estou aqui a pensar e lembrei bem de uma cena: Ronaldo com um bando de amiguinhos da escola na sala de jantar de casa, eu, intrometida, sentada perto. Todos elaborando mil e uma atividades e eu louca para participar daquilo tudo. Consigo lembrar de me trancar no meu quarto, coisa que fiz por toda a vida (que estou a fazer agora mesmo) e imitar com um caderno e um monte de canetas aquele ritual encantador de um monte de gente em volta de um papel a realizar, a produzir, criar, entender. Inclusive, 'usava' o Renato para fazer o papel do meu aluno enquanto eu rabiscava na lousinha imitando minhas professoras.

Estudei em uma escola chamada Pitanga Porã. Faz muito muito tempo e, apesar de eu ser dona de uma memória absolutamente absurda, estou na fase peixe, lembrem-se, e por mais força que faça, não lembro de muito mais do que festas juninas, os parques de areia e minha angústia quando me separaram do meu irmãozinho pequeno. 'Como ele vai ficar sozinho?', pensava eu, ingenuamente.

Ao que tudo indica, foi nessa escola onde aprendi a ler e escrever. Mas esse momento inicial parece ter ficado não só esquecido, mas como que diluído. Parece que esse momento nunca existiu, como se eu soubesse ler e escrever desde sempre. Assim, tudo o que aconteceu depois vem ordenado, cheio de detalhes, As Cores de Laurinha e os esforços de vender desenhos para comprar a bolsa de presente para a mãe, os contos de fadas todos desgastados de tanto que as páginas foram viradas, as invencionices que ficaram registradas em muitas páginas brancas por pouquíssimo tempo.

Lembro de passar finais de semana com minha tia Tutu e dela ler bastante nesse tempo em que ficávamos juntas. Um dia eu trouxe a minha 'Marca de uma lágrima' e, toda orgulhosa, deitei no sofá ao lado dela para eu também ler por toda a noite. Meu pai é newspaper addicted e sempre o vejo de óculos lendo as folhas da vida, revista e sendo a maior fonte de informação histórica que tive. A relação dele com livros não foi muito boa, até que eles romperam após Cem anos de Solidão. Nunca entendi o desentendimento. Minha mãe é estudiosa, está sempre com um livrinho de capas divinas e um lápis para anotações. Há pouco tempo também passou a escrever e tem um blog querido. Jamais deixa de aprender e está sempre ensinando muita coisa da vida.

Também tem a Andrea e o Paulo e com eles eu passei férias visitando livrarias e sebos, falando de histórias e querendo ler o que eles estavam contando. Ela escritora e ele tradutor, os dois cheios de contos para passar para frente, em meio a piadas e chocolate ou pipoca.

Depois veio a faculdade e eu, já decidida a ir pelo caminho das letras, isso porque queria ser escritora, tive crises fortes de identidade, de escolha, de rebeldia sem causa, mas nunca consegui ficar longe dos livros, nunca nos desentendemos. Eles, inclusive, me ajudam a me compreender melhor, a pensar, a criar, a copiar ideias boas, elaborar novas com o que já está dado. Para mim, é como se, assim como saber ler e escrever, eles estivessem nascido junto comigo.

Ótima companhia, professores e amigos que marcam momentos da vida, reflexões e vício.
Aliás, um livro gostoso e um café num dia friozinho, deitadinha em um lugar e a cabeça em outro qualquer. Um dos grandes momentos do dia.

Mas a relação com eles, com a leitura é construída não só diretamente, mas por meio dos lugares que você conhece e frequenta, pelas pessoas com quem você convive (e isso eu acho que explicitei acima de alguma maneira), os filmes que vê e o tipo de música que você escuta. Abrir espaço para conhecer de tudo é engrandecedor e acredito que um conhecimento vá influenciando o outro, mesmo os de 'áreas' distintas. O contato do popular ao erudito e a criação de pontos de vista a partir não de ouvir dizer, mas de conhecimento de causa. Após péssimas notícias acerca da relação do brasileiro com a leitura (que você pode ler aqui), é hora de todos repensarmos essa nossa história e tentarmos entender o que há de errado para fazermos algo em favor de uma melhora nesse quadro triste e alarmante.

Clube da Cozinha

Recebi um convite para participar de uma troca de receitas, coisa que estou denominando de Clube de Cozinha, gostei e resolvi postar aqui todas as receitas que vier a receber. Isso depois de prepará-las e inserir comentários sobre a facilidad em fazer e o sabor. Começo pelo meu afamado bolo de chocolate. Tudo em menos de 1 hora. Esquema Nigella de cozinhar.

ingredientes para a massa:
2 xícaras de chá de farinha de trigo
1 xícara de açúcar
1 xícara de chocolate em pó
3 ovos
1 xícara de chá de leite
uma colher de sopa generosa de margarina sem sal
1 colher de sobremesa de essência de baunilha

ingredientes para o recheio
1 lata de leite condensado
2 colheres de chocolate em pó
1 colher de sopa generosa de margarina
2 colheres de sopa de leite
1 colher de café de essência de baunilha

cobertura
2 xícaras de açúcar
1 colher de sopa de chocolate
1 colher de sopa de margarina

Modo de preparo:
Misture todos os ingredientes da massa, separando apenas a clara da gema para batê-la em neve.
Bata a massa com batedeira sem a clara em neve e, quando acrescentá-la, misture somente com uma colher, vagarosamente.
Unte a forma com margarina e farinha e coloque a massa.
Dê três batidinhas no fundo (magiquiinha para fazer a massa crescer), coloque no forno e deixe por meia hora. Para saber exatamente o tempo que deve ficar, fique de olho no dourado da cor. E use palitos de dente para checar se a massa está sequinha.

Pronto.

Agora parta para o brigadeirão mole que será o recheio.
Misture tudo na panela, fogo baixo e mexa até virar a delícia cremosa que deve ser. Para saber se está pronto, a massa deve estar soltando da panela.

A cobertura deve ser feita após montar o bolo, já que ela deve ser colocada quente por cima de tudo.
Coloque tudo na panela, fogo baixo, misture até derreter. Cuidado com o açúcar, que pula e pode te queimar.
Assim que derreter, leve ao bolo e derrame tudo. Espalhe rápido, porque o açúcar seca muito rápido e endurece.

Done!

Parece muita coisa, mas é super rápido. Em menos de uma hora você tem um super bolo que parece que leva horas para ficar pronto!

A foto não é do bolo, mas é mais bonita do que as que eu tentei tirar. ;-)

domingo, 18 de março de 2012

Private Party



Luxo, carão - nem tanto assim - e mojito, que nem era meu.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Feliz aniversário, mon petit!

Porque você é doce.
Porque você é querido.
Porque você é lindo.
Porque me trata com carinho, com respeito.
Porque vejo nos seus olhos o amor que sente e o cuidado com que fala comigo.
Porque você é muito mais do que um dia esperei encontrar em alguém.
Porque você é muito mais do que alguém. Você é meu coisinho.

Porque você é meu primeiro pensamento ao amanhecer, meu maior companheiro durante o dia, meu aconchego na hora de dormir.
Porque você está presente mesmo quando está longe, mesmo quando estou dormindo, mesmo quando você quer paz.

Porque você é minha pessoa preferida.
Porque é com você que eu tenho as melhores conversas sempre.
Porque você tira o maior sarro da minha cara e me faz sorrir. Gargalhar.
Porque você não me deixou só quando era mais fácil.
Porque é com você que eu passo as melhores horas, dias, semanas, meses e anos da minha vida.
Porque você foi um grande presente e eu tento retribuir isso todos os dias.
Porque todas as suas ligações são recebidas ainda com aquela afobação que nos acomete no começo. E eu adoro não tê-la perdido.
Porque é uma delícia lembrar de tudo o que a gente já fez, as coisas que nos falamos para fazer carinho, os apelidos, nossas piadas.
Porque nós somos divertidos e nos divertimos sempre.
Porque você mora em mim e eu em você.
Porque, por mais que sejamos dois inteiros, há muito de você em mim e muito de mim em você.

Porque você é meu amor, mon petit chose, coisinho, pequeno, cotolengo, docinho, monstrengo. A sorte do meu amor tranquilo.

Parabéns por hoje, por todos os anos passados e pelos futuros.
Brindes por todo o ano novo e por todas as possibilidades e sonhos que ele te trará.

Eu te amo!

Sua coisinha

sexta-feira, 2 de março de 2012

The whole world inside our bedroom

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Roubei o vermelho e o negro de Stendhal e perdi o sorriso na fuga.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A tristeza é dura. Te bota no canto da sala...sozinha.


Kees van Dongen foi um pintor holandês fauvista - não seguidor impressionista.

Midnight in Paris e a necessidade de digressão

Uma boa crítica ao filme do Woody Allen aqui, de Matheus Pichonelli.

'Não sei se vocês perceberam, mas a humanidade dá cada vez mais sinais de cansaço e preguiça. Não bastassem as tragédias que temos de engolir todos os dias sobre acidentes evitáveis, guerras desnecessárias, bombardeios intencionais e cinismos publicados em Diários Oficiais, ainda temos de conviver, a poucos metros, com as ninharias mais fúteis que o ser humano pode produzir.'

Preparação para o Oscar - últimos passos

Faz muitos meses que assisti ao Midnight in Paris, mas, apesar de não lembrar de muitos detalhes que me impressionaram na ocasião, recordo bem do quanto o filme é divertido, crítico e sensível aos fãs de literatura. Paris fervia de gente produzindo na década de 1920. Hemingway estava lá a escrever Paris é uma festa e pedia ajuda sempre a Gertrude Stein, que não aconselhava somente a ele, mas a todos os conhecidos como geração perdida. Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda também passeavam pelas ruas da cidade. Até Cole Porter, que vivia or lá a escrever suas canções como I Love Paris e muitas outras, toca nas festas que o americano do século XXI é convidado a participar todas as noites, à meia noite. Sonhos, frustração e alguém para dividir caminhadas na chuva que pacificam um coração cheio de desilusões. Gostei do filme por tudo, mas principalmente pela sutileza e pelo encantamento frente à arte.



Não foi o que senti e pensei quando assisti ao A Árvore da Vida. Achei um grande ppt com trilha sonora duvidosa. Sabe aqueles que você recebe por e-mail, com mensagens meio toscas, imagens lindas e uma música de doer a alma de ruim? Pois é. Achei completamente sem propósito a fase adulta do irmão carente e ressentido vivido pelo Sean Penn. E mais sem propósito ainda o encontro na praia, pés descalços, crianças felizes. Sem foco, sem história e sem poesia, ponto que foi clamado por uma gente. Não sei. Achei fraco e mal amarrado.



Não foi o mesmo sentimento quando vi em The Separation. Filme iraniano que nos faz pensar na produção cultural daquele país e no seu contexto político, social, religioso. É tudo tão contrastante e bonito. Não há música, mas tensão, angústia, incerteza. SonhosXMedo ou será SonhosXCompaixão? Boa maneira de pensar não só em mundos além-mar, mas em como lidamos com escolhas por esses lados também.



Extremely Loud and Incredibly Close, traduzido para Tão forte, tão perto, é a história de um garoto de 9 anos que perde o pai no 11 de setembro. Baseado no livro com mesmo nome, o filme apresenta o estrago e como e se é possível viver após uma tragédia desse tamanho. Oskar e seu pai inventavam jogos de investigação juntos e, no meio de uma das expedições, uma reunião de negócios no WTC acaba por levar seu pai para sempre. Alguns não gostaram do menino antipático, prepotente. Quem leu o livro sabe como Oskar lida com as situações, como ele é cheio de regras e como ele sofre em silêncio quando descobre uma chave no armário de seu pai e decide encontrar a fechadura para alongar seus momentos com ele. Nesse caminho, ele conhece um monte de gente, suas histórias, tem a chance de contar a sua, se investigar e encontrar sua mãe do outro lado, tentando mostrar a ele que ela também consegue investigar, criar mistérios e desvendá-los. Triste e sensível.



E Hugo. Ah! Sem dúvida meu preferido. Como já mencionado no post anterior, Hugo também fala sobre a história do cinema, como é importante preservá-la, sobre magia, criação de histórias, tecnologia e tudo mais. Fala sobre invenção, consertos e concertos do mundo. Tudo se passa dentro de uma estação de trem em Paris e Hugo é um menino que perdeu o pai e vive a tentar arrumar um autômato que ele encontrou no museu em que trabalhava. Roteiro bem amarradinho, emociona do começo ao fim por toda a delicadeza de se falar sobre arte, pessoas, amor, carinho, afeto e reconhecimento. A importância da história do cinema dentro do cinema. Eu torço por esse, sem dúvida.



Vi somente o começo do War Horse, do Spielberg e parei porque não estava mais suportando tanto clichê, tudo tão previsível. Aquelas tomadas abertas e a trilha sonora grandiosa. Não tive paciência para continuar a assistir. Deve ser bom para criança. Mas eu achei um pé no saco. Fora esse, ainda faltam The Descendents e The Help. O segundo eu vejo ainda hoje. O George Clooney talvez eu procure numa sala de cinema. Alguém?

Muito sucintamente, são minhas parcas impressões sobre cada filme que vi, ainda mais por falar sobre 3 (ou 5, no caso deste post) de uma vez só, não pensei que perderia a oportunidade de descrever mais, falar mais. Talvez seja isso mesmo que eu desejava quando comecei. Assim, você assiste livre do que eu poderia antecipar (demais) e depois a gente pensa mais juntos sobre todos esses filmes. Há muito a se falar de alguns deles e é preciso mais tempo e mais palavras para discuti-los. Bom(s) filme(s)!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Oscar no Carnaval

Estava calor. Sim. E muito. 'Pular' o carnaval no interior, cidade natal e casa de Paulo, no sertão de São Paulo. SoroHell! Soroheaven! A casa de campo que todo mundo sonha. Aquela que tem um sofá ou cama perto da janela, de onde, deitados, vocês podem ver o céu. Final de tarde razoavelmente quente, mas com vento e talvez uma chuva rápida para refrescar a sessão de cinema que vocês prepararam em casa, na cama, ou que vão enfrentar no novo minishopping pertinho de lá. Aquele em frente à praça, perto do coreto, do lado do restaurante árabe que realmente traz delícias do oriente. Casa de campo cheia de frutas, com samba na outra sala, carinho e as melhores conversas e o por do sol alaranjado visto lá do alto.

E estivemos também em tardes na piscina e compartilhamos a experiência do convescote interiorano, o afamado churrasco. Pão de queijo tarde da noite, sorvetes e tudo devidamente controlado pela eterna vigilância do meu peso.

Fora o amor e o calor, o feriado se concentrou no Oscar. Novamente tomada pela magia do cinema e pela obsessão de assistir a todos os indicados pelo menos para melhor filme até domingo, controlei cada passo cinematográfico para que pudéssemos avançar na enorme (não parece, mas é) lista de 9 concorrentes.

Começamos com The Artist, The Iron Lady e parte do Moneyball. O primeiro me atraiu pela simplicidade, pela nostalgia, pelo trabalho bem-feito de atores que devem se expressar sem palavras. O filme mudo trabalha excessos para compensar a falta dos diálogos. E nunca se sentiu falta deles nessas obras. O Artista tenta mostrar a importância que esses filmes tiveram para a história da sétima arte. Com 10 indicações ao Oscar, parece que a academia esperava que o foco se distanciasse um pouco dos efeitos especiais/tecnologia e se aproximasse mais da história. Ou como disse Scorcese, diretor de outro filme que discorre sobre o mesmo tema e que também concorre nessa categoria, o cinema antes tinha um significado para a sociedade.



The Iron Lady me incomodou um pouco. A Meryl Streep está ótima, como sempre. Espara-se que ela ganhe o pequeno homem dourado. Tem a Glenn maravilhosa no papel da mulher que se trasveste de homem e chega na meia idade sem saber mais ao certo quem é. Também incrível, dizem. Mas a Margaret tá coisa de louco. O problema é que eu fiquei com a impressão que o filme diz 'não fosse o marido rico, uma das mulheres mais importantes do século passado, por mais que a gente a deteste, não chegaria onde chegou.' Sabe? Então. Idosa e com problemas para deixar o marido morto partir rumo à luz, ela recorda seus feitos durante a década que governou a Inglaterra. Talvez seja coisa da minha cabeça, mas é bom prestar atenção. As inserções do marido querido, por mais românticas em alguns casos, pareceram-me pouco inocentes. Claro que, quando a dama entrou para a política, ainda mais sendo filha de comerciante, não tivesse casado com o moço rico e bem formado academicamente, teria mais dificuldade para entrar nesse mundo fechado. Mas...não sei se gostei do foco.



Moneyball é um filme basicamente sobre baseball. Brad Pitt, indicado a melhor ator, vive Billy Beane, gerente de um time sem muito dinheiro que mudou a forma de ver o esporte a partir de técnicas de probabilidade e ranking. É melhor você assistir para entender. Mas o lance é o seguinte. O baseball é do mais injustos esportes americanos. Não há teto salarial e quem pagar mais leva o melhor jogador. Você vai dizer que o mundo é assim, mas o Football e mesmo o Basketball não vivem dessa maneira. Há um sistema que garante que todos os times tenham a mesma chance de contratar astros e rechear seu grupo com os melhores. No basebaal, essas regras não existem. Com um time pobrinho perdendo astros, Billy encontra um economista que o ajuda a criar uma outra maneira de procurar 'estrelas'. E o filme é sobre essa incrível descoberta. Bonito. Interessante. Se você tiver interesse sobre baseball ou se quiser ver o Brad Pitt bonitão e mau humorado. Eu tive por meio filme. Quem sabe ainda dou mais uma chance à outra metade.



Ainda fiquei com The Separation, Hugo e Extremely Loud and Incredibly Close, temas do próximo post. E Midnight in Paris já tinha sido muito bem aproveitado numa sala de cinema, assim como The Tree of Life, não tão bem aproveitado. Ou melhor dizendo, horas não tão bem aproveitadas.

Continuo em texto separado para não cansar seus olhos, caro leitor. Ainda mais com o fim do carnaval, o início oficial do ano, das aulas, do trabalho, dos estudos e das resoluções de ano novo (lembre-se que são somente duas).

Voltar de Sorocaba na quarta de cinzas, deixar a casa de campo, o coisinho e o cinema improvisado no quarto já tem gosto de saudade. Mas também é uma ótima maneira de começar um ano olhando para o céu, procurando mais desse por do sol alaranjado e esperar a chuva para refrescar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Delicious Idea

Carnaval na Casa Verde

Vem menina linda
Vem pro samba, vem sambar (BIS)
Me faz um chamego que o céu pode esperar

Domingo chuvoso em São Paulo e a promessa de um churrasco de aniversário meio molhado. Ao virar a esquina da Bras Leme para adentrar a rua na qual passaríamos a tarde (e um bom pedaço da noite), um bloco com um generoso grupo de foliões (palavra que eu abomino, mas sempre quis usar. Chegou o momento.) descia a rua, pelo meio da rua, e convidava o povo que assistia, postado às suas margens, a pular para dentro e sair atrás do carro de som, com a pequena bateria a se chacoalhar até não nos foi informado onde.


Surge em Maio de setenta e cinco
A saga de um samba pé no chão
Nasce lá no morro e desce a serra
Hoje fonte de inspiração
Toda Zona Norte faz folia
E vem desfilar no carnaval
Meu querido bloco faz a festa (BIS)
Em tom dobrado vou cantar em alto astral


A chuva um pouco mais calma, um celular tirador de fotos a postos e corpinho começando a se balançar com a agitação, não tivemos outra opção senão entrar debaixo do sovaco da cobra e começar o Carnaval uma semana antes de maneira bastante paulistana.



Engraçado como esse impulso carnavalesco nunca apareceu enquanto morava em Salvador (aliás, cheguei na cidade na semana do carnaval) e nem mesmo pela terra da garoa até que, alguns carnavais atrás, fui introduzia à arte de sarapendiar pelas ruas da saudosa e afamada São Luís do Paraitinga, que sofreu com chuvas anos passados, se recupera bem e já recebeu alta para curtir a festa com um número controlado e reduzido de visitantes.

Foi lá que eu vi, pela primeira vez na história desse país, um carnaval interessante e realmente divertido, longe do axé e de todas essas porcarias que nos obrigam a ouvir nessa semana que normalmente cai em fevereiro. Foi lá que eu entendi o quanto era gostoso o verão, o pula-pula e a bebedeira que acabavam em uma semana de cama e muitas risadas.

Mas, depois que a cidade sofreu esse acidente grave, curti esse feriado de formas variadas - praia, interior e não me lembro bem mais o quê. Por esses anos todos, nenhuma marchinha tinha me levado a me balançar, a não ser em lembranças. Em nenhum momento tive vontade de sair atrás do trio elétrico. Domingo me deu vontade de pegar uma garrafinha de pinga com mel, botar os óculos escuros e pular até o próximo bloco aprendendo a música de cada um deles.

Veja só:


E Paulo sem se aguentar, foi indo embora com o bloco:


Esse ano, os planos se concentram no Oscar. Mas esse assunto é tema de outro post, menos pulativo. Mas, quem sabe, aparece alguma coisa similar novamente e a gente se joga pelas ruas a dançar!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Toma lá procêis

Dois homens laçavam um banquinho de bar no meio da rua, no meio da cidade.

Saída estratégica de uma festa de família para comprar cigarros e um encontro inusitado nas ruas interioranas.

- O segredo é manter o braço esticado, - sugeria Juscelino.
- Falta os chifre. Não é para laçar o boi inteiro, só os chifre. Pega lá uns dois prego para nóis colocar no banco e poder praticar. Só os chifre. Pega lá, Cardoso. E mais uma.
- Me ensina a laçar?

Em poucos minutos, ele fora levado para o meio da rua, laço em mãos e vontade de conhecer gente e encantamento brilhando pelos seus olhos atentos.

Os poucos homens que não se embrenhavam na aventura de ensinar o menino a quem chamavam Barba a arte do mundo boiadeiro ciceroneavam a moça que observava com sorrisos por todo o corpo.

- Cavalo acaba com casamento. - Ela sorria em meio a tantas histórias. - Aquela moça de blusa vermelha expulsou o marido de casa. Caminhoneiro, ia com a gente para os rodeios e competições. Tinha um cavalo também. Vendeu tudo para não perder a mulher.

- Minha mulher tem alergia a cavalo. Dá para acreditar?
- Mundo irônico, né, João?
- Quê? É maldade mesmo com a gente. Eu chego em casa agora, assim, tiro toda a roupa na lavanderia...a gente tem uma casona bonita...e subo só de cueca. Vai que eu mato ela, né? - e gargalhava enquanto enchia mais os copos de cerveja.

Enquanto se aliviava no banheiro de todo o calor que consumia todo o esforço que despendeu para arrumar o cabelo de manhã, eles aprontavam uma surpresa lá fora. Na calçada, dois pedaços de pele de carneiro. Como se fossem as visitas mais importantes ou esperadas dos últimos tempos, além das promessas de jantares na pequena garagem que abrigava o bar, ofereciam o presente que os faria perceber que dar atenção às pessoas parece coisa de outro mundo.

Abraços que talvez poucos dos próximos amigos têm a oferecer, os estranhos novos companheiros agradavam e cuidavam do casal que passou e parou para ver quem eles eram. Coisa comum. Coisa natural. Ou nem tanto assim. Ver o outro é se reconhecer, dar chance de se conhecer. E perdemos centenas de oportunidades como essa todos os dias.

Medo ou falta de curiosidade?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mi Buenos Aires Querido


E já faz mais de um mês que voltamos (quando comecei a escrever esse post ainda não tinha completado 30 dias do retorno) e eu fico anotando mais e mais coisas no caderninho lindo que ganhei do Paulo no show do Kevin Johansen com 'fundo' de Liniers. Esse aí em cima que você pode ver com o desenho do Macanudo, um dos seus personagens mais conhecidos (e queridos).

Depois de um fim de ano turbulento, com direito a cambas de dinheiro e muito mais, cheguei na semana do Natal com fome de distância não só dos problemas mas da cidade, fisicamente. Atravessar fronteiras sempre nos pareceu uma boa ideia e, com passagem já comprada, resolvemos não desistir por motivos tão supérfluos (como se dinheiro pudesse ser considerado item de menor importância) e partimos para o desconhecido.

Eu devia ter escrito aqui durante a viagem, seria muito legal e tudo. Mas aí pensei naquela história da internet tirar nosso gostinho de contar o que visitamos, o que vimos e o que achamos, antecipando sensações e opiniões antes mesmo de nosso retorno. Usei o caderninho lindinho e, a cada cerveja, garrafa de vinho ou parada, anotava mais algumas coisas, ou checava alguma coisa no dicionário español-português.

Aliás, isso nunca foi comentado pelos meus amigos, os que não têm o espanhol muito fluente (ou nada fluente). Engraçado ninguém nunca ter mencionado o fato dos porteños falarem super rápido ou usarem expressões engraçadíssimas ou mesmo apresentarem um jeitão italiano meio contrariado de dizer que algo é bom e ruim ao mesmo tempo. Blasé.

Durante todo o tempo fiquei imaginando com devia ter sido uma aventura linguística para eles, assim como estava sendo para mim,que nunca quis aprender nada em espanhol e voltei com alguns livros para me forçar e um balde de músicas para encantar. É absolutamente um horror não conseguir se comunicar, conhecer pessoas ou fazer coisas básicas. Se Paulo não estivesse comigo usando toda sua ginga hermana, não sei como teria me virado. Acabava apelando para o inglês. E foi assim que conheci uma suíça e gastei todo o vocabulário que não conseguia usar pelo resto do passeio.

Falando ainda sobre reportar uma viagem, muita coisa não foi dita e quase nada foi destrinchado. Só chegando lá é que descobríamos coisas simples que nenhum amigo ou blog mencionou. Sobre elas, vou comentando ao longo de cada texto sobre cada parte da viagem. Assim, quando você for (se já não tiver ido, como todo mundo) fica com mais dicas e facilidades do que nós. Mesmo assim, achará ainda muito mais detalhes que esquecemos, ainda mais com esse delay de mais de um mês em contar como foi.

Antes de começar uma série sobre Buenos Aires, preciso dizer que as pessoas foram extremamente atenciosas, menos um senhorzinho que perguntou se a gente não sabia ler. A comida sempre incrível, os cafés charmosos, mas os banheiros mostravam a decadência de uma capital que passa por uma crise há tempos.

A viagem começa aqui e vou tentar lembrar das pequenas coisas deliciosas que foram fazendo uma das semanas mais relaxantes, divertidas e apaixonantes dos últimos tempos.

Professora - Inglês e Português



Queridos,

como muitos acompanharam nos últimos meses, tenho me preparado para, enfim, dedicar-me 100% ao que adoro fazer: trabalhar com português e inglês em aulas, estudos, análises e o que mais aparecer em traduções, revisões.

Professora recém-contratada pelo Yázigi e com alguns alunos particulares, estou disponível para aulas de inglês (todos os níveis) e português (inclusive para concursos).

O começo do ano é uma ótima época para fazer planos e se dedicar aos estudos que trarão melhores condições para seu crescimento profissional, independência em viagens ou simplesmente oferecer a possibilidade de abrir um livro interessante e ler na língua em que ele foi escrito.

Material do curso de inglês produzido por mim, sem custo extra para o aluno. Pesquisa e referência bibliográfica: Oxford Practice Grammar, Grammar in Use (Cambridge University), além de exercícios para leitura, conversação e audição produzidos com base em pesquisas na internet e na minha experiência como professora em outras escolas, aulas in company e particulares. Curso especial para realizar os exames de certificados como o TOEFL, IELTS, CAE e outros. Foco em realização de exercícios e desenvolvimento das habilidades exigidas.

Curso de português elaborado com base nas questões típicas das provas e focado na compreensão lógica da língua. Material utilizado: nova Gramática do Português Contemporâneo (Celso Cunha; Luis F. Lindley Cintra), Comunicação em Prosa Moderna (Othon M. Garcia), Manual de redação de Órgãos Públicos, Sintaxe: explorando a estrutura da sentença ( E. V Negrão, A. Scher e E. Viotii).

Espalhem a notícia para os amigos e let's get it started!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fevereiro

Sofro em silêncio com a esperança de que isso chegue ao fim.

Como estrelas na terra



Despretensiosamente, assisti ao filme que deu título ao post - Como estrelas na terra, do qual não encontrei nenhum trailer que fosse fiel e digno. Não é um lançamento, mas não tinha ouvido falar dele quando foi lançado em 2007 e nem quando participou do Festival de Filme do Rio em 2009.

Não sabia que era sobre educação, sobre lecionar, sobre saber que cada criança é diferente da outra, cada uma tem um ritmo e que os talentos devem ser incentivados para serem trabalhados, valorizados.

A produção é bem Bollywoodiana, cheia de cenas musicais, algumas tomadas bem cafonas e, até metade do filme, não se sabe se é algo como Quem quer ser um milionário? ou se vai enveredar pelo caminho dos Caçadores de Pipas. Daí o filme te surpreende, mesmo com tudo isso, e mostra uma trama sensacional, dessas emocionantes, das que fazem chorar com histórias sobre pessoas de verdade.

Eu já tive alguns alunos com dislexia. Duas delas, recentes, já tratadas, vacinadas e sem possibilidade de contágio por toque, mas uma outra, mais antiga - talvez uns 5 anos atrás - sofria algo bem próximo ao que Ishaan, o menino sorridente aí de cima sofre no filme. Dificuldade de ler e escrever por não reconhecer os desenhos das letras, os códigos, e relacioná-los com o alfabeto fonético.

Por alguns meses, tempo que nossos encontros duraram, eu me contorcia em pesquisas e exercícios elaborados pela minha cabeça para ajudá-la a não comer mais letras e palavras curtas. O bacana do filme não é só mostrar que isso não é problema de falta de inteligência, visto que o professor de artes (sempre eles, né? a sensibilidade ajuda a perceber que sintomas provêm de um problema. e é isso que deve ser questionado pelo professor, não?) cita inúmeros gênios que lutaram contra ela, mas você também aprende alguns exercícios práticos para lidar com a dislexia de diversas maneiras.



Além de ser um ótimo filme para inspirar quem está começando (e mesmo para quem já tem muita experiência, já que é sempre bom ver nossa profissão pelos olhos dos outros e perceber como ela pode ser inspiradora), é uma ótima oportunidade de refletir sobre a educação, no seu formato e como tudo já é tão ultrapassado, arcaico e focado num utilitarismo que nem é mais o do século vigente.

O sistema de ensino, modelo que foi pensado pós-revolução industrial e que refletia e construía profissionais que deveriam lidar com o mundo que estava vendo a luz do novo mundo não respondeu às tantas mudanças nos últimos séculos, inclusive em pesquisas que fazem crer que a estrutura hierárquica e a disposição de salas em uma escola, de alunos numa sala de aula está toda errada, distanciando cada vez mais o aluno do conhecimento. Com isso na cabeça, conheci essa semana o professor Khan.

Khan largou uma carreira corporativa de sucesso no Vale do Silício para dedicar suas economias à construção e alimentação de um site dedicado a ensinar com qualidade e alto nível tudo o que for possível. Eu ainda não olhei direito o www.khanacademy.org e assim que o fizer volto aqui para contar. Enquanto isso, veja você mesmo e aproveite e assista ao filme bonitinho que está disponível até no youtube.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quem ensinou que professor não trabalha?



Aluno - Você tá procurando emprego? Vi umas vagas...
Eu - Não, eu já tenho emprego. Sou professora.
Aluno - Mas você não quer trabalhar, só dar aulas, então?
Eu - Isso. SÓ dar aulas já tá bom. Gosto de trabalhar não.

Entre rir e chorar, escolhi a primeira opção.
Pior foi quando ouvi isso de um amigo. Entre rir e chorar, queria dar na cara dele.

Sem perceber, e pensando fazer o exato oposto, as pessoas ligam trabalho a algo penoso, podante, desgastante, frustraste e emburrecedor. Assim, como trabalhar com educação, apesar de suas dificuldades, é engrandecedor, prazeroso e gratificante, não há mesmo como ligar uma palavra tão nobre a uma tão 'usada'.

Acima, imagem de Miau e Faísca, alunos discretos e super blasés que deitam em algum lugar próximo de onde fica a mesa de estudos e 'assistem' à aula toda.